Neste mês, o homem que disse que não iria morrer estaria completando 90 anos. Ariano Villar Suassuna, “um dos maiores nomes da literatura brasileira”,[1] vivia intensamente e negava a morte de uma forma muito enfática.[2] Como escritor, tinha a vida e a literatura como duas coisas indissolúveis, e dizia: “a gente, pela arte, procura conseguir uma forma precária, mas ainda assim eficaz, de imortalidade”.[3] A forma como ele continua “vivo” é na memória da sociedade que representou, através das republicações ou lançamentos inéditos de suas obras, das peças que acontecem e das inúmeras monografias sobre o legado artístico deixado por ele e dos personagens como João Grilo, Chicó, Quaderna, etc., que nunca mais sairão da cultura brasileira.[4]
E quem de nós quer morrer?
Mas mesmo atrás da arte, o homem Ariano sempre viveu um grande dilema pessoal com o assunto da morte. “Eu acho que o homem não foi criado pra morte. O homem foi criado pra imortalidade”.[5] Embora esse criacionista tenha sido um grande intelectual, em toda sua obra teceu a estampa do menino de Taperoá, intenso no cômico riso das artes populares nordestinas e no trágico trauma do assassinato de seu pai.[6] Seu sofrimento não foi somente quando, aos três anos de idade, ficou órfão. Por toda sua vida, lutou para entender o que dizia ser o maior problema filosófico da humanidade: “o problema do mal e o sofrimento humano”. E, em busca de uma esperança, assumia ser religioso,[7] como todos os que anseiam preencher um vazio existencial que possuem.
Jesus era o herói de Suassuna.[8] O homenageado paraibano-pernambucano, advogado, secretário de cultura, romancista, ensaísta, dramaturgo, escritor traduzido para diversas línguas, poeta, membro das academias paraibana, pernambucana e brasileira de letras, crítico literário, acadêmico, mestre e Doutor Honoris Causa, filho de governador e deputado federal, nunca negou sua fé. Claro que, em sua juventude, teve seus momentos de dúvidas. Mas quando leu Dostoievski afirmando que “sem Deus, então vale tudo”, reagiu. Decidiu ter uma fé consciente. Fosse dando entrevistas ou apresentando suas aulas-espetáculo diante de grandes políticos, acadêmicos, intelectuais, jornalistas ou críticos, à frente de grandes auditórios universitários ou câmeras midiáticas, nunca se envergonhou em dizer que cria em Deus. Ele acreditava ser isso uma necessidade humana.[9]
É possível que toda essa vivacidade de um homem que tanto temia a morte[10] se devesse ao fato de que ele não somente cria em Deus, mas também se relacionava com Ele.[11] Na realidade, ele tinha consciência da morte.[12] Só luta pela vida quem tem consciência da possibilidade do estado sem vida. Se você não tem medo da morte, não venha me dizer que se importa com o Reavivamento. Todos devemos temer a pior de todas as Caetanas[13]: a espiritual. Não ter medo dessa morte pode ser um terrível perigo de insensibilidade para com o pecado.[14] Por outro lado, é exatamente a conscientização de que realmente somos naturalmente vulneráveis ao extermínio, que pode nos dar a sobrevida plena e perfeita.
No Céu, teremos muitas surpresas. A maior delas será nos darmos conta de que chegamos lá. E para tanto, você tem um único caminho: Jesus![15]
Um abraço,
Pr. Valdeci Jr.
Fonte: http://noticias.adventistas.org/pt/coluna/valdeci-junior/ariano-suassuna-nao-morreu/
Referências
[1] VICTOR, Adriana; LINS, Juliana. Ariano Suassuna: um perfil biográfico. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2007, p. 140.
[2] No fim de suas aulas sempre dizia, “eu não vou morrer”, como por exemplo, em sua aula-espetáculo na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília, em 15/04/2014, quando repetiu “eu não pretendo morrer”, três meses antes de sua morte.
[3] SUASSUNA, Ariano. Em entrevista dada a Pedro Bial, no programa Espaço Aberto da Globo News em 1997.
[4]Ver, por exemplo, RANGEL, Mateus. Os 90 anos de Ariano são celebrados com livro inédito, peça e relançamento da obra, no Diário de Pernambuco. Disponível em: .
[5] SUASSUNA, Ariano. 1997, op. cit.
[6]MEDEIROS, Rostand. O pai de Ariano Suassuna – quem foi João Suassuna, como se deu a sua morte e como este fato influenciou a vida e a obra de seu filho Ariano, em Tok de História. Disponível em: .
[7] NEPOMUCENO, Eric. Ariano Suassuna. Entrevista realizada em 29/04/2014 e veiculada pelo programa Sangue Latino do Canal Brasil em 30/07/2014. Disponível em: .
[8] Declaração feita na palestra apresentada no Tribunal Superior do Trabalho, no dia 18/04/12, na inauguração do auditório Ministro Mozart Victor Russomano. Disponível em: .
[9] NEPOMUCENO, Eric. Em entrevista inédita, Suassuna disserta sobre temas como Deus, morte e filosofia. Disponível em: .
[10] CAMAROTTI, Gérson. Em manuscrito inédito, Suassuna faz reflexão sobre a morte. Disponível em: .
[11] VICTOR, Fábio. Em entrevista exclusiva, Ariano Suassuna diz que fez ‘pacto com Deus’ para terminar livro. Disponível em: .
[12] CARVALHO, Daniel. ‘Vou morrer, mas meus personagens ficarão’, disse Suassuna em última aula. Disponível em: .
[13] Era assim que Suassuna chamava a morte, pela tradição nordestina de personificá-la com esse nome.
[14] “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 6:23).
[15] O “único que possui imortalidade” (1Timóteo 6:14-16), e diz: “Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida. Ninguém vem ao Pai, senão por Mim” (João 14:6).
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