É muito evidente que o propósito
de João é evangelizar judeus e prosélitos. Ele é consciente da ‘pedra de
tropeço’ que a cruz é para os judeus (1Coríntios 1:23), deixando claro o
objetivo de tornar coerente a noção do Messias crucificado. Assim, não remove a
ofensa que, na cruz, está intrínseca. O que ele sente que tem que fazer, pode
fazer, e termina fazendo, são duas coisas: a) demonstrar que a cruz estava lá
desde o princípio do ministério de Jesus, que é anunciado como “Cordeiro de
Deus”; b) mostrar que a cruz é, ao mesmo tempo, nada menos que um plano de
Deus, a evidência da rejeição de um povo a seu Messias, o meio para que Cristo
retornasse para a presença do Pai, o centro dos inexplicáveis propósitos de
Deus para efetuar a purificação e a vida ao seu povo, o despontar da prometida
era escatológica e o inusitado projeto divino em trazer glória a Si mesmo ao
ser glorificado em Seu
Messias. É por ter esse foco tão definido, que João não fala
nada sobre a transfiguração.
Esse propósito pode ser
identificado quando analisa-se de perto o “trama” do evangelho de João. Não é
um “enredo” montado simplesmente em narrativa de eventos em seqüência. Explicando :
quando dizemos “O patrão gritou, e o empregado gritou também”, isso é uma
história. Agora, quando dizemos “O patrão gritou inocentemente, e o empregado
gritou também, mas de raiva”, isso é um enredo. Apesar de que os acontecimentos
são preservados em sua ordem cronológica, esta ordem traz a noção de
causalidade. É por isso que o “drama” do evangelho de João apresenta-se de
forma tão concisa, estando amarrado, por fim, a algumas coisas: a)ao que poderíamos
chamar de “momento X”; b)ao objetivo divino no plano da redenção fundamental
para todo o testemunho cristão; c)à morte; d)à ressurreição e exaltação de
Cristo Jesus; e e)à necessidade urgente de uma crença autêntica no curso
daquele acontecimento. Logo, ao longo do livro, nada detém o autor a trabalhar
na ênfase do ponto cruz, ao ponto de, se preciso, chegar a pressionar qualquer
ser humano a entrar em concordância neste ponto vitalmente salvívico.
Este objetivo de João é
totalmente responsável pela pintura tão maravilhosa das suas ênfases
teológicas. Estas ênfases apresentam-se de forma tão integrada que, se há uma
tentativa de compartimentalizar a idéia central, separando os seus componentes
em itens, termina-se, em grande parte, desfigurando-lhes. E como tudo se
condensa? No título que o apóstolo escolhe dar a Jesus: “Palavra”, que, no princípio,
sendo Deus, expressou-se a nós.
Fonte: D.A.Carson, “The Gospel According to
John” “Introduction”, Intervarsity Press.
Valdeci
Júnior
Fátima
Silva
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