Pastor, como sua igreja passou a ter as doutrinas que tem hoje? Quando a igreja foi fundada já foi estabelecida com todas as atuais doutrinas, como estão? Ou elas foram se desenvolvendo aos poucos? Se foi o caso, em tal desenvolvimento foi tudo um "mar de rosas", ou houve tensões?
Eu tenho o prazer em compartilhar com você sobre esta história interessante. Mas não vou fazer isso sozinho. George Knight, em seu livro "Em Busca de Identidade", responde a esta pergunta, melhor do que qualquer outra pessoa o faria. Portanto, abaixo, segue para você a "isca". Pegar o peixe ou não, é contigo.
“EM BUSCA DE IDENTIDADE”
“O desenvolvimento das doutrinas adventistas do sétimo dia”
Resenha Crítica
Identificação do Livro
Sobre o Autor
O historiador americano George Raymond Knight, aos seus setenta anos, ainda é um efetivo palestrante, em diversas partes do mundo. Ele compartilha sua experiência de ter acompanhado e pesquisado a fundo acerca da história dos adventistas do sétimo dia. Em março deste ano, ao assistir pessoalmente algumas de suas palestras em um encontro internacional de pastores, pude comprovar que ele realmente tem um conteúdo fantástico a transmitir.
Knigth foi arrancado do agnosticismo em 1961, pelos pregadores Vance Ferrell e Ralph Larson. Mas seu currículo tem uma longa trajetória, desde que adquiriu seu bacharelado no Pacific Union College, seu mestrado em divindade na Adnrews University e finalmente seu doutorado na universidade de Houston, em 1976. Hoje, é um cristão apologista. E isto lhe trás uma visão bifocal. Em tudo que já escreveu, demonstra ser um apaixonado membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), mas, ao mesmo tempo, ter consciência das crises que esta igreja já enfrentou.
Depois de ter ensinado no seminário de teologia por mais de trinta anos, atualmente, este professor emérito da Andrews University (Berrien Springs, Michigan) é aposentado, mas continua, também, escrevendo. Em sua experiência de vida como escritor, já lançou mais de trinta livros sobre educação, religião e história. Diversos destes números têm sido traduzidos e editados em dezenas de países. Atualmente, ele mora em Oregon, EUA, onde está trabalhando na edição de um grande comentário bíblico devocional.
Descrição do Conteúdo
Neste livro, George Knight (GN) faz uma exposição histórica de como as doutrinas da Igreja Adventista do Sétimo Dia foram formadas. Pessoas, debates, controversas, reavivamentos, reformas, aventuras, desânimos e vitórias fazem parte desta narrativa. Em oito capítulos, o leitor é levado a olhar para o tempo como uma passarela na qual um movimento mundial significativo segue um rumo certo. GN não usa de parcialidade ao descrever até mesmo as turbulências deste desenvolvimento.
No primeiro capítulo, ao falar sobre “A Natureza Dinâmica da ‘Verdade Presente’”, alguns mitos são desfeitos. Muitos olham para os adventistas como são hoje e pensam que eles sempre foram assim. Se esta igreja existe para defender a verdade, por não ser dona da verdade, sempre teve, desde seu estado embrionário, a pré-disposição de ser dinâmica no aprendizado e na prática do que Deus revela ao ser humano.
Portanto, a noção básica das características deste desenvolvimento em constante mudança é dependente do conhecimento de duas coisas: o que existia antes da concepção do adventismo e como foi o seu nascimento. O leitor começa inteira-se destes pressupostos no segundo capítulo: “O Adventismo Não Nasceu no Vácuo”.
“O Fundamento Teológico dos Mileritas” (este é o terceiro capítulo) também estabeleceu uma coleção de conceitos filosóficos e teológicos definitiva para talhar o que viria a ser, no futuro, a IASD. No começo do século dezenove, o denominacionalismo norte americano era influenciado por várias correntes de pensamento. Os anabatistas, os restauracionistas, os metodistas, os deístas, os puritanos, os baconistas e outros montavam um cenário de interesses bíblicos inovadores. E foi neste contexto que os mileritas surgiram. Eram todos os que criam na iminência do segundo advento de Cristo naquela geração.
O grande desapontamento que aquelas pessoas sofreram em 1844 levantou um grande questionamento: “O Que é Ser Adventista no Adventismo? (1844-1885)”. E neste quarto capítulo, GN descreve as diferentes inquietações que os adventistas tiveram e como buscaram suas respostas dentro da Bíblia. Foi neste período que a organização institucional e a base teológica dos adventistas do sétimo dia surgiram. As maneiras como crêem na volta de Jesus, no ministério celestial de Cristo, no ensino bíblico sobre o sábado e na natureza mortal do homem definiram tal teologia. Nascia então a primeira identificação formal e visível dos adventistas do sétimo dia.
“O Que é Cristão no Adventismo? (1886-1919)”. Ironicamente, apesar de fazer parte do cristianismo moderno, a IASD parecia estar perdendo sua identidade de denominação cristã. O quinto capítulo do livro descreve o “Cenário Para a Discórdia (p91)”. No palco, predominaram duas super ênfases: a) nas crenças distintivas da igreja, em detrimento da pregação cristocêntrica; e b) na tendência errônea de olhar mais para a mensagem de Ellen White do que para a bíblica. Mentalmente, o leitor é levado para Mineápolis, Minnesota, para assistir as reuniões de uma assembléia da Associação Geral de 1888. O que aconteceu ali levou os adventistas, pelas décadas seguintes, à busca de sua identidade cristã.
Enquanto isso, o mundo protestante estava em tensão com o pensamento moderno. Nesta crise, nasciam as identificações do modernismo e do fundamentalismo protestantes, levando de carona o adventismo a perguntar-se sobre “O Que é Fundamentalista no Adventismo? (1919-1950)”. Fundamental para este meandro eram as escolhas que os adventistas fariam dos modos de interpretação da revelação e da inspiração concedidas de Deus ao ser humano. Ao fazer isso, definiriam sua confirmação em mais crenças fundamentais bíblico-cristãs. Mas isto teria o preço de criar projéteis condutores de várias dissidências belicosas, de pessoas que optam por não acompanhar a mudança que o crescimento do conhecimento teológico ocasiona.
Estes dissidentes estariam, em sua ótica, na busca pela pregação e prática de um adventismo melhor por ser histórico. Outros estariam enfocados em buscar pelo que realmente significou tudo o que aconteceu em 1888. Paralelamente, se levantam competitivas discussões sobre o papel e a autoridade dos escritos de Ellen White para os adventistas. E ainda polarizam-se os que defendem diferentes teorias sobre como Deus inspira os profetas para revelar-Se. Amadurecida e bem definida em suas crenças fundamentais, a IASD entrou para o século vinte vendo-se obrigada a saber conviver com isto que GN denomina no sétimo capítulo de “O Adventismo em Tensão Teológica (1950- )”.
“O Que Tudo Isso Significa?” Este oitavo e último capítulo, além de mostrar o significado do que vem a ser a IASD, traz pelo menos três preciosas lições ao leitor: a) Fazer teologia para rebater outra teologia não leva a nada. Os que fizeram isso só causaram confusão. A simples busca pelo que a Bíblia tem a revelar sempre foi mais edificante. b) A rigidez de um credo inflexível leva ou a vãs tradições, ou a conflitos separatistas. O melhor é ser aberto a sempre crescer no conhecimento de Deus. c) Os adventistas têm crenças distintas e crenças comuns em relação aos demais cristãos. Para saber viver bem com esse duplo aspecto, é preciso equilíbrio. A melhor identificação dos adventistas sempre esteve e continuará em Apocalipse 14:12.
Propósito da Obra
Knight nos esclarece que este livro “examina o desenvolvimento histórico da teologia adventista. Conforme expresso no título, o livro considera essa expansão como a busca contínua por uma identidade” (p10). Como a história desta busca também contém uma série de tensões, o autor procura responder “as perguntas e questões provocadas pelas várias crises enfrentadas pela denominação ao longo do tempo” (p11).
“Tentei tratar do tema o mais breve possível”, comenta GN na mesma página introdutória da obra. Mesmo assim, ele consegue mostrar “que os pioneiros adventistas criam que a ‘verdade presente’ era dinâmica (e não estática) e que podia ser alterada à medida que o Espírito Santo conduzia a igreja em seu Estudo da Bíblia” (p11-12). Esse é o foco que o leitor precisa enxergar, pois
“o adventismo moderno adota o mesmo ponto de vista. Por outro lado, certas crenças fundamentais adotadas pelos adventistas são tão básicas que definem o próprio adventismo e não poderiam ser alteradas sem criar uma corporação religiosa inteiramente diferente. Nesse sentido, a história da teologia adventista é uma história de contínua transformação no contexto da estabilidade.
“Em Busca de Identidade é a primeira tentativa de fornecer uma visão abrangente do desenvolvimento da teologia adventista” (idem).
De acordo com Neal C. Wilson, ex-presidente da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia (1979-1990), este livro reforça o fato de que esta igreja “é um movimento profético com uma mensagem profética e uma missão profética” (Wilson, p8). Anteriormente, Wilson já havia comentado que GN, ao revelar a trajetória da IASD, expõe “uma jornada repleta de perigos ocultos, desvios doutrinários sutis e perigosas ciladas. Sua pesquisa levanta muitas questões desconcertantes, mas legítimas, e apresenta respostas satisfatórias” (Ibid., p7).
“Acredito que Em Busca de Identidade ajudará os leitores a compreender melhor a teologia adventista e seu desenvolvimento histórico”, resume o autor no final de sua nota introdutória ao livro, na página treze.
Fontes
Na nomenclatura usada em metodologia histórica, existem as fontes primárias e as fontes secundárias. As fontes primárias são os documentos diretamente relacionados com o objeto do estudo do autor. Por exemplo, se ele vai escrever uma biografia, as fontes primárias seriam os documentos pessoais do biografado, as entrevistas com ele, as correspondências escritas por ele, os sermões produzidos por ele, os artigos escritos por sua autoria, seu diário, etc. Já as fontes secundárias, nesse caso, seriam tudo que outros que não vivenciaram com o indivíduo teriam citado sobre ele. Um exemplo de fontes secundárias nós podemos ver na edição do evangelho de Lucas. O autor bíblico diz: “eu mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo”, “conforme [os fatos que] nos foram transmitidos por aqueles que desde o início foram testemunhas oculares e servos da palavra” (versos 3, 1 e 2). Mas vale observar que a revelação do Espírito Santo a Lucas inspirando-lhe a escrever foi uma fonte primária.
George Knight, na obra Em Busca de Identidade, escreve a história da vida teológica de uma igreja. Um historiador, ao autorar um livro histórico como esse, sempre usa fontes primárias e fontes secundárias. É importante usar os dois tipos de fontes. Pois, se ele desconhecesse as fontes primárias, correria o risco de distorcer os fatos; e se desconhecesse as fontes secundárias, poderia apresentar um relatório desatualizado. No caso de GN, quase que poderíamos dizer que, como ele domina o assunto, e como é uma autoridade respeitada em tal matéria, ele próprio seria a fonte. Mas a documentação é importante. Enquanto vai contando a história, o próprio texto do livro vai apresentando de onde as informações foram tiradas, tanto de documentos diretos dos arquivos da igreja, quanto de outros autores que escreveram sobre a IASD.
Pontos Fortes e Pontos Fracos
O livro realmente alcança os objetivos propostos que descrevemos acima. Quando terminei de ler o mesmo, minha reação foi esta satisfação de que a suma que pude reter foi exatamente o que o prefácio e a nota ao autor propuseram-me no início da leitura. Além de capacitar-me a responder a muitos questionamentos quanto à história da IASD e de derrubar muitos mitos eclesiásticos que eu tinha em mente, percebi que Em Busca de Identidade foi honesto em mostrar-me uma cara mais autêntica do adventismo. E além de ter sido um material de leitura, agora poderá continuar ajudando-me com uma fonte de consulta, pois, em sua parte final, tem um ótimo índice remissivo.
Entretanto, apesar de ter uma boa redação, neste livro, GN perdeu a oportunidade de desenvolver seu texto em uma linha cronológica mais definida. Se um livro se propõe a contar uma história, deveria contá-la em sequência, e não indo e vindo com tantas nuances irregulares. Ao ler, enquanto tentava mentalizar a linha do tempo, eu tinha a sensação de que estava dentro de um ônibus coletivo num centro urbano bem desorganizado, quando você anseia por pegar uma reta, mas isso nunca acontece. Mas depois a reta aparece, pois essa confusão concentra-se mais na primeira parte do livro, somente.
Se os capítulos tivessem tamanhos mais parecidos, e fossem menores, também teriam uma didática melhor. O livro tem uns capítulos muito grandes e outros muito pequenos. Creio que o autor não foi feliz na escolha do subítulo. Eu escrevia algo como “um breve relato de alguns pontos relevantes na história do desenvolvimento da teologia adotada pelos adventistas do sétimo dia”. Já mencionei alguma coisa sobre como GN usa as fontes. “As notas de referência foram inseridas no texto e são tão breves quanto possível (p13). ”Apesar de confiar no autor, creio que sua falta em documentar é grave no sentido de não ajudar o leitor a continuar pesquisando. Uma bibliografia mais completa forneceria dados suficientes para que outros seguissem estudando o assunto mais a fundo.
Público Alvo
“A obra é erudita, informativa, estimulante e instrutiva” (Wilson, p7). Em Busca de Identidade, ao mesmo tempo que consegue satisfazer a busca de conhecimento de um estudante, não é uma obra acadêmica, mas sim, popular. Contribui para a comunidade acadêmica com informações, mas não com bibliografia. Comentando sobre todos seus livros desta série sobre o legado adventista, GN argumenta: “embora eu tenha escrito tendo em mente leitores adventistas, os livros também procuram apresentar uma sólida introdução de seus respectivos temas à comunidade em geral”. Serve para os adventistas saberem “quem somos nós” e para os não-adventistas saberem “quem são eles”.
Para os que amam e defendem a IASD, esta obra é uma ferramenta apologética de primeira mão. Para os que têm dúvidas quanto à idoneidade desta igreja, o livro Em Busca de Identidade também é útil. Portanto, acho que este livro é para todos os cristãos que têm senso histórico. Espero que esta resenha crítica seja importante para servir como um instrumento que lhe ajude a fazer uma abalizada avaliação quanto à possível aquisição, ou não, do livro Em Busca de Identidade. Eu recomendo esta obra.
Um abraço,
Twitter: @Valdeci_Junior
Leia mais sobre o ensino bíblico da Trindade em: Trindade clicando aqui.
Pergunta Que Será Respondida Amanhã:
Já pesquisei muito sobre um questionamento que tenho, mas ainda não encontrei um comentário bíblico que me responda. A pergunta é: "Se o assunto do texto de Mateus 5:28 até Mateus 5:32 é adultério, o que este verso da "mão", o verso 30, está fazendo aí?". Sabe pastor, é que pra mim, este verso faz parte do assunto, da moral, da cobiça sexual e do pecado sexual que o indivíduo pratica solitariamente. Portanto, o que consigo ver neste verso, é uma alusão clara à masturbação. Parece-me que as regras hermenêuticas que aprendi, mais apóiam do que desapontariam esta interpretação. Mas eu nunca encontrei ninguém interpretando este verso assim. Daí eu fico me questionando, se estou fazendo uma "eixegese". O que o senhor acha? Se você já leu algum comentário ou trabalho sobre isto, e puder indicar-me, ficarei grato.
Fiquei empolgado em obter o livro "Em Busca de Identidade". Esta resenha crítica foi muito empolgante Pr. Valdeci!
ResponderExcluirEstava olhando o livro na CPB e ele está por R$ 22,90, quase 10 Reais mais barato do que na época que esta resenha foi escrita, acho que será um bom negócio rsrs