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terça-feira, 19 de maio de 2015

O Último Degrau da Liderança

No livro o último degrau da liderança, C. Gene Wilkes inverte os papéis da tendência da liderança, chegando a inverter a própria pirâmide hierárquica com a qual estamos acostumados a lidar nas organizações da nossa sociedade. Os modelos de organogramas organizacionais geralmente têm um padrão de hierarquia funcional óbvio. Mas não sob a ótica de Wilkes, quando busca olhar como seria a construção do movimento de missão de Cristo.

Estamos acostumados a ir numa escola onde o menor é o aluno e o maior é o diretor. Estamos acostumados a frequentar clubes onde o mais importante é o presidente. Estamos acostumados a olhar para a grande maioria que está no chão da fábrica como os menos importantes, e ver como cada um que está numa liderança “acima” como sendo mais importante, até chegar ao último grau da liderança na chefia, diretoria ou presidência da companhia. Nesse prisma, se o operário passa a ser líder de um pequeno grupo de pessoas dentro da seção, ele subiu o degrau. Mas ele pode subir um próximo degrau quando se tornar o encarregado da seção. E talvez um terceiro degrau possa ser galgado ao este encarregado se tornar supervisor dos encarregados, depois gerente de setor, um dos administradores até chegar ao último degrau da liderança, que seria o presidente.

Todos nós sabemos que Jesus foi um líder. E se foi líder, teve diferentes graus de liderados. Por tanto, como se desenharia o Seu organograma? Como Cristo galgou os diferentes degraus até chegar ao ponto mais alto da liderança? Indo direto ao ponto, Jesus passou sim por vários estágios, até chegar ao último degrau da liderança, que foi sentar-se na cadeira de... Errado! Chegar ao último degrau da liderança foi tirar o paletó, amarrar uma toalha na cintura, abaixar-se diante de seus liderados, tirar-lhes os calçados e lavar-lhes os pés. No cenáculo, instituindo a cerimônia de lava-pés, Jesus atuava na cena que ficaria gravada para sempre como a demonstração da maior execução do mais alto posto da liderança na correta ótica do cristianismo.

Então, a teoria é clara e simples: humildade e serviço. Como Jesus foi líder? Sendo servo. Não um servo desavisado. Um servo intencional. Não com intenções motivadas por razões que não seriam nobres. Mas com pressupostos corretos. Falar sobre isso é muito fácil, e parece até óbvio dentro do meio cristão. Entretanto, ser, na prática, líder-servo, conseguir, realmente, liderar através da humildade, é muito difícil. E é aí que entra a utilidade do livro de Wilkes. Ele procura nos ensinar o “como”.

Neste chamado para a liderança servil que Wilkes vê no exemplo de Cristo, esse autor leva o leitor a compreender sobre como liderar servindo, através de sete princípios, os quais ele nomeia através dos imperativos: a) submeta seu coração; b) seja primeiro um seguidor; c) descubra a grandeza no serviço; d) corra riscos; e) pegue a toalha; f) compartilhe responsabilidades; e g) forme uma equipe. Nisto, Wilkes ensina sobre como ser humilde, como aprender a esperar, como ser um seguidor, como ser equilibrado na busca pela grandeza, como correr riscos, como liderar na condição de servo, como compartilhar autoridades, como preparar outros para servir e como um líder servo pode formar equipes de trabalho.

O livro é muito prático. Mas mesmo sua visão filosófica é, não somente impactante, bem como influenciadora. Na parte final há uma seção de ideias contemporâneas sobre a liderança servil, a qual eu confesso que nunca usei. Mas outra coisa eu também confesso. Desde que li este livro, há quinze anos, nunca mais o esqueci, e ele nunca mais deixou de influenciar os meus atos. Depois deste, já li centenas de outros livros dos quais esqueci. Entretanto, “O Último Degrau da Liderança” continuou acompanhando-me por todos estes anos porque quebrou meus paradigmas, mudou meus pressupostos e me deu uma nova cosmovisão. Nova não somente no sentido da filosofia que eu tinha anteriormente, mas também no sentido de que, a cada interação como o mundo que me cerca ou com o raio de influência que está sob mim, isso é novo para os tais. Procuro liderar servindo, e devo a esse modelo de Jesus à alegria que já tive até aqui na minha carreira.

Eu não recomendo ao leitor a leitura deste livro apenas. Recomendo veementemente, além da leitura, o câmbio dos das pressuposições e a operacionalização prática deste modus-operandi totalmente liminar, mas seguramente eficiente como um diferencial superior sobre todos os demais mesmismos convencionais de liderança. Os dados bibliográficos deste livro são: WILKES, C. Gene. O Último Degrau da Liderança: descobrindo os segredos da liderança de Jesus. São Paulo - SP: Mundo Cristão, 2000. 271 páginas.

Que Deus abençoe tanto a você quanto a tudo que está sob o seu raio de influência,


Pr. Valdeci Júnior.

sábado, 19 de julho de 2014

ADORAÇÃO ADVENTISTA: A Música Em Espírito e em Verdade

Enquanto escrevo este texto sou elevado para mais perto do Céu através de David Phelps, ouvindo o que há de melhor dele na web. Cada música, mais inspiradora que a outra. É como Ernest Castillo escreve no prólogo de En Espíritu y en Verdad, sobre “un canto nuevo”, que vem a inspirar. Quando vamos atrás da prática da música contemporânea estamos simplesmente sendo obedientes à ordem bíblica: “Cante um cântico novo a Jeová, toda a terra” (Salmo 96:1). Aí está a inovação global do louvor.

Por isso, Jesus quebra a linha de raciocínio da mulher samaritana que via separatismo entre povos por causa da exaltação de determinados gostos preferenciais litúrgicos como tendo algo de bom “do lado de cá” e formas erradas “do lado de lá”. “Muitos têm deixado de crer na proposta que os seguidores de Jesus oferecem, porque em vez de encontrar a água viva que sacia a sede da alma, encontram apenas um conjunto de ritos, formas e cerimônias externas que não satisfazem”, escreve Adriana Perera no primeiro capítulo deste abençoadíssimo livro, ao comentar a declaração de Ellen G. White: “A religião não tem que se limitar a formas ou cerimônias externas”. E neste capítulo, apoiada em White, Perera deixa clara a advertência de que não existe essa de que os adventistas do sétimo dia sejam de Deus e demais cristãos não o seriam, só porque adoram de maneiras diferentes. Por isso, o louvor deve ser o caminho transcultural que deve levar todos a Cristo.

Esta universalização do louvor deve vir no respeito às diferenças. Unidade nas diversidades, tanto geográficas quanto históricas. É então que Lilianne Doukhan conduz o leitor da visão global presente para a análise todo-abrangente cronológica. No segundo capítulo deste livro (publicado pela editora oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia em seu país de origem há menos de um ano), ela apresenta “a música da igreja através da história”. Vale a pena destacar que na época dos pais da igreja “segundo documentos desse tempo, os hinos... provinham da música secular. Esta técnica foi usada repetidamente pelos reformadores ao longo da história, e seu uso permitia que a congregação pudesse cantar sem necessidade de aprender a toada, pois já estavam familiarizados com ela”.

Portanto, em seus primórdios a igreja não tinha essas discussões e preconceitos musicais como nos moldes atuais. O catolicismo enfiou isso no cristianismo. Foi no “Concílio de Laodícéia (c. 363-364 d.C.)” que “decidiram proibir tudo, incluindo o cântico congregacional na igreja”. E assim a Igreja privava o povo não somente de aprender através do que poderiam obter da leitura bíblica, mas também de louvar através do que poderiam expressar através da música.

Até que veio a Reforma. “Lutero... deu aos crentes a oportunidade de se unirem em cântico congregacional”.  E então, “as boas-novas eram comunicadas mediante o uso de toadas populares e conhecidas. Existiam distintos gêneros usados para este propósito”: Volkslied (canto popular), Volksballad (a balada popular), Hoflied (o canto da corte) e o Gessellschaftslied (o canto social). “Lutero usava melodias provenientes de todos estes tipos de canções para espalhar o evangelho”. Ele era missional. “Usar melodias emprestadas era uma prática artística comum na época de Lutero, mas também era uma forma de expressar as crenças de Lutero acerca da função da Igreja no mundo. Para Lutero, toda música era espiritual, ou seja, útil para a teologia. Se a igreja quisesse alcançar o mundo, necessitava ser capaz de se comunicar na linguagem do mundo”.

Sem alienar-se, o pai da Reforma protestante era contextual. “Lutero também usou os ritmos vivos característicos do seu tempo”. E isto espalhou-se na contrafacta. Na Idade Média, “os grandes compositores de motetos e missas, com frequência usaram canções populares ou seculares conhecidas como base para suas obras religiosas”. E assim, as “melodias populares eram escolhidas pelos compositores por serem doces e porque as pessoas estavam familiarizadas com elas”. Ainda mais, “as toadas também eram usadas para substituir letras pecaminosas por letras religiosas, para que assim as pessoas se esquecessem das canções imorais e se lembrassem das novas”.

Hoje, muito tempo depois, alguns perguntam sobre a canção Castelo Forte. Em “sua versão rítmica original” era “cheia de dinâmica e ritmo enérgico”. Por quê? Porque “Lutero desfrutava de cada aspecto da vida e de suas alegrias. Por esta razão, as melodias de Lutero, tanto as originais como as emprestadas, se caracterizavam por seus ritmos vivos e pela sincopa”. E prosseguindo no tempo, “uma análise da música do século XVII mostra que persiste o elemento rítmico na maioria das composições sacras”. E “quatro séculos depois da Reforma, os músicos continuaram compondo hinos com base nos modelos populares seculares, com novos textos”. Mesmo no Metodismo (que, em muitos aspectos, concebeu o Adventismo), “Wesley tomou toadas emprestadas dos corais luteranos, da música clássica e das árias de ópera”. Como dizia William Booth, “não me importa se a chamas de secular ou de sacra”.  E assim sempre foi. “Nos movimentos de reavivamento do século XIX”, usavam “uma linguagem sensível, melodias de tipo folclórico, fáceis de ensinar e contagiosas”. E “durante o século dezenove”, época dos nossos pioneiros, “a adoração e a música estavam agora nas mãos das pessoas comuns, que juntaram melodias do repertório folclórico e da música popular”. Por que hoje deveria ser diferente?

O que Ellen White diria sobre isso tudo? É aí que entra o rico artigo de alguém que é teólogo e musicólogo e, ao mesmo tempo, profundo amante e defensor da IASD. E neste terceiro capítulo do livro En Espíritu y en Verdad, Elena G. de White y la Música, o autor coloca que “quando Ellen White nasceu... as reuniões campestres... se caracterizavam pelo entusiasmo e a espontaneidade, onde os gritos de ‘glória’ e ‘aleluia’ e os hinos cantados com fervor, a capela ou ao som de órgão, reforçavam os fortes chamados dos pregadores à conversão e à santidade”. E mais especificamente quanto à música, “a hinódia adventista convertia o culto em um momento de grande entusiasmo e fervor, marcado por expressões animadas como ‘glória’ e ‘aleluias’. E Tiago White gostava de cantar tais hinos de maneira contagiosa, marcando o ritmo batendo na Bíblia”. O capítulo tem ainda um exercício hermenêutico quanto à famosa e polêmica citação de Ellen White sobre ao contexto da ‘carne santa’ em Indiana, na projeção futura quanto aos ‘gritos, com danças, músicas e tambores’, trazendo o leitor a uma compreensão correta do texto.

E a utilidade de tal capítulo se compreende na análise da posição de EGW quanto à música sacra (congregacional e devocional) e também à música em geral, na aplicação para nossos dias. “Neste momento prometedor para a música adventista, faria bem a nós, músicos e líderes, recordar nossa história, não deixando de lado a herança preciosa dos hinos tradicionais, e incorporando novas composições que... ajudem a evitar os excessos causados pelo emocionalismo na adoração”. O melhor de tudo deste capítulo é a vasta bibliografia que ele apresenta.

O que você acha do Hinário Adventista do Sétimo Dia? Temos a resposta de Miguel A. Valdivia quanto a isso em relação ao hinário em espanhol. Talvez o leitor brasileiro possa pensar sobre o que isso teria a ver com ele. A questão é que os princípios seguidos pela igreja são os mesmos. E os aproveitamentos que o adorador adventista pode ter do hinário de sua igreja também se assimilam nas mais diferentes culturas, línguas e lugares do mundo. O que o autor coloca neste artigo é sobre a postura do adventista quanto ao hinário de sua igreja nas implicações para a vida diária cristã, para a comunhão coletiva da comunidade de crentes e para o cumprimento da missão, na consciência de que “a igreja vai incorporando mudanças em sua vida litúrgica”, porque as doxologias e formas de adoração, com o tempo, evoluem.

E é aí que entra Homero Salazar, falando sobre o “ministério da música na igreja” e a importância do mesmo. Assim, ele apresenta a música na igreja primitiva e compara com a música na igreja da atualidade. Como deve ser o louvor congregacional? Os ensinos de Salazar são práticos, claros e diretos ao ponto. Por exemplo: você acha que qualquer hino serve para ser cantado em qualquer ocasião? Ele explica sobre os bons usos e os usos equivocados  do hinário. Ele mostra como os cânticos poderiam (e muitas vezes acontece) ser usados de forma errada. Para isso, abre uma explicação muito boa sobre as diferentes naturezas dos cânticos de adoração, cânticos de louvor, cânticos de edificação, cânticos de motivação missionária, cânticos para evangelização, cânticos para ocasiões especiais e cânticos para fortalecer os valores morais. E ao concluir o capítulo falando da bênção dos cultos múltiplos e compartilhando sua experiência pessoal, o autor termina refletindo no desafio que é para a IASD o lidar com os conflitos e transições de gerações no sentido de manter a tocha brilhando até que Cristo venha.

"Existem os Instrumentos Satânicos?" Este é o capítulo seis de “En Espíritu y en Verdad”, escrito por Hugo Chinchay, que tem tanto formações teológicas quanto musicais e administrativas nas melhores universidades adventistas de sua (nossa) cultura religiosa. “Ele tem dirigido coros, grupos musicais e cantado em quartetos e grupos por mais de 25 anos”, sempre sendo um obreiro de destaque no trabalho integral em servir à IASD. Para responder à pergunta, o autor faz uma profunda análise dos “instrumentos musicais na Bíblia”, e uma dedicada e didática exegese de 2Crônicas 29, quanto aos “Instrumentos do templo” e as orientações do Senhor. Se ele trata da percussão? Exatamente isso, pois o zelo de Chinchay pela igreja é muito grande. Por isso, apoiado em “Ellen White e os instrumentos musicais”, esse pastor especialista em música reflete sobre o delicado assunto da “associação entre instrumentos e música” e termina com uma lista prática e instrutiva de “pautas para a introdução de novos instrumentos”, exortando que, “finalmente, nunca nos esqueçamos de que a voz da congregação é mais importante que qualquer instrumento musical”.

E acima disso, está a importância da mensagem que é comunicada, direta ou indiretamente pela adoração. Por exemplos. Você sabe dar uma resposta adventista quanto ao que vem a ser uma “mensagem subliminar”? Já ouviu falar de James Vicary e de seu pioneirismo nas mensagens subliminares da publicidade? Você sabe o que a Ciência diz sobre as mensagens subliminares? Será que pode haver, ou não, uma mensagem subliminar em uma canção que nos introduza a uma conduta inapropriada? São estas as respostas que Josué Cortés, formado em Ciências e doutorado em Medicina, dá no sétimo capítulo do livro editado por Perera. Alguém já lhe chamou pra ouvir uma música tocada ao revés e descobrir que mensagem há no “pano de fundo” daquela gravação? Como se grava isso? É intencional ou acidental? Ou seria espiritual do mal? É perigoso? Isto existe mesmo? Existe isso em músicas religiosas também? Só para o mal, ou para o bem também? Que efeitos tais gravações podem ter sobre a nossa vida? Vou deixar você estudar profundamente esse assunto lendo este texto deste doutor no seu próprio livro, pois como ele mesmo diz: “Tenhamos a atitude ‘bereana’ de investigação. Amemos sempre a verdade e suspeitemos sempre do sensacionalismo espiritual”.

O ponto alto do livro é o capítulo oito, que trata de falar sobre “A Música e a Adoração”. Afinal, este é o tema da obra. André Reis é um verdadeiro ministro de música adventista, que tem escrito em periódicos oficiais da igreja e palestrado oficialmente por Uniões e Universidades adventistas que o convidam para ensinar exatamente sobre o tema em questão. E realmente precisamos de instrução, porque “se bem que Deus tenha criado a música, não deu instruções específicas para compor música estritamente ‘divina’. O estilo da música não é uma preocupação tratada nas Escrituras Sagradas”. E ao analisar o desenvolvimento da liturgia ao longo da história, Reis coloca que “este silêncio da Bíblia não é acidental”. Por quê? Você vai descobrir lendo o livro. Mas diante de tantos desafios, ele aconselha que “devido a tantas linhas de pensamento que prevalecem na igreja adventista sobre o papel da música no culto, a melhor estratégia é desenvolver princípios musicais fundamentados nos conceitos bíblicos de adoração”.

Ao analisar “os princípios do culto cristão”, com profunda busca bíblica, Reis evidencia que “o culto cristão tem que ser” cristocêntrico, racional, edificante, exultante e transformador. Uma rica cadeia sistemática de passagens bíblicas é disponibilizada ao leitor para esse entendimento. Mas como construir, na prática acertada, esse tipo de musicalidade eclesiástica hoje, dentro do contexto em que estamos? Aí está o melhor do livro, em dar o passo-a-passo bem útil a ser aplicado, para que, “na igreja, a música, em vez de ser um ponto de divisão”, possa, “na realidade, unir a igreja”.

E falando em princípios, a editora do livro tem também, na sequência, a autoria de um capítulo sobre “as mensagens da música”. Ela instrui sobre como que na mensagem musical deve haver os princípios da qualidade, da participação, do propósito e da pertinência. Além de ensinar os detalhes sobre cada um desses tópicos, Perera explica que “o que é apropriado para uma cultura pode não o ser para outra, e o que é conveniente em uma congregação pode causar confrontação em outras. Paulo segue escrevendo em 1Coríntios 10:32-33: ‘Não sejais tropeço nem a judeus, nem a gentios, nem à igreja de Deus; como também eu em todas as coisas agrado a todos, não procurando meu próprio benefício, mas o de muitos, para que sejam salvos’”. Quanto à mensagem verbal, a mesma autora ensina como fazer com que a mesma tenha os princípios da criatividade, da memorização, da compreensibilidade e da verdade, seguindo as instruções de 1Conríntios 14:15-17.

Sabe aquelas associações mentais que a gente faz ligando determinadas tomadas musicais com determinados contextos? “A música não tem um ‘significado intrínseco’ que seja entendido por todas as pessoas da mesma forma e em qualquer tempo e lugar. Portanto, as associações dão significado à música, e estas variam com o tempo. A música pro órgão, por exemplo, era usada nos circos e festas romanas nos séculos II e III. E no século XVIII ainda não se aceitava o órgão em muitas igrejas cristãs, por ter tais conotações pagãs. No nosso século, o órgão é considerado o rei dos instrumentos litúrgicos no mundo cristão, e está estreitamente associado às catedrais e aos templos. Se as associações nunca tivessem mudado, o órgão ainda hoje seria associado à música de fundo que os mártires cristãos que morriam no circo romano escutavam, e deveríamos tirar os órgãos das nossas igrejas por esse motivo”. A música é uma linguagem poderosa que, embora composta por diferentes mensagens, deve comunicar, em nós e através de nós, Jesus.

E quais são os efeitos da mesma? Uma peça musical pode trazer diferentes efeitos de comoção. Os sentimentos de uma peça musical podem ser refletidos fisicamente, no corpo. Podem afetar a mente. O que é melhor para o cérebro pode variar entre tocar um instrumento e escutar uma música. Depende de uma série de fatores. Existem vários autores que podem fazer-nos enxergar os porquês de a música estimular as emoções, a partir de diferentes prismas. Qual deve ser a nossa resposta? A memória desempenha vários papéis na música que escolhemos escutar, pois a música possui um elemento surpresa capaz de criar várias coisas no ouvinte, como por exemplo, o prazer. Baseados nas reações às músicas que escutamos, podemos dizer que existem músicas intrinsecamente boas ou más? Por quê? Respondendo a estes questionamentos, a professora Lourdes E. Morales Gudmundsson leva o leitor a refletir sobre “como podemos escolher a música que melhor contribua para uma vida cristã nobre e positiva”, no capítulo 10 de “En Espíritu y en Verdad”.

Mas nada melhor do que um dos nossos maiores teólogos para nos falar sobre a adoração e sua natureza prática na Igreja Adventista: Ángel Manuel Rodriguez. Doutorado em teologia pela Andrews Universitiy, ele atuou na docência universitária como professor, decano acadêmico e presidente de universidade, sendo que por uma década foi o diretor do Instituto Mundial de Pesquisa Bíblia da Igreja Adventista, tendo contribuído para os adventistas com vários livros e dezenas de artigos. E neste livro, En Espíritu y en Verdad, ele soma-se aos demais autores para levar o leitor a refletir sobre: a) qual vem a ser a conexão entre o mandamento do sábado e a adoração a Deus; b) de que maneira podemos avaliar os elementos do serviço de adoração para preservar o princípio de que Deus é o verdadeiro centro da adoração; c) quais são os elementos mais importantes da adoração na IASD; d) de que maneira a postura corporal demonstra a natureza integral da adoração; e e) qual é a resposta chave que deve nos levar a determinar o que vem a ser apropriado para o culto.

É um desafio! Principalmente quando aparece por aí essa tal de MCC: Música Contemporânea Cristã. Novamente Perera, mostra mais curiosidades indispensáveis ao leitor sobre a evolução da adoração. “Nossos hinos protestantes provêm da reforma litúrgica em que Martinho Lutero reage contra o canto gregoriano. Não obstante, estes hinos foram consideramos ‘profanos’, ‘sensuais’ e ‘mundanos’ pela igreja oficial do século XVI. Por outro lado, existem numerosos compositores que escreveram obras seculares com a mesma estrutura musical do coral ou hino luterano, mas com letra secular e em um contexto musical não religioso. Talvez não seja necessário mencionar a Cantata do Café de J. S. Bach, o Ode to Joy de L. V. Beethoven, o Va Pensiero de G. Verdi, o O Fortuna de C. Orff, etc.”. Por isso Paulo aconselha: “Não se conforme com este século!”. E o salmista completa: “Cantai um cântico novo ao Senhor”. O que Jesus faria se estivesse no nosso lugar? É exatamente esta resposta que Perera persegue para então arrazoar sobre música e cultura, sobre a delimitação dos limites e sobre o propósito da MCC.

Indo mais ao ponto, o que você quer saber é sobre “como escolher o estilo musical apropriado para sua igreja”. Janette Rodríguez Flores é profundamente bíblica (com espesso embasamento em EGW também) ao redigir esta resposta. Ela trabalha com as seguintes questões: a) que elementos influem sobre nosso gosto musical? b) que impacto tem o grupo em geral do que se forma parte sobre o estilo de música do indivíduo?; c) como podemos aplicar o princípio de Romanos 12:10 no contexto da adoração entorno dos estilos musicais; e d) será que é apropriado que o estilo de adoração varie segundo a congregação? “Oremos e busquemos ativamente criar um espírito de unidade na nossa igreja local mediante a escolha de estilos que sejam adequados para toda a nossa congregação”, abaliza esta mestra na música adventista.

Há poucas semanas, participei de um acampamento de jovens cristãos. Muitos talentos musicais reunidos. Tivemos os programas espirituais na sexta à noite e no sábado. E estava proposto que para o sábado à noite teríamos uma hora social temática de festa da roça. Foi natural, pegarmos os violões e cantarmos músicas caipiras, “da terra”, e sertanejas, cujas letras não ferissem nossos princípios. Mas uma pessoa presente “rasgou as vestes”. E a consequência de sua atitude, que não foi das mais felizes, foi, em certos aspectos, de uma negatividade desnecessária à comunidade, por vários dias posteriores. Tudo por desinformação quanto ao assunto sobre “a música secular na vida do cristão”. E eu não tiro a razão, quando temos tão pouco escrito sobre o assunto. Mas agora não vamos mais precisar ter desculpas. Rafael Rodríguez Chalas, doutor, ministro de música, professor e violonista clássico, mostra a música secular à luz da Bíblia, da Reforma e do adventismo, levando o leitor a conclusões equilibradas.

Porque precisamos que o espírito de união reine entre nós. Por isso, Flores volta com mais um capítulo (15) levando o adorador a refletir da uniformidade à unidade tanto na adoração pessoal quanto na pública. Mais Bíblia e mais Espírito de Profecia, para discutir sobre os pertinentes questionamentos: Qual é o papel do louvor na devoção pessoal do crente? Quais são alguns exemplos do uso da música na adoração pessoal? O que os salmos 38, 45, 54, 55 e 71 poderiam nos ensinar? Será que o processo de louvor começa com uma pessoa, e vai se expandindo, como e até onde? A leitura do salmo 105 é muito importante para refletir na explicação de como é o convite à comunidade religiosa para que se una em adoração. “A Bíblia nos provê lições práticas e reveladoras para desenvolver uma vida de devoção pessoal e coletiva. Para isso, o coração deve estar livre de egoísmo. Devemos buscar o que beneficia a congregação, e não o que eu prefiro ou o que me fala no âmbito pessoal”. Resultado? “Unidade na diversidade, graças ao amor de Deus”.

“Como Organizar o Ministério da Música e da Adoração em sua Igreja?” É o capítulo 16, com o pastor e doutor Andrés Flores. Ele explica sobre “como apoiar a equipe de música e adoração”, colocando qual é o “papel do pastor e da comissão da igreja”, nos sentidos de urgência e de liderança quanto aos recursos, o respaldo e a confiança da igreja e o apoio espiritual. Ensina também sobre “como formar uma equipe de música e adoração”, desde a escolha do líder até os demais componentes, a visão desta equipe, a colaboração do pastor e a orientação bíblica que tal ministério deverá seguir. Por fim, dá várias dicas de recursos práticos que podem ser buscados para a equipe de música e adoração da igreja, mostrando qual é o resultado que pode ser alcançado com um programa de música bem organizado que seja compreensível, original e espiritual, o que se pode fazer pra desenvolver a capacidade dos líderes de adoração e de que maneiras se pode facilitar a comunicação e a colaboração entre a equipe de adoração e o pregador.

É com muita emoção que chegamos ao último capítulo de “En Espíritu y en Verdad” com Alejandro Bullón. Ele faz uma exposição sobre “as emoções na adoração”. Ao ler o que este grande pastor e escritor escreve, o leitor é levado a refletir sobre: a) o que implica o conselho de EGW acerca de que se deve cultivar a voz para que “resulte agradável ao ouvido e impressione o coração”; b) como podemos distinguir entre as emoções santificadas e as emoções pecaminosas; c) quais são os perigos do emocionalismo; d) o atual desafio da igreja hoje, que “não é adotar um estilo de adoração para o corpo universal, mas respeitar a diversidade das culturas que formam parte da nossa grande família”; e e) o maior milagre que Deus pode fazer no coração dos cristãos.

No apêndice do livro está um documento sobre a “Filosofia de Música Adventista do Sétimo Dia”, votada oficialmente pela instituição, pois o livro En Espíritu y en Verdad “não propõe mudança alguma à teologia ou às doutrinas da IASD. Todos os autores são obreiros ou leigos ativos da IASD com um profundo respeito pelos regulamentos e políticas da igreja” e pelo Espírito de Profecia da mesma. “Mas a hora vem, e é agora, quando os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em Espírito e em Verdade; porque o Pai também busca por tais adoradores que assim O adoram” (João 4:23).

Eu comprei esse livro e em poucas semanas o li duas vezes. Portanto, lhe aconselho que acesse o site Amazon e compre já o seu exemplar deste livro (PERERA, Adriana (Ed.). En espíritu y en verdad: la música y la adoración en la Iglesia Adventista delSéptimo Dia. Nampa, Idaho: PacificPress Publishing Association, 2013, 176 páginas) e leia-o, o mais rápido possível. Faça-o sempre em oração, para que tudo isso redunde em bênçãos missionais para você e para sua igreja. E que Deus o abençoe! Agora, chega de David Phelps, e vamos dormir ao som de Leonardo Gonçalves!


Um abraço,
Pr. Valdeci Jr.



terça-feira, 13 de maio de 2014

Cristãos Em Busca do Êxtase: Para Compreender A Nova Liturgia e o Papel da Música na Adoração Contemporânea

RESENHA DO LIVRO

A obra Cristãos Em Busca do Êxtase apresenta um olhar sobre a liturgia de diversas manifestações religiosas da humanidade, numa comparação com determinadas buscas religiosas atuais. Para isto, busca fazer uma análise desde conhecimentos filosóficos, sociológicos e históricos. Dentro da História, procura analisar certos aspectos das religiões antigas, e mesmo de formas primitivas de religiões ainda existentes.

Para analisar a era presente, o autor faz uma busca nas características pós-modernas do ser humano. Neste âmbito, o livro é uma boa fonte de pesquisa sobre vários aspectos do comportamento do homem pós-moderno face à religiosidade inerente na espécie humana. Um olhar global da religião contemporânea também pode ser analisado por este prisma do comportamento do homem pós-moderno.

A parte mais relevante da obra é a demonstração de que o pentecostalismo e o carismatismo vêm a ser uma versão evangélica cristã do pós-modernismo. Mas tal reflexão da obra se prende mais aos aspectos litúrgicos do pentecostal do que à linha de comportamento mais holística do mesmo. Afinal, esta é a proposta da obra.

E o ponto alto do livro é quando chega a analisar a psicologia do transe. Seriam as atividades de cultos dos religiosos levadas aos excessos, a ponto de tirar a mente da razão. Assim como qualquer outra coisa em excesso (até mesmo a água) pode fazer mal, o autor chama a atenção para o perigo do desequilíbrio em se dar ênfase demais em um aspecto litúrgico em detrimento dos outros elementos da adoração, no sentido de que isto pode fazer muito mal à experiência religiosa dos adoradores.

Por fim, Dorneles apresenta sua visão particular sobre o culto bíblico e suas possíveis aplicações à religião contemporânea. Há quem discorde e há quem concorde com determinadas interpretações construídas na obra. Na comparação de apenas dois links já dá pra se ver este contraste, a exemplo de muitos outros que podem ser achados por uma simples busca no Google. A favor: http://musicaeadoracao.com.br/livros-indice/livros-recomendados/ ; Contrário: http://vanessinhameira.blogspot.com.br/2012/02/cristaos-em-busca-do-extase-e-musica-3.html . Em cada um destes sites há várias outras postagens sobre a mesma obra, seguindo, cada uma respectivamente, sua linha de pensamento.

Mas como em toda e qualquer leitura que não seja a Bíblia é preciso fazer o pente fino crítico no sentido de ler de tudo e reter o que é bom, nesta obra também é oportuno se fazer o mesmo. As exegeses praticadas pelo autor em “Cristãos em Busca do Êxtase” são adequadas para levar o leitor ao exercício da interpretação textual, ainda que seus pressupostos o levem, numa mesma hermenêutica, a conclusões distintas. De qualquer forma, não deixa de ser uma rica fonte de pesquisa.

Semelhante a uma verdadeira “tese doutoral”, o livro é acadêmico. Todavia, é também acessível ao nível popular da leitura. O autor escreve bem, pois afinal, é doutor em Comunicação Social. Além do conteúdo redigido por ele, nesta sua obra, traz a participação de outras obras na seção dos apêndices e ainda apresenta uma baita bibliografia de outros autores que o leitor pode consultar. Entretanto, além de “Cristãos Em Busca do Êxtase” estar esgotado, a Unaspress não apresenta planos de recolocá-lo à disposição do público. O autor pensa em reeditá-lo em outra editora, entretanto, não na mesma versão. De acordo com ele, “numa versão revisada e atualizada”.

Os dados catalográficos da versão que li são: DORNELES, Vanderlei. Cristãos em Busca do Êxtase: Para Compreender a Nova Liturgia e o Papel da Música na Adoração Contemporânea. 5ª Edição. Engenheiro Coelho: SP, Unaspres, 2008, 271 páginas. Espero que você consiga algum exemplar, pelo menos em algum sebo. Eu também estou procurando um, rsrsrs. De qualquer forma, fica aqui a ponderação de que a as atuais formas de liturgia que vão surgindo, bem como o papel da música na adoração, devem ser levados à reflexão, tanto quanto suas utilidades em religar o homem a Deus, quando em seus riscos de excesso. Que o Senhor lhe abençoe em suas formas de adorá-Lo.

Um abraço,
Pr. Valdeci Jr.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Como Ler Ellen White no Século XXI

Oque devemos fazer com uma escritora que aconselha as mulheres a encurtar os vestidos em vinte centímetros, num mundo em que muitas já os usam curtos demais, ou que recomenda que as escolas adventistas ensinem as meninas a arrear e montar cavalos, quando a maioria delas nunca precisará desse conhecimento? Parte do problema é que o mundo mudou radicalmente desde o tempo em que Ellen White viveu. Esse, porém, não é o único aspecto que os leitores do século XXI precisam levar em consideração quando leem e procuram aplicar os conselhos de um profeta que viveu em tempo e lugar diferentes. Abaixo estão dez orientações que ajudarão nossa leitura dos escritos de Ellen White a se tornar mais proveitosa e equilibrada.1 
1. Concentre-se no assunto principal. Uma pessoa pode ler os escritos de Ellen White de duas maneiras, pelo menos. Uma é buscando o tema central; a outra é procurando coisas que são novas e diferentes. O primeiro modo nos leva a uma compreensão mais acurada, enquanto o segundo leva a distorções no sentido proposto pelo autor e geralmente leva a extremos, o que Ellen White detestava. Ela mesma defendia o estudo da Bíblia mediante o qual os leitores procuram “ganhar conhecimento do tema central ‘da Bíblia’”. Para ela, esse tema era o plano da redenção e o grande conflito entre o bem e o mal. “Encarado à luz deste conceito”, o grande tema central da Bíblia, “cada tópico tem nova significação” (Educação, p. 190, 125).

Em resumo, seu conselho era ler para compreender o todo. O quadro geral mostra o contexto para interpretar outros assuntos, tanto em termos de significado como de importância. Esse princípio, além dos escritos de Ellen White, aplica-se igualmente à Bíblia,. 
2. Enfatize o que é importante. No início do século XX, quando alguns líderes da igreja usavam os escritos de Ellen G. White para provar certos pontos proféticos que ela cria serem de menor importância, ela escreveu que “o inimigo de nossa obra se agrada quando um assunto de menor importância pode ser usado para desviar a mente de nossos irmãos das grandes questões que devem constituir a preocupação de nossa mensagem” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 164, 165). 
3. Estude todas as informações disponíveis sobre o assunto. O neto e biógrafo de Ellen White, Arthur White, destacou esse assunto quando escreveu que “muitos têm errado ao interpretar o significado dos testemunhos tomando declarações isoladas ou fora do contexto como base para crença.
Alguns fazem isso, mesmo que existam outras citações que, se consideradas com cuidado, mostram que tomar posições baseadas em declarações isoladas, é insustentável”.2 
4. Evite interpretações extremistas. Por não seguir as orientações que Ellen White deu, alguns indivíduos recriam essas orientações de uma forma extremista, como eles próprios. Durante toda a sua vida, a tendência dela foi pela moderação que, infelizmente, falta em alguns que alegam ser seus fiéis seguidores. Por exemplo: alguns utilizam uma declaração em que Ellen White mostra desagrado com o jogo de bola para condenar todos os tipos de jogos, ao passo que ela mesma escreveu: “Não condeno o simples exercício de brincar com uma bola; mas isto, mesmo em sua simplicidade, pode ser levado ao excesso” (O Lar Adventista, p. 499). Como em muitas situações, Ellen White foi moderada, em vez de extremista. 
5. Tome em consideração tempo e lugar. Por causa das mudanças no tempo e no espaço, é importante compreender o contexto histórico de muitos dos conselhos de Ellen White. Só podemos considerar seu conselho de encurtar o vestido em vinte centímetros como algo apropriado para as mulheres do século XIX. Nunca poderíamos usar essa citação como se ela tivesse escrito para o tempo da minissaia. “Quanto aos testemunhos”, Ellen White escreveu, “coisa alguma é ignorada; coisa alguma é rejeitada; o tempo e o lugar, porém, têm que ser considerados” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 57). Repetidamente, ela deu esse conselho ao longo de seu ministério.
6. Estude cada afirmação em seu 
contexto literal. Com muita frequência, as pessoas baseiam sua compreensão dos ensinos de Ellen White no fragmento de um parágrafo ou numa afirmação isolada, totalmente fora do contexto. Falando sobre o mau uso que alguns fazem dos seus escritos, ela escreveu que: “Citam metade de uma frase, e omitem a outra metade, a qual, se fosse citada, mostraria que o raciocínio de quem assim procede, é falso” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 82).
7. Reconheça a compreensão de Ellen White sobre o ideal e o real.
Frequentemente, Ellen White dava conselhos sobre o mesmo assunto, sob dois aspectos. O primeiro pode ser considerado como o ideal. Nesse aspecto, as declarações não permitem exceções. Um exemplo é o conselho em relação ao ideal de que os pais deveriam ser os “únicos professores de seus filhos até alcançarem a idade de oito a dez anos” (Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 137). Por outro lado, quando ela trata com situações do cotidiano do mundo, frequentemente seu conselho é ajustar as necessidades reais do povo com suas reais limitações. Embora tenha moderado seu conselho para que os pais sejam os “únicos” professores ao acrescentar que esse ideal deveria ser mantido, “se” tanto o pai como a mãe desejassem fazer o trabalho. Se não, as crianças deveriam ser enviadas à escola (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 215-217).

Ellen White nunca perdeu seu senso de ideal, mas estava pronta a acomodar seus conselhos para se adequar à realidade do mundo. Um dos aborrecimentos de sua vida foi com aqueles que coletavam suas afirmações do ideal procurando apenas “impô-las a todos, e, em vez de ganhar almas, repelem-nas” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 284-288). 
8. Use o bom-senso. As citações de Ellen White não resolvem todos os problemas. Às vezes, simplesmente não encaixam. Quando surgiram alguns problemas porque estavam mencionando suas declarações de que os pais deveriam ser os únicos professores de seus filhos até os 8 ou 10 anos de idade, ela respondeu dizendo que “Deus deseja que lidemos sensatamente com esses problemas”. Ela estava sendo provocada pelos que tomaram uma atitude dizendo: ‘Ora, a irmã White disse assim e assim, e a irmã White falou isto ou aquilo; e, portanto, procederemos exatamente de acordo com isso.’” Sua resposta para tais pessoas foi: “Deus quer que todos nós tenhamos bom-senso, e deseja que raciocinemos movidos pelo senso comum. As circunstâncias alteram as condições. As circunstâncias modificam a relação das coisas” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 215, 217). Seu conselho foi que os leitores precisavam usar bom-senso, mesmo quando tinham uma citação sua sobre o assunto. 
9. Descobrir os princípios implícitos. Na virada do século XIX para o XX, Ellen White escreveu que seria bom que “as moças pudessem aprender a arrear e cavalgar” (Educação, p. 216, 217). Aquela era uma prática em seus dias, mas não mais hoje. Os princípios implícitos nesse conselho, entretanto, ainda são muito importantes. Ou seja, as mulheres devem ser auto-suficientes ao locomover-se. Portanto, em nossos dias, devem ser capazes de dirigir um carro e trocar um pneu. A especificação exata do conselho pode mudar, mas o princípio implícito tem valor permanente. 
10. Tenha certeza de que isso foi dito por Ellen White. Muitas declarações atribuídas a Ellen White nunca foram feitas por ela. O único método seguro é usar declarações que podem ser encontradas em seus trabalhos publicados ou não publicados, mas validados pelo Departamento de Pesquisas Ellen White. Muitos têm sido desviados por declarações que ela nunca fez, mas que são atribuídas a ela.
Os escritos de Ellen White têm sido uma bênção a leitores em todo o mundo. E serão muito mais eficazes se forem lidos tendo em conta as orientações acima. 
1Discussão mais detalhada sobre esse assunto pode ser encontrada em George R. Knight, Reading Ellen White: How to Understand and Apply Her Writings (Hagerstown, Md.: Review and Herald Publishing Assn., 1997). 
2Arthur L. White, Ellen G. White: Messenger to the Remnant (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Assn., 1969), p. 88.
http://portuguese.adventistworld.org/index.php?option=com_content&view=article&id=461

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A ÚNICA ESPERANÇA! Encontre o Real Sentido da Vida

Você conhece o livro do ano? O livro de 2014 está simplesmente fantástico! Eu não o li, eu o comi! Com casca e tudo! Fez muita diferença na minha vida. E já estou podendo ajudar muitas outras pessoas, por ter lido o bendito livro, de apenas 109 páginas. Vou lhe dar um breve resumo do mesmo.

Depois de matar o loiro e deixar a esposa baleada, anos de penitenciária e tornar-se um lixo, Evaldo, junto com toda a família, encontrou esperança no livro. O ser humano se mete em cada emboscada. Pedro Paulo jamais sonhara em ser um traficante. As drogas trazem a morte, e este seria o seu caminho, se não tivesse também encontrado o livro. Foi o mesmo livro que o Ivair apresentou para o patrão. O poderoso João Carlos, que apesar de rico não era feliz e estava para morrer de estressado, se no dia certo, não tivesse se encontrado com a esperança correta... Ufa! Escapou por pouco!

Sabe por quê a tragédia tinha batido às portas de Cristian e Adolfo? Por falta de princípios. Conhecer e viver os princípios de esperança corretos pode, literalmente, livrar qualquer pessoa da morte. E no caso destes pai e filho, a ausência dos mesmos chegou pra roubar-lhes a vida. Mas o Adolfo encontrou uma porta de esperança. Sabe como? Do mesmo jeito que a Sandra, a médica que não via sentido para a vida, precisava de conselhos, e os encontrou no dito livro.

Você já enfrentou o câncer mortal, face-a-face? Talvez não em você, mas em alguém que você muito amasse... E daí, como sair dessa? Quer saber como? Leia o capítulo seis do livro A Única Esperança, na realidade, “A Grande Esperança”. Você sabe no que podemos nos agarrar quando somente nos resta a morte? Naquilo que existe além da morte. O quê? Alejandro Bullón discute isso no ambiente acadêmico e muda o rumo dos universitários.

 Agora, se existe algo que qualquer um gostaria de ter, é a “Esperança de Prosperidade”. E se existe algo que também causa nojo em muita gente é a tal da teologia da prosperidade, pregada pelas neo-igrejas mercantilistas. E daí, a prosperidade é de Deus, ou não? O livro tem a resposta. De qualquer forma, do ponto em que você estiver, você pode tomar um recomeço em sua vida. Mesmo que ela esteja sombria. Porque até o Renan, coronel da polícia militar formado nos rigores da disciplina da corporação, conseguiu entender o valor maior do sangue.


Estou falando do real sentido da vida, não em teoria, mas na prática da vida dos vários personagens, reais, do livraço de Alejándro Bullón, e que precisa estar presente no personagem tão importante, que é você. Não deixe de ler “A Única Esperança”! O livro pode ser lido em formato digital e enviado a amigos, totalmente grátis! Clique Aqui.

Um abraço, boa leitura e Feliz 2014!
Valdeci Jr.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

“MERECE CONFIANÇA O NOVO TESTAMENTO?” - Revisão do Novo Testamento

O título acima é da obra de Frederick Fyvie Bruce. Todavia, é realmente necessária, a investigação da validade histórica do Novo Testamento? A ética e a mensagem positivas do Sermão do Monte e dos evangelhos não são suficientes? Bruce responde a essas objeções dizendo que isso pode valer para qualquer religião ou sistema filosófico, mas, o cristianismo tem sua validade profundamente arraigada na história, porque é mais do que os ensinamentos de Cristo, é a história da Salvação que começou na Queda e culmina em um fato histórico: a ressurreição do Filho de Deus.
As bases para a fidedignidade do Novo Testamento são muito superiores, quando comparadas às bases para a fidedignidade de textos clássicos da antiquidade. A Íliada de Homero que tem 643 manuscritos antigos e 500 anos separam o original da primeira cópia. O Novo Testamento tem mais de 5600 manuscritos e 50 anos entre os originais e a primeira cópia. Se o crítico quiser rejeitar os textos do Novo Testamento como lendários ou não confiáveis terá que emitir o mesmo julgamento em relação a praticamente todos os textos antigos Mas o que acontece na realidade é um julgamento bastante injusto. De dois pesos e duas medidas. O que se exige do Novo Testamento não se exige de nenhum outro texto antigo
E tudo isso é baseado num pressuposto naturalista não justificado. Se relata milagres, logo, é falso, pressupõe arbitrariamente os críticos. E contra isso não há evidência textual e histórica que possa vencer. Mas raiz do problema não está na História, e sim em pressupostos filosóficos injustos e arbitrariamente aplicados à teologia. É claro, não podemos ser ingênuos a ponto de acreditar que cada vírgula do Novo Testamento pode ser comprovada histórica e textualmente.
Mas o que importa na avaliação de um texto histórico são os pontos centrais, e nesses pontos o Novo Testamento passa por qualquer prova. A partir desses particulares, inferimos quanto ao universal. Para aqueles que têm fé há base segura para crer. Se confiamos em um historiador qualquer por observarmos que suas conclusões são coerentes com a realidade, podemos igualmente confiar nos autores do Novo Testamento, pois estes são igualmente - senão mais - coerentes com os fatos históricos.
Certa vez, Hegel estava dando uma aula de filosofia da história e um aluno lhe replicou “Mas, Professor, os fatos lhe são contrários”. A resposta de Hegel? “Tanto pior para os fatos!” !?!?! Assim procedem os que criticam a Bíblia: nada de racional. Se um cético analisar imparcialmente a história dos textos neo-testamentários terá duas opções: admitir a confiabilidade destes, ou negar a sua própria racionalidade.


Valdeci Júnior

Fátima Silva

sábado, 28 de dezembro de 2013

NA PRÁTICA... - Apocalipse 18-19

Na meditação de ontem, teorizei que o livro “O Grande Conflito” é um ótimo material para ajudar a entender o Apocalipse. Abaixo, mostro isso na prática:
Durante mil anos Satanás vagueará de um lugar para outro na Terra desolada, para contemplar os resultados de sua rebelião contra a lei de Deus. Durante este tempo os seus sofrimentos serão intensos. Desde a sua queda, a sua vida de incessante atividade baniu a reflexão; agora, porém, está ele despojado de seu poder e entregue a si mesmo para contemplar a parte que desempenhou desde que a princípio se rebelou contra o governo do Céu, e para aguardar, com temor e tremor, o futuro terrível em que deverá sofrer por todo o mal que praticou, e ser punido pelos pecados que fez com que fossem cometidos.
Ao povo de Deus o cativeiro de Satanás trará alegria e júbilo. Diz o profeta: "...no dia em que Deus vier a dar-te descanso do teu trabalho, tremor, dura servidão com que te fizeram servir, então proferirás este dito contra o rei de Babilônia [representando aqui Satanás], e dirás: Como cessou o opressor! ...." Isaías 14:3-6.
Durante os mil anos entre a primeira e a segunda ressurreição, ocorrerá o julgamento dos ímpios. O apóstolo Paulo indica esse juízo como um acontecimento a seguir-se ao segundo advento. Leia 1Coríntios 4:5. Daniel 7:22 declara que quando veio o Ancião de Dias, "foi dado o juízo aos santos do Altíssimo". Nessa oportunidade os justos reinarão como reis e sacerdotes diante de Deus. É nesse tempo que"os santos hão de julgar o mundo". 1Coríntios 6:2. Em união com Cristo julgam os ímpios, comparando seus atos com o código - a Escritura Sagrada, e decidindo cada caso segundo as ações praticadas no corpo. Então é determinada a parte que os ímpios devem sofrer, segundo suas obras; e registrada em frente ao seu nome, no livro da morte. Igualmente Satanás e os anjos maus serão julgados por Cristo e Seu povo (1Coríntios 6:3; Judas 6).
Ao fim dos mil anos ocorrerá a segunda ressurreição. Então os ímpios ressuscitarão dos mortos, comparecendo perante Deus para a execução do "juízo escrito". Assim, o escritor do Apocalipse, depois de descrever o ressurgir dos justos, diz: "Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram." Apoc. 20:5. A respeito dos ímpios Isaías declara: "Serão amontoados como presos numa masmorra, e serão encerrados num cárcere, e serão visitados depois de muitos dias." Isa. 24:22.
Releia estes fatos na leitura de hoje. Lembre-se que esta história continua amanhã. Porém, sua história, deve durar para sempre! Portanto, prepare-se!
Fonte: “O Grande Conflito”, 660-661.


Valdeci Júnior

Fátima Silva

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O GRANDE CONFLITO - Apocalipse 15-17

Reconheço que nosso espaço aqui é limitadíssimo para comentarmos tudo o que é preciso a respeito de tantos significados importantes das profecias do Apocalipse. Se eu fosse resumir a leitura de hoje em poucas palavras, diria que ela representa o fato de que há um grande conflito cósmico acontecendo neste exato momento, com uma influência tão forte em todas as ações humanas, que, em breve, isto culminará num verdadeiro fim de mundo. Falando sério!
Mas não quero deixar-lhe na mão, na busca por um entendimento tão sério. O melhor livro que conheço na ajuda para o entendimento destes mistérios é “O Grande Conflito”, da Casa Publicadora Brasileira (Fone 0800 976 06 06). Esta leitura é um requisito indispensável de sobrevivência espiritual de todos os cristãos que vivem no tempo do fim, porque no grande conflito entre o bem e o mal, a impressão que se tem é a de que o mal está levando a melhor. As notícias são desanimadoras - violência, fome, desemprego, doenças, acidentes e outras calamidades estão na ordem do dia. Os meios de comunicação podem lhe dizer o que está acontecendo. Mas este livro revela por quê. E diz também o que você jamais ouvirá no noticiário: o que ainda está por acontecer. Anime-se. A guerra está no fim e você ainda pode escolher de que lado estará quando tudo terminar. Esta literatura é “a narrativa mais importante sobre os acontecimentos que mudarão o seu futuro”.
Se você quiser conhecer a versão digital deste livro, acesse o site www.ograndeconflito.com.br . Nele há o livro completo online, espaço para comentários (sobre cada capítulo) serem escritos pelas pessoas que lêem o livro no site, o curso O Grande Conflito, um espaço para você recomendar a leitura do livro a alguém, além de estar diretamente linkado com a CASA, a fim de que a pessoa possa comprar o livro, também, se desejar. Comentários do “O Grande Conflito” também podem ser lidos no Twitter, diariamente. É só segui-lo. Convido você a acessar e se, por acaso, você tiver pessoas especiais com as quais gostaria de compartilhar as informações importantes que este livro possui, convide-as para a leitura ou para o curso bíblico.
Outro livro, de leitura mais simples e acessível, que ajuda a entender o que você está lendo, por estes dias, na Bíblia, é “O Terceiro Milênio e as Profecias do Apocalipse”, de Alejandro Bullón, da mesma editora (www.cpb.com.br). “Este livro mostra que não precisamos ter receio quanto ao que está por vir e fornece respostas aos mais profundos anseios humanos. E tudo isto baseado na Bíblia, a fonte mais segura”.
Enfim: leia, e prepare-se!



Valdeci Júnior

Fátima Silva

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Pregador Urbano

Introdução

A pregação é capaz de mobilizar. Foi pela palavra que Deus apertou o botão start do Universo. E foi também a mensagem evangélica direcionada aos cidadãos do século XXI que impeliu 40 homens a produzir o Pregador Urbano. Entre nós, alunos do mestrado em Teologia do SALT/IAENE, este livro representa uma doce lembrança do tempo que passamos estudando juntos durante estes anos de estudos.

Mas, acima de acadêmicos, somos pastores adventistas do sétimo dia. Como igreja, estamos preocupados com a necessidade de evangelizar grandes cidades. Foi para isso que nos ingressamos no programa de Missão Urbana. Portanto, este sermonário é também uma tentativa de começar a devolver à igreja, em forma de agradecimento, um pouco da experiência que ela tem nos concedido.

Queremos ver a igreja triunfando majestosamente. E coadunamos com a proposta que ela tem de comunhão, relacionamento e missão. Nosso objetivo final é missionário, mas ele não acontece sem ser precedido do encontro com Deus e da simpatia com as pessoas. Por isso, os capítulos deste material estão ordenados nesta sequência. Todavia, apesar de serem 40 sermões, eles não estão distribuídos numa quantidade uniforme, tampouco por ordem de importância, mas simplesmente porque a proposta da presente obra é sumamente missional. Logo, a maior parte dos sermões aqui trata de temas relacionados com a missão.

Comunhão - O encontro de Cristo com o ser humano objetiva o “ide”. Mas sem a capacitação do Espírito Santo, a Grande Comissão não acontece. Tal comunhão deve ser ininterrupta na vida, pois as dificuldades sempre continuarão batendo à porta. E aqui está a perseverança do crente: ser fiel a Deus e manter o testemunho de Jesus pela pregação profética (cf. Apocalipse 12:10; 14:12; 19:10).

Relacionamento - Pregar a quem? Ninguém nasce sozinho! Assim como dizemos, popularmente, que com um filho nasce um pai, também temos que admitir que o nascimento de um cristão acontece sempre na coletividade compartilhada. A receptividade do evangelho, quando saudável, é relacional. Pois, como os dons serão usados se não houver sobre quem ministrar? O discipulado é precedido pela amizade que, sem interesses, aprecia ver o bem-estar das pessoas.

Missão - Isto traz a consciência do chamado. Temos uma missão a cumprir. Como gente que foi salva, através de Cristo, somos gente salvando gente. E esta é a prima razão de existirmos como eclésia. Para entender isso, a igreja precisa de constantes, diferentes e insistentes abordagens que a motivem a se permitir ser mobilizada neste ímpeto missional. Como organismo vivo, ela precisa crescer. E o canteiro é a cidade! A urbe não é o reino do mal do qual devemos nos alienar. Ela é o alvo do carinho de Deus, que só pode ser expresso pelo corpo que compomos.

É nesta lógica que os sermões estão sequenciados ao longo do Pregador Urbano. Mas você também pode ser auxiliado tanto pelo sumário que está no início do livro, quanto por uma tabela de auxílio ao leitor que colocamos no final desta coletânea. Portanto, amado leitor, por favor, ore pelo ministério nas grandes cidades. Tenha, em sua vida, comunhão, relacionamento e missão e “procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade” (2Timóteo 2:15  -  NVI). Seja um pregador urbano!



Cachoeira, 15 de julho de 2013.
Pr. Valdeci Júnior - Editor


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

"Cristãos em Busca do Êxtase" e a Música

O livro "Cristãos em busca de êxtase" (Unaspress) é uma excelente pesquisa histórica e contém informação preciosa nesses dias de explosão neo-pentecostal.

No entanto, na parte bíblica do livro há uma argumentação que destoa do bom nível da pesquisa. A análise bíblica que o autor faz da música sacra contém falhas, especialmente ao usar o episódio do transporte da arca como uma revelação normativa para a música cristã. Trechos do livro estão disponíveis na net em forma de artigos e o leitor pode encontrá-los facilmente.

Resumindo a idéia de Dorneles: quando Davi transportou a arca ao som de tambores, tudo deu errado, e Uzá morreu. Quando Davi excluiu os tambores, tudo deu certo. E, segundo ele, após esse episódio, o tambor foi excluído do templo.

Ele escreveu que “o tambor não fazia parte da música do templo, por orientação do próprio Deus a Davi.” E acrescentou que “a exclusão do tambor no templo pode indicar também que esse instrumento (...) deveria estar fora do culto”.

Ele sugere que Deus orientou não ter tambores, ou seja, Deus orientou a “exclusão do tambor” e que por causa dessa orientação divina, tambores deveriam “estar fora do culto” e “sem recomendação”. Apesar de não afirmar claramente que “Deus proibiu os tambores”, há uma “proibição” implícita nos argumentos de Dorneles.

A seguir, algumas observações sobre a argumentação dele.

1) Dorneles coloca erradamente a culpa nos tambores

Fazendo essa contraposição entre “com tambores deu errado” e “sem tambores deu certo”, Dorneles leva os leitores a concluírem exatamente isso: a culpa foi dos tambores. Se ele não teve essa intenção, toda a sua argumentação foi inútil para qualquer outro propósito, visto que ele destaca apenas os tambores e ignora outros elementos da narrativa.

O equívoco de Dorneles aqui é básico: nem a Bíblia nem Ellen White sugerem que o problema do primeiro transporte teve algo a ver com tambores. O problema foi a “violação de um mandado explícito”, foi desobedecer às claras instruções divinas quanto ao transporte da arca (Êx.25:14, Nm.4:15, 7:9 e 10:21).

Nem a Bíblia e nem Ellen White tocam na questão da música ou do uso de instrumentos musicais como sendo a causa da morte de Uzá. Segundo White, “houve uma desatenção direta e indesculpável às determinações do Senhor.” Nada sobre a questão musical.

Ela acrescenta que “o Senhor não podia aceitar o serviço, porque não era efetuado de acordo com Suas orientações”, mas novamente não cita a música. Ela não inclui a música entre a “declaração compreensível da vontade de Deus em todas estas questões” cuja negligência “desonrava a Deus”. E, finalmente, Ellen White afirma que Davi foi “levado a compenetrar-se, como nunca dantes, da santidade da lei de Deus, e da necessidade de obediência estrita”(Patriarcas e Profetas, 705 e 706). De novo, nada sobre a música.

Ao extrair homileticamente uma "lição musical" desse episódio (que é possível), parece que Dorneles viu algo que a Bíblia não mostrou, e que Ellen White também não viu. É um equívoco usar o transporte da arca para reprovar o uso de certos instrumentos musicais, pois a Bíblia simplesmente não diz isso.

2) A argumentação de Dorneles serve para condenar a flauta também. 

Curiosamente, podemos substituir “tambor” por“flauta” em quase toda argumentação de Dorneles sem prejuízo para a sua linha de raciocínio e sem ferir os textos bíblicos usados. Veja:

“Na condução da arca de Quiriate-Jearim até a casa de Obede-Edom, houve música com flautas (1Cr 13:8 e 2Sm 6:5). Nessa viagem, tudo deu errado.
“Três meses depois, Davi juntou o povo para buscar a arca da casa de Obede-Edom. Houve alegria, mas ao contrário da primeira tentativa, desta vez a orquestra não teve flautas, mas harpas, alaúdes e címbalos (1Cr 15:16). O transporte deu certo.”

E então? A culpa é dos tambores ou das flautas? E ainda há outros parágrafos:

“A lista dos ‘instrumentos do Senhor’ aparece em diversas ocasiões, sempre sem inclusão das flautas (ver 1Crônicas 25:1 e 6, 16:5, 2Crônicas 5:12 e 13).”
“A música que se fez no transporte da arca até Jerusalém, sem uso de flautas, foi chamada de "música de Deus" (1Crônicas 16:41 e 42), enquanto que a banda que deu o ritmo da dança, quando Uzá morreu, não recebeu essa adjetivação (ver 1Crônicas 13:8).”
“No livro de Isaías, há juízos pronunciados contra pessoas que celebravam festas com embriaguez e música com flautas (ver Isaías 5:12).”

E a conclusão parafraseada também seria: “o textos de Isaías 5:12 e os fatos relacionados com o transporte da arca e com a música do templo deixam esse instrumento sem recomendação.”

Os flautistas precisam ser alertados disso, urgentemente! Mas estranhamente, parece que Dorneles ainda não escreveu nada contra as flautas.

3) A argumentação de Dorneles é favorável à dança

Dorneles divide o transporte da arca em 2 tentativas, destacando dois pontos:
1) a primeira teve dança e tambor, e deu errado.
2) a segunda não teve tambor, e deu certo.

Nas palavras do autor:
"Na condução da arca de Quiriate-Jearim até a casa de Obede-Edom, houve música com tamboris e Davi dançou e se alegrou, ao ritmo da banda (1Crônicas 13:8 e 2Samuel 6:5). Nessa viagem, tudo deu errado."

Mas de acordo com 2 Sm 6:14, Davi dançou na segunda parte do transporte (da casa de Obede-Edom até Jerusalém). Isso compromete o raciocínio do autor. Se na segunda parte a viagem foi abençoada por Deus, então isso coloca a dança de Davi sob a iluminação divina, pois o transporte deu certo.

Dorneles escreveu: "Três meses depois, Davi juntou o povo para buscar a arca da casa de Obede-Edom. Desta vez, ele orientou que ninguém conduziria a arca, senão os levitas (1Samuel 15:2). Houve alegria, mas ao contrário da primeira tentativa, desta vez a orquestra não teve tambor, mas harpas, alaúdes e címbalos (1Crônicas 15:16). O transporte deu certo."

Não teve tambor, mas teve dança. Se o autor vincula o "dar certo" com a ausência de tambores, alguém poderia usar o mesmo argumento e vinculá-lo à presença da dança. Logo, o mesmo argumento que bane o tambor, consegue mais do que pretendia e acaba sacralizando a dança.

Algumas versões da Bíblia não registram “dança” durante o trajeto em que Uzá morreu (de Quireate-Jearim até Obede-Edom) mas usam o verbo “alegrar-se”. 
Questionado sobre isso, Dorneles responde que o verbo usado na primeira tentativa, em 2 Sm 6:5 (sachaq), pode ser traduzido como “dançar”. Para ele, na primeira tentativa houve tambores e dança (sachaq), e o transporte deu errado.

Mas isso só gera mais problemas para a teoria de Dorneles. Ao ser repreendido por Mical, Davi responde dizendo que faria de novo (2 Sm 6:21), e ele usa a mesma palavra de 2 Sm 6:5 e 1 Cr 13:8 (sachaq).

Resumindo: usando a tradução preferida de Dorneles, Davi “dançou” (sachaq) na primeira tentativa, “dançou” na segunda, e ainda afirmou que “dançaria” (sachaq) de novo:

“Pois eu continuarei a dançar em louvor ao SENHOR”. (2 Sm 6:21) 
NTLH 
“foi perante Senhor que dancei; e perante ele ainda hei de dançar". 
Almeida Atualizada
yo danzaré ante Yahveh”. 
Bíblia de Jerusalém (1976)
“therefore I will play, and dance before the Lord.” 
Septuaginta.

Se nesse episódio houve de fato um “reforma musical” promovida por Davi, parece que o próprio Davi não entendeu direito. Ou então, a ordem de Deus teria sido: “tirem os tambores e comecem a dançar!” De qualquer forma, a argumentação de Dorneles não faz sentido.


Dorneles afirma que “a questão que procurei mostrar no meu texto é a mudança da música do primeiro para o segundo transporte. Essa mudança certamente foi resultado o mandato de Deus a Davi (...)”.

Então, a mudança não foi tanto musical, pois além de Davi dançar e afirmar que continuaria dançando, Ellen White descreve assim o segundo trajeto:

“Outra vez pôs-se em movimento o longo séquito, e a música de harpas e cornetas, trombetas e címbalos, ressoava em direção ao céu, misturada com a melodia de muitas vozes. "E Davi saltava. ... diante do Senhor" (II Sam. 6:14), acompanhando em sua alegria o ritmo do cântico.”

A dança de Davi acompanhava o ritmo. Era “música e dança, em jubiloso louvor a Deus”. Quando artculistas dizem a música do segundo trajeto foi "branda", "suave", "menos ritmada", trata-se de especulação, imaginação e inferência. O fato é que Davi dançou acompanhando o ritmo da música e depois ainda afirmou que continuaria dançando. Isso coloca uma interrogação na teoria da suposta “reforma musical que excluiu os tambores”.

4) A descrição de Dorneles é diferente da descrição de Ellen White

Ellen White não descreve o primeiro transporte da arca em tons negativos como Dorneles o faz. Inclusive quando fala da música.

Sobre a música do segundo transporte da arca, Dorneles diz: “Embora informe que Davi tenha dançado (1Cr 15:29), o cronista repete várias vezes a lista de instrumentos, que não sugere uma música feita para dançar.”

Talvez a música não tenha sido feita para dançar, mas provocou dança, e Davi dançou seguindo o ritmo da música, como diz Ellen White: Davi estava “acompanhando em sua alegria o ritmo do cântico”. Se ele acompanhava o ritmo, o andamento da banda, era porque a música era propícia para isso.

Falando sobre o fatídico 1º trajeto, Ellen White diz: “era seu intuito tornar aquele ato um espetáculo de grande regozijo e imponente manifestação.” Não era uma multidão seguindo um trio elétrico de carnaval. Ellen White diz que “Davi estava radiante de santo zelo.”

Ao contrário de Dorneles, ao falar da música do primeiro transporte, Ellen White não usa expressões negativas. Ela descreve essa música como “cânticos de regozijo, unindo-se melodiosamente uma multidão de vozes com o som de instrumentos músicos”. Era “uma cena de triunfo”, com “alegria solene”(Patriarcas e Profetas, 704). As palavras "melodiosamente" e "solene" devem ser destacadas.

Agora veja como Dorneles faz uma leitura tendenciosamente negativa da música do episódio:
"A música que se fez no transporte da arca até Jerusalém, sem uso de tambores, foi chamada de "música de Deus" (1Crônicas 16:41 e 42), enquanto que a banda que deu o ritmo da dança, quando Uzá morreu, não recebeu essa adjetivação (ver 1Crônicas 13:8)."

No entanto, levando em conta a informação bíblica e de Ellen White, esse parágrafo acima poderia ser reescrito assim:
“A música que deu o ritmo da dança de Davi, sem flautas, foi chamada de “música de Deus” (1Crônicas 16:41 e 42), enquanto que a banda que acompanhou a “cena de triunfo”, "melodiosamente" com “alegria solene”, quando Uzá morreu, não recebeu essa adjetivação (ver 1Crônicas 13:8)."

Esse parágrafo está perfeito, segundo a Bíblia e Ellen White, e tem um tom diametralmente oposto ao que Dorneles escreveu. Percebam como a argumentação de Dorneles é frágil e depende de contorcionismos linguísticos, mensagens nas entrelinhas, jogo de palavras, omissão de trechos (que é o próximo item).

5) Dorneles omite pedaços de textos bíblicos

Além de omitir as flautas em sua argumentação contra os tambores, Dorneles faz citações estranhas, amputadas, para dar uma impressão de que a Bíblia condena apenas os tambores. Por exemplo, ele escreveu:
“No livro de Isaías, há juízos pronunciados contra pessoas que celebravam festas com embriaguez e música com tambores (ver Isaías 5:12 e 24:8 e 9).”

E completa dizendo que “os textos de Isaías 5:12 e 24:8 e 9 e os fatos relacionados com o transporte da arca e com a música do templo deixam esse instrumento sem recomendação.”

O problema é que esses textos também falam de harpas, alaúdes e flautas. Por que extrair cirurgicamente apenas os tambores, dando-lhes uma conotação negativa? Veja os textos bíblicos na íntegra:

Harpas e liras, tamborins, flautas e vinho há em suas festas, mas não se importam com os atos do Senhor, nem atentam para obra que as suas mãos realizam.” (Is 5:12)
“O som festivo dos tamborins foi silenciado, o barulho dos que se alegram parou, a harpacheia de júbilo está muda. Já não bebem vinho entoando canções; a bebida fermentada é amarga para os que a bebem.” (Is 24:8-9)

Os leitores menos atentos e não-bereanos são induzidos por Dorneles a concluir que Deus está pronunciando juízos apenas contra quem usa tambores, o que não é verdade. A menos que Dorneles também esteja publicando textos contra esses outros instrumentos por aí, o que não é o caso, essa é uma péssima maneira de usar a Bíblia.
6) Dorneles usa o templo judaico como normativo para o culto cristão
Ele escreveu:

“O estudo dos textos bíblicos que citam os instrumentos musicais esclarece que o tambor não fazia parte da música do templo, por orientação do próprio Deus a Davi.”

Por orientação do próprio Deus, não entravam no templo várias outras coisas: mulheres, crianças, estrangeiros, aleijados, etc. A pergunta que devemos responder é: o templo é o nosso modelo de culto e música cristãos? Dorneles acha que sim:

“Uma vez que o templo de Israel era uma representação do santuário celestial e do trono de Deus, a música na igreja hoje deve ter sua referência maior na música usada nesse templo.”

Já é bem comum o argumento “se não tinha no templo de Jerusalém, não podemos usar na igreja”. Na realidade, ao mirar na percussão, esse argumento atinge quase todos os instrumentos atuais.

O 
palestrante Daniel Spencer resume essa teoria, dizendo que “nosso Templos são cópias das igrejas primitivas, cópias das sinagogas, cópias do templo de Salomão, cópia do santuário, cópia do santuário do céu.” Mas isso também não é verdade e uma simples comparação do propósito e da liturgia do templo judaico com o culto cristão revela o equívoco.

Nosso culto não tem muita coisa a ver com o modelo de culto primitivo (nas casas). O culto da igreja primitiva até se assemelhava em certos aspectos às reuniões da sinagoga. Mas a sinagoga e o templo apresentam profundas e marcantes diferenças entre si. A começar pela principal atividade do templo: o sacrifício. Além disso, em vários aspectos a sinagoga não tem absolutamente nada a ver com o templo (participação de leigos, mulheres, gentios, leitura e explicação da Palavra, etc).

Bastaria um exemplo pra expor o equívoco desse argumento: Não havia pregação no templo, e nosso culto hoje é centralizado na pregação.

O ministério levítico, inclusive o musical, era cerimonial, conectado aos sacrifícios e ofertas, E remunerado. Não é um modelo a ser estritamente seguido, mas dele podemos extrair princípios. O próprio Bacchiocchi, que já defendia muitas dessas idéias agora expostas por Dorneles, menciona esse caráter cerimonial da música do templo em:

“O livro de Crônicas apresenta o ministério musical dos levitas como parte da apresentação da oferta diária no templo." (O cristão e a música rock, 205)

Nos textos onde cita o templo judaico, Ellen White não traça paralelos literais com a igreja. Ela extrai princípios de adoração e não listas inflexíveis de instrumentos. “Da santidade atribuída ao santuário terrestre, os cristãos devem aprender como considerar o lugar onde o Senhor Se propõe encontrar-Se com Seu povo" (Testemunhos Seletos, vol. 2, 193). Nesse texto, ela usa a santidade do templo para extrair um princípio para o culto cristão: a reverência.

7) Dorneles usa a regra do “não Está Escrito aqui, então está proibido”

Dorneles transforma uma lista de instrumentos que não inclui os tambores numa “proibição” aos tambores. A ausência dos tambores na lista de instrumentos do templo é entendida como uma proibição divina aos mesmos. No entanto, isso é um desrespeito ao princípio reformado “tota scriptura” de interpretação, já que os salmos claramente incentivam o uso de tambores.

Não existe em parte alguma da Bíblia a proibição “não usem tambores”. É uma proibição inferida, imaginada a partir da tal lista. Mas existem vários textos com o incentivo “usem tambores” no próprio hinário do Templo (Salmos)! Assim, textos claros deveriam ter a precedência sobre textos obscuros. Não há nenhuma explicação para essa lista ter prioridade sobre os outros inúmeros textos claros.

E Dorneles fica devendo uma explicação sobre que tipo de raciocínio ele utilizou para conseguir igualar uma “não menção” a uma "proibição". Os guardadores do domingo amariam essa explicação: eles insistem que a “não menção” ao mandamento do sábado no Novo Testamento representa uma invalidação do mesmo. Estaria Dorneles vendo inteligência nesse horroroso argumento anti-sábado?

Dorneles 
escreveu posteriormente: “E isso fica tão claro para Israel que ao longo de mais de 500 anos, a lista é repetida em diversos textos (I Crônicas 15:16, 19-24, 28, 16:5, 42, 23:5, 25:1, 6, II Crônicas 5:12-13, 29:25-27, Neemias 12:27, Isaías 39:20). A lista é consistente, não havendo qualquer relevante alteração entre os textos.”

Vamos analisar essas tais listas :
1 Cr 15:16 - 
alaúde, harpa, címbalo. Aqui Deus “proibiu” a trombeta e o shofar.
1 Cr 15:19-24 - 
alaúde, harpa, címbalo, trombeta. Aqui Deus “proibiu” só o shofar.
1 Cr 15:28 – 
shofar, alaúde, harpa, címbalo, trombeta. Aqui, meio indeciso, Deus permitiu a volta da trombeta e do shofar.
1 Cr 16:5 – 
alaúde, harpa, címbalo. Após ter permitido, Deus muda de idéia e “proíbe” a trombeta e o shofar novamente.
1 Cr 16:42 – 
trombeta, címbalo e kliy shiyr (outros instrumentos musicais). Se o v.5 e o v.42 representam uma lista só, menciona “outros instrumentos” além desses, e a lista não é consustente. Se são duas listas, elas não seguem um padrão, por isso também não é consistente.
1 Cr 23:5 – não lista instrumentos específicos.
1 Cr 25:1 – 
alaúde, harpa, címbalo. Deus “proibiu” a trombeta e o shofar.
1 Cr 25:6 - 
alaúde, harpa, címbalo. Deus “proibiu” a trombeta e o shofar.
2 Cr 5:12-13 - 
alaúde, harpa, címbalo, trombeta e kliy shiyr (outros instrumentos musicais). Mais uma vez, a lista não segue um padrão consistente e inclui “outros instrumentos”.
2 Cr 29:25-27 - 
alaúde, harpa, címbalo, trombeta. Deus “proibiu” só o shofar.
Ne 12:27 – 
alaúde, harpa, címbalo. Deus “proibiu” a trombeta e o shofar.
Is 39:20 – não existe esse texto
Acrescentamos:
2 Cr 20:28 - 
alaúde, harpa, trombeta. Deus “proibiu” o címbalo e o shofar.
Ed 3:10 - 
címbalo e trombeta. Aqui, Deus “proibiu” o alaúde, harpa e o shofar.

Ao contrário do que Dorneles afirma, a lista não é tão consistente e há sim relevantes alterações entre os textos. Se a teoria do “não está escrito, então está proibido” estiver correta, ela mostra que Deus estava indeciso e não sabia se queria mesmo autorizar ou proibir, afinal..

E se consultássemos os especialistas (salmistas)? A citação de instrumentos na adoração nos Salmos é riquíssima:

Trombetas (Sl 98:6), Shofar (Sl 98:6), Harpa (Sl 43:4; 98:5), Percussão (Sl 81:2; 149:3),Flauta (título do Salmo 5), Alaúde (Sl 71:22), etc.

Se houve de fato uma “proibição” divina ao uso de instrumentos, os salmistas aparentemente desconheciam ou a desobedeceram, pois incentivam o uso de uma gama enorme de instrumentos. É mais correto pensar que tal “proibição divina” a instrumentos de percussão nunca existiu.

8) Dorneles usa o argumento “os salmistas ainda não tinha luz”

Para confirmar e esclarecer as teorias de seu livro, Dorneles lançou um artigo chamado "O canto do Senhor". Nele, ele escreve sobre o Salmo 150:

“quando fala de como louvar, Davi naturalmente expressa a compreensão do louvor a Deus daquela fase de sua vida. A experiência do templo agregou mais luz a essa compreensão.”

Dorneles supõe que ao incentivar o uso de tambores, Davi ainda não tinha luz (conhecimento revelado) sobre o assunto. Dorneles não faz essa suposição baseado na Bíblia, mas num salmo apócrifo (veja próximo tópico).

Não cremos em inspiração verbal, mas acontece que essa proposta de Dorneles é semelhante à dos que adotam o método histórico-crítico de interpretação bíblica. Quer dizer que os compiladores dos Salmos não foram dirigidos pelo Espírito Santo, compilando para todas as gerações posteriores algo que apóia o que Deus supostamente já havia proibido? Os compiladores posteriores dos Salmos não repararam na letra dos Salmos “sem luz” que incentivam o uso da percussão?

Um outro autor, Gilberto Theiss, escreveu sobre o Salmo 150: “provavelmente, tenha sido escrito em um momento histórico da vida de Israel onde não havia ainda uma clara instrução divina acerca da forma apropriada para a adoração litúrgica”.

Isso é grave, pois uma afirmação desse porte está á beira de negar a inspiração plenária das Escrituras. Em quais partes dos Salmos ou da Bíblia como um todo poderíamos confiar, então? Não há nenhuma indicação bíblica de que o argumento da “falta de luz” seja verdadeiro. Há bastante instrução litúrgica na Torah. O autor do Salmo 150, bem como do 149, do 81, etc foram divinamente inspirados e não houve nenhuma correção posterior ou contradição do que eles escreveram sobre percussão.

Concordando com Dorneles, Gilberto Theiss, escreveu: “No tocante à adoração musical, o povo progressivamente foi abandonando os velhos costumes egípcios. Entre esses costumes que foram abandonados, destacamos as danças e o uso de tambores.”

A Escola dos Profetas (onde os alunos usavam percussão), os Salmos e textos bíblicos e rabínicos que falam claramente da percussão e da dança em celebrações religiosas refutam isso. Os hebreus usavam percussão e continuam usando. Os hebreus dançavam e os judeus modernos continuam dançando. Não precisamos distorcer textos e reescrever fatos históricos apenas para combatermos a dança. Existem outros argumentos para isso.

Além disso, o argumento da “falta de luz” também atinge as Escolas de Profetas. Deus criou uma instituição que ensinava música sacra com tambores. Talvez, o próprio Deus não tivesse luz sobre a música ideal ainda... Um pensamento absurdo.

O argumento da “falta de luz” gera um blackout...

9) Dorneles confundiu o Salmo 150 com o Salmo 151 (apócrifo)

Para dar força ao argumento da “falta de luz”, Dorneles comete uma gafe incrível no artigo“O canto do Senhor”. Para comprovar que o incentivo ao uso de tambores do Salmo 150 foi escrito antes da tal “reforma musical” de Davi, ele cita um comentário a respeito de um salmo que não existe na Bíblia!

Ele diz:
“Entre outras fontes de especialistas, a publicação The Septuagint Version (Zondervan: Grand Rapids, MI), diz que o Salmo 150 é “um salmo genuíno de Davi, composto quando ele venceu o combate com Golias”. Nesse caso, quando fala de como louvar, Davi naturalmente expressa a compreensão do louvor a Deus daquela fase de sua vida. A experiência do templo agregou mais luz a essa compreensão.”

Antes de tudo, seria importante saber quais são essas “outras fontes de especialistas”. Suspeito que isso seja apenas um recurso retórico para dar um falso peso acadêmico à bobagem que vem logo depois: a citação do apócrifo Salmo 151, presente na Septuaginta, que nada tem a ver com o Salmo 150.

Dorneles usa a versão Septuaginta para afirmar que o Salmo 150 é “um salmo genuíno de Davi, composto quando ele venceu o combate com Golias”, mas a Septuaginta traz isso no Salmo 151 (nao-inspirado) e não no 150.

Para ler o Salmo 151 on-line:
Em grego: 
http://www.septuagint.org/LXX/Psalms/151
Em inglês: 
http://ecmarsh.com/lxx/Psalms/index.htm

O que tem a ver um Salmo com o outro? Nada. Um é apócrifo, o outro é inspirado. Um traz informações sobre a data de sua composição, o outro não. Claramente Dorneles não percebeu que estava analisando o salmo errado. Até agora não encontramos nenhum esclarecimento ou errata de sua parte. Enquanto isso, o equívoco se alastra pela internet.

(O site Advir retirou o texto do ar, e o site musicaeadoracao apenas suprimiu esse trecho, mas manteve a argumentação sem divulgar nota esclarecedora)

10) Dorneles coloca os salmistas em desobediência

“Naquele dia, foi que Davi encarregou, pela primeira vez, a Asafe e a seus irmãos de celebrarem com hinos ao Senhor” (1Cr 16:7).

Asafe, que participou do transporte da arca e assumiu a liderança da música após isso, escreveu: “Comecem o louvor, façam ressoar o tamborim, toquem a lira e a harpa melodiosa." (Sl 81:2)

Asafe, um grande mestre da música em Israel, desconhecia a tal “reforma musical” que supostamente teria proibido os tambores. E é difícil conciliar a argumentação de Dorneles com o título do Salmo 5: “Ao mestre de canto, para flautas. Salmo de Davi.”

O compositor deveria acrescentar ao título: “eu não tinha luz quando fiz isso”, já que o acompanhamento deveria ser com flautas. No mínimo, os compiladores deveriam ter tomado alguma providência.

11) Dorneles usa a falácia da “falsa analogia”

Ele compara o uso de instrumentos musicais a costumes inadequados, como o uso de bebida forte, a poligamia e a escravidão:

“Da mesma forma que a revelação posterior, corroborada por estudo e reflexão, iluminou esses fatos que aos poucos foram sendo eliminados, a questão da música também deve ser objeto de estudo para compreensão e juízo acertados.”

A sutileza do erro aqui consiste em comparar coisas incomparáveis. Os costumes inadequados citados foram claramente corrigidos pelo Senhor. Através de claros preceitos e exemplos, vemos claramente Deus corrigindo as questões da bebida forte, da poligamia e da escravidão (essa, mais sutilmente). Para cada uma dessas práticas errôneas, temos um “Assim diz o Senhor” em sentido contrário.

Isso não acontece com a música como Dorneles acha que aconteceu: uma reforma musical divinamente instruída que baniu instrumentos da adoração e que seria aplicável ainda hoje. Dorneles compara correções claramente presentes na Bíblia com uma suposta correção imaginada.

Onde está essa "revelação posterior, corroborada por estudo e reflexão" no caso da música?
No mínimo, deveria ficar biblicamente evidenciado que a ordem bíblica contrária aos tambores é tão clara e direta quanto a ordem bíblica contrária à bebida forte ou à poligamia. Do contrário, incorre-se aí na falácia da falsa analogia.


12) A discussão "dentro do templo x fora do templo"

A questão “Dentro x Fora do Templo” aparece no livro e nos artigos de Dorneles disponibilizados na net. O argumento é: "os hebreus até usavam tambores em momentos de adoração, mas fora do templo, por isso não devemos usá-los dentro das igrejas. Tambores não entraram no templo e não devem entrar na igreja!"

Creio que esse argumento merece ser analisado mais criticamente. Não adoramos no Templo e, incrivelmente, nem temos o Templo como nosso modelo de práticas de culto. Qualquer culto cristão, seja ele feito num prédio ou debaixo de uma árvore, é “fora do templo”. Casas cristãs de culto não são “templos judaicos”.

Nossas casas de culto, que chamamos de “igreja”, não são “o Templo de hoje”. E nossa liturgia tem pouco a ver com a liturgia do Templo (com exceção dos princípios).

Muitas coisas deixaram de entrar no serviço do Templo [crianças, mulheres, gentios] mas nem por isso sua ausência deve servir de "padrão" para hoje. Por que então se singulariza a suposta ausência dos tambores e se omite a confirmada ausência de outros elementos?

Qual o princípio por trás da ausência das crianças no serviço do Primeiro Templo, por exemplo? Aplicando-se o método de interpretação de Dorneles, deveríamos deixar as crianças fora da igreja, pois não entravam no templo.

Isso mostra que o raciocínio "se tambores não entraram no templo judaico, não devem entrar na igreja" é discutível, pois a estreita comparação "templo-igreja" é discutível. O que mais não entrava no templo judaico? Eu não poderia entrar, por ser mulher. E provavelmente você, leitor, também não, por ser gentio.

Uma vez, Paulo foi condenado pelos judeus sob a falsa acusação de ter levado um efésio chamado Trófimo para dentro do templo, além do espaço permitido aos gentios (At 21:28,29).

28 "- clamando: Varões israelitas, acudi; este é o homem que por toda parte ensina a todos contra o povo, contra a lei, e contra este lugar; e ainda, além disso, introduziu gregos no templo, e tem profanado este santo lugar.
29 - Porque tinham visto com ele na cidade a Trófimo de Éfeso, e pensavam que Paulo o introduzira no templo."

Se Dorneles estivesse certo, o discurso dos judeus seria aplicável até hoje, e cenas como essa deveriam se repetir a cada sábado nos “templos”.

Outro problema é que a adoração bíblica não se restringia ao que acontecia no Templo. Apesar de ser o centro de adoração por excelência, o templo não representava toda a experiência de adoração do povo de Israel. O que se fazia no Templo tinha sua função, mas fora do Templo o povo adorava a Deus em cultos genuínos, com vários instrumentos e sob a aprovação divina.

Ellen White classifica como “culto” e “louvor” várias cenas de adoração fora do templo. Ela chama de “culto”, por exemplo, a música feita pelos profetas (ao ar livre) em 1 Sm 10:5 (Patriarcas e Profetas, 610).

E a ironia é: o transporte da arca, o evento que marcou a suposta "reforma musical", aconteceu ao ar livre! Assim, a discussão "dentro x fora do templo" perde muito o seu sentido.

Conclusão

O livro "Cristãos em busca do êxtase" é um excelente levantamento histórico do carismatismo e do pentecostalismo. Também faz uma ótima análise do papel da música nesse processo. No entanto, ao usar a Bíblia para analisar a música sacra, o autor apenas fez eco a argumentos usados contra a música contemporânea já fartamente refutados.

É hora de levarmos a discussão sobre música e adoração a um outro nível, mais alto, mais comprometido com a Bíblia. Grande parte das publicações sobre música começam afirmando que isso não é uma “questão de gosto”, que devemos saber a “vontade de Deus”. No entanto, após essa introdução bem-intencionada, os autores passam a expor suas opiniões pessoais costuradas com versos citados pela metade, descontextualizados, mal compreendidos e mal aplicados.

É incrível como a discussão sobre música parece ocorrer numa dimensão paralela, num universo onde a exegese é tosca, ilógica e a Bíblia é pisoteada. Ao adentrar nessa discussão, precisamos manter o mesmo nível, seguir as mesmas regras de interpretação bíblica que usamos em outros assuntos. Infelizmente, os artigos de Dorneles (um deles é parte de um capítulo de seu livro) não contribuíram para isso.

Por Vanessa Meira.