Realmente, leituras superficiais levam a pensar que, sobre esse assunto, parece haver uma suposta contradição bíblica, pois:
1)
Estevão, referindo-se aos filhos de Jacó que foram para
o Egito mencionou o seguinte:
“Então, José mandou chamar a
Jacó, seu pai, e toda a sua parentela, isto é, setenta e cinco pessoas”. (Atos
7:14 RA).
2)
Entretanto em Êxodo 1:5 e Gênesis 46:27 lemos:
“Todas as pessoas, pois, que
descenderam de Jacó foram setenta; José, porém, estava no Egito”. (Êxodo 1:5
RA).
“... Todas as pessoas da casa
de Jacó, que vieram para o Egito, foram setenta”. (Gênesis 46:27 RA).
Como explicarmos esta diferença? A Bíblia está se
contradizendo? Quantas pessoas migraram com Jacó para o Egito, 70 ou 75?
De acordo com erudito bíblico Gleason L. Archer[1],
podemos notar que Estevão propositadamente incluiu o numero dado pela
Septuaginta[2] que é de
75 ao invés de 70 pessoas. De fato em Êxodo 1:5 a Septuaginta diz o seguinte:
“Mas José estava no Egito e todas as almas de Jacó eram 75”
A explicação para essa diferença de totais é encontrada em
Gênesis 46:26-27.
O texto massorético hebreu[3]
diz: “Todos aqueles que foram ao Egito com Jacó - aqueles que foram seus
descendentes diretos, não contando as esposas de seus filhos - eram em número
de 66 pessoas. Com os 2 filhos que haviam nascido a José no Egito, os membros
da família de Jacó que foram ao Egito eram 70 ao todo”.
Mas o texto da Septuaginta (LXX) traz o seguinte: “E
todas as almas que vieram com Jacó para o Egito que descenderam dele sem contar
as esposas do filho de Jacó foram 66 pessoas. E os filhos de José na nasceram a
ele no Egito eram 9 pessoas. Todas as almas da casa de Jacó que entraram no
Egito foram 75.”
Em outras palavras, o total de 75 pessoas dado pela
Septuaginta inclui 9 descendentes de José ao invés de apenas 2 mencionados no
texto massorético. Aparentemente Manasses e Efraim tiveram 7 filhos entre eles
(somando os filhos de ambos) não exatamente na época da migração de Jacó para o Egito em 1876 a.C (nesta época eles
dificilmente teriam mais do que 7 e 5 anos respectivamente), mas provavelmente
tiveram filhos mais tarde porque Jacó permaneceu ainda 17 anos no Egito antes
de morrer. Manassés pode ter chegado aos 25 anos e Efraim aos 22 anos antes da
morte do avô Jacó. Sabe-se que neste período as pessoas casavam muito cedo.
Sendo assim os dois irmãos juntos bem poderiam ter tido 7 filhos antes de Jacó
morrer.
Portanto tanto as informações de Atos 7:14 como as de Êxodo
1:5 estão corretas embora os totais tenham sido calculados de modo diferente.
Vamos conferir: Os filhos de Jacó somavam 12; os seus netos
somavam 52. Já havia 4 bisnetos nascidos em Canaã por ocasião do tempo da
migração para o Egito. Somavam-se assim um total de 66 pessoas. Manassés e
Efraim, nascidos no Egito, elevavam o total a 68; Jacó e sua esposa (qualquer
delas) completavam o total de 70 pessoas - isto é o que consta no texto
massorético de Êxodo 1:1-5. Já a Septuaginta acrescentou os 7 netos de José, e
omitiu Jacó e a sua esposa do cômputo geral, chegando assim ao número de 75
pessoas.
Isso nos conduz ao resultado de que Estevão transmitiu
corretamente a informação de que 75 pessoas da família de Jacó haviam entrado
no Egito. Ele seguiu a informação dada pela Septuaginta em Gênesis 46:27 e
Êxodo 1:5.
Por outro lado também está correto o total de 70 pessoas
apresentado em Gênesis 46:27, Êxodo 1:5, e Deuteronômio 10:22. Portanto as duas informações estão corretas,
dependendo se os netos de José são incluídos, ou não.
E assim, notamos que a Bíblia, ao invés de contradizer-se, é
na realidade ampla em suas informações, obrigando o leitor sincero a ir de uma
leitura superficial para um estudo atentivo, o que lhe conduzirá ao objetivo
maior que é o caminho da salvação.
Que o Senhor e Salvador lhe conduza a este caminho salvífico!
Um abraço,
Pr. Valdeci Jr.
[1] Archer, Gleason L., Encyclopedia of Bible Difficulties
(Zondervan Publishing House, Grand Rapids, MI, 1982), pág. 378-379.
[2]Conhecida
versão do Antigo Testamento do hebraico para o grego, muito utilizada nos dias
de Jesus e seus discípulos. Também chamada de versão dos Setenta (LXX) por ter
sido produzida por 70 ou 72 eruditos cerca do ano 150 aC.
[3]Os
massoretas eram encarregados de copiar a mão o Antigo Testamento Hebraico. Eles
faziam seu trabalho com muito cuidado e esmero. Evidências arqueológicas
atestam que em mil anos o texto bíblico permaneceu praticamente inalterado
apesar das muitas cópias feitas.
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