quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Quantas pessoas migraram com Jacó para o Egito, 70 ou 75? Contradição Bíblica?

Realmente, leituras superficiais levam a pensar que, sobre esse assunto, parece haver uma suposta contradição bíblica, pois:

1)      Estevão, referindo-se aos filhos de Jacó que foram para o Egito mencionou o seguinte:

“Então, José mandou chamar a Jacó, seu pai, e toda a sua parentela, isto é, setenta e cinco pessoas”. (Atos 7:14 RA).

2)      Entretanto em Êxodo 1:5 e Gênesis 46:27 lemos:

“Todas as pessoas, pois, que descenderam de Jacó foram setenta; José, porém, estava no Egito”. (Êxodo 1:5 RA).

“... Todas as pessoas da casa de Jacó, que vieram para o Egito, foram setenta”. (Gênesis 46:27 RA).

Como explicarmos esta diferença? A Bíblia está se contradizendo? Quantas pessoas migraram com Jacó para o Egito, 70 ou 75?

De acordo com erudito bíblico Gleason L. Archer[1], podemos notar que Estevão propositadamente incluiu o numero dado pela Septuaginta[2] que é de 75 ao invés de 70 pessoas. De fato em Êxodo 1:5 a Septuaginta diz o seguinte: “Mas José estava no Egito e todas as almas de Jacó eram 75”

A explicação para essa diferença de totais é encontrada em Gênesis 46:26-27.

O texto massorético hebreu[3] diz: “Todos aqueles que foram ao Egito com Jacó - aqueles que foram seus descendentes diretos, não contando as esposas de seus filhos - eram em número de 66 pessoas. Com os 2 filhos que haviam nascido a José no Egito, os membros da família de Jacó que foram ao Egito eram 70 ao todo”.

Mas o texto da Septuaginta (LXX) traz o seguinte: “E todas as almas que vieram com Jacó para o Egito que descenderam dele sem contar as esposas do filho de Jacó foram 66 pessoas. E os filhos de José na nasceram a ele no Egito eram 9 pessoas. Todas as almas da casa de Jacó que entraram no Egito foram 75.”

Em outras palavras, o total de 75 pessoas dado pela Septuaginta inclui 9 descendentes de José ao invés de apenas 2 mencionados no texto massorético. Aparentemente Manasses e Efraim tiveram 7 filhos entre eles (somando os filhos de ambos) não exatamente na época da migração de Jacó  para o Egito em 1876 a.C (nesta época eles dificilmente teriam mais do que 7 e 5 anos respectivamente), mas provavelmente tiveram filhos mais tarde porque Jacó permaneceu ainda 17 anos no Egito antes de morrer. Manassés pode ter chegado aos 25 anos e Efraim aos 22 anos antes da morte do avô Jacó. Sabe-se que neste período as pessoas casavam muito cedo. Sendo assim os dois irmãos juntos bem poderiam ter tido 7 filhos antes de Jacó morrer.

Portanto tanto as informações de Atos 7:14 como as de Êxodo 1:5 estão corretas embora os totais tenham sido calculados de modo diferente.

Vamos conferir: Os filhos de Jacó somavam 12; os seus netos somavam 52. Já havia 4 bisnetos nascidos em Canaã por ocasião do tempo da migração para o Egito. Somavam-se assim um total de 66 pessoas. Manassés e Efraim, nascidos no Egito, elevavam o total a 68; Jacó e sua esposa (qualquer delas) completavam o total de 70 pessoas - isto é o que consta no texto massorético de Êxodo 1:1-5. Já a Septuaginta acrescentou os 7 netos de José, e omitiu Jacó e a sua esposa do cômputo geral, chegando assim ao número de 75 pessoas.

Isso nos conduz ao resultado de que Estevão transmitiu corretamente a informação de que 75 pessoas da família de Jacó haviam entrado no Egito. Ele seguiu a informação dada pela Septuaginta em Gênesis 46:27 e Êxodo 1:5.

Por outro lado também está correto o total de 70 pessoas apresentado em Gênesis 46:27, Êxodo 1:5, e Deuteronômio 10:22.  Portanto as duas informações estão corretas, dependendo se os netos de José são incluídos, ou não.

E assim, notamos que a Bíblia, ao invés de contradizer-se, é na realidade ampla em suas informações, obrigando o leitor sincero a ir de uma leitura superficial para um estudo atentivo, o que lhe conduzirá ao objetivo maior que é o caminho da salvação.

Que o Senhor e Salvador lhe conduza a este caminho salvífico!

Um abraço,

Pr. Valdeci Jr.



[1] Archer, Gleason L., Encyclopedia of Bible Difficulties (Zondervan Publishing House, Grand Rapids, MI, 1982), pág. 378-379.
[2]Conhecida versão do Antigo Testamento do hebraico para o grego, muito utilizada nos dias de Jesus e seus discípulos. Também chamada de versão dos Setenta (LXX) por ter sido produzida por 70 ou 72 eruditos cerca do ano 150 aC.
[3]Os massoretas eram encarregados de copiar a mão o Antigo Testamento Hebraico. Eles faziam seu trabalho com muito cuidado e esmero. Evidências arqueológicas atestam que em mil anos o texto bíblico permaneceu praticamente inalterado apesar das muitas cópias feitas.

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