domingo, 21 de agosto de 2016

Estamos a Apenas Uma Morte



Assim que entrei na sala da casa, indicaram-me um quarto à esquerda, pequeno e bem cuidado. Enquanto me dirigia àquele cômodo, mulheres diziam para a que jazia ali na cama: “O pastor está aqui; veio ver você”. De longe, pela porta aberta, eu já podia ver a expectativa daquela anciã de 93 anos. Quando as assistentes me explicaram que os ossos despedaçados da bacia da dona Isabel[1] não se recompõem mais e que, pela expectativa médica, ela nunca mais vai andar, exclamei em meus pensamentos: “Meu Deus! Isso é vida?”
Pioneira da fé em seu bairro, depois de passar décadas subindo e descendo por aquele morro íngreme para ajudar tantas pessoas, agora não pode simplesmente atravessar a rua para ir à forte congregação que ajudou a estabelecer. Que ironia! Aqueles ossos que se moveram tanto para o bem de outros agora ferroavam por dentro de quem sempre se ofereceu como um voluntário sacrifício de amor. Ela segurou minha mão com força e me pediu: “Pastor, não quero morrer, porque eu não quero o salário do pecado.”[2] Olhar significativamente pensativo.
Não fiz rodeios. Junto com ela, encarei o tema do fim desta vida. Expliquei-lhe que apesar de a morte ser o salário do pecado para a humanidade, no caso dela, morrer não seria um castigo por estar carregando alguma culpa: “A senhora não entregou o seu coração totalmente a Jesus? Então a senhora está totalmente salva nEle!” Na sequência, seu olhar me perguntava: “Mas então, por que vou morrer?” “Você não vai morrer. Vai apenas fechar os olhos mirando este teto e voltar a abri-los vendo o rosto de Jesus e vivendo eternamente com Ele”, animei-lhe.[3] Suspiro profundo! Em paz, ela sorriu.
Mas eu saí daquela visita pastoral intensamente reflexivo: “Meu Deus, o que estou fazendo da minha vida?” Daqui dez anos, espero ter ajudado minha esposa a concluir sua segunda faculdade, trocado de carro, enviado meu filho ao internato, comprado minha casa de campo e terminado o doutorado. O que você estará fazendo em 2021? Quase todos nós temos algo assim em mente: em cinco anos, estarei casado, aposentado, formado, morando no exterior, terei minha carteira de motorista, falarei inglês fluente, etc.
E a dona Isabel?
Ela não tem mais bens a adquirir, formações a concluir, status a conquistar, mudanças a fazer, nem mesmo vida de pecado a experimentar. Só lhe resta morrer? Se, da perspectiva dela, a próxima coisa em sua vida é estar com Jesus, quem é que tem maior expectativa de vida: nós que ainda temos décadas à frente ou ela que já está de tempo emprestado?[4] Meu Deus! O que é estar vivo? “Um pequeno sono apenas e acordamos eternamente.”[5] Quanto mais perto do fim, mais perto de reviver, porque, na cronologia pessoal de cada um, “nosso último dia é nosso primeiro dia… o dia de nossa morte é o primeiro dia de nossa vida eterna.”[6]
Entende o que é reavivar-se? É permitir-se morrer![7] Se você estiver pronto a não se apegar a nada nesta vida, nem à própria vida, então você está pronto para ser um reavivado. Ainda quero celebrar muitos aniversários da dona Isabel, mas me alegro em imaginar o quanto ela deve estar perto daquele dia.[8] É como sementes prontas para serem lançadas ao solo[9], que devemos estar a apenas uma morte da volta de Jesus. Esta é a transição desta vida para a vida eterna que você pode permitir acontecer em qualquer momento da sua vida.[10] Qual vida você está vivendo atualmente: a vida mortal deste mundo ou a vida eterna em Cristo Jesus? Reavive-se!
Um Abraço,
Pr. Valdeci Jr.
FONTE: http://noticias.adventistas.org/pt/coluna/valdeci-junior/estamos-apenas-uma-morte/

[1] Pseudônimo criado com o objetivo de proteger a imagem dessa pessoa real a quem fiz o atendimento pastoral.
[2] Referindo-se a Romanos 6:23.
[3] “O cristão pode fechar os olhos no sono da morte durante cem anos talvez; entretanto, para ele parecerá o mesmo instante quando abrir os olhos e ver Jesus. Em poucos momentos poderá olhar o rosto do Salvador” (George Vandeman: tele-evangelista internacional no programa Está Escrito, de 1956 a 1991).
[4] Salmo 90:10.
[5] John Donne: decano da Catedral de São Paulo, diocese anglicana de Londres, de 1621 a 1631.
[6] Idem.
[7] Mateus 10: 32-33; 16:25-26; Marcos 8:35; Atos 20:24; Romanos 14:8; Gálatas 2:20.
[8] Isaías 25:9.
[9] Apocalipse 14:13.
[10] João 3:16.

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