sábado, 9 de fevereiro de 2013

A Vocação Espiritual do Pastor

Quem disse que o pastor tem que ser líder? Este é o primeiro nó que Eugene Peterson consegue levantar na cabeça do leitor, logo em suas primeiras palavras cunhadas em A Vocação Espiritual do Pastor. Por aí, já dá pra ver que o livro é bom. Trata-se de uma busca profunda pelos verdadeiros motivos ministeriais escondidos nos mais profundos cantos obscuros do coração, recônditos da alma e baús do inconsciente de cada profeta contemporâneo. Entenda por profeta, qualquer pessoa que tenha um ministério.

A preocupação por redescobrir o chamado ministerial se faz relevante, porque os equívocos quanto ao que é um ministério e alguém que tem um ministério são absurdamente aberrantes. Perdoe-me por tanto adjetivizar, mas aqui não dá pra deixar por menos. E como aconteceu com o contexto da história de Jonas, os equívocos não se oriundam na cabeça dos expectadores que fazem seus julgamentos, mas sim no que está escondido nos verdadeiros motivos de quem peca ao fazer o bem.

Os palcos onde o pecado pode ser mais seguramente santificado são o púlpito, a ministração, a igreja, o lugares de adoração e unção, a religião. Por quê? Porque é muito fácil fazer a coisa boa pelos motivos errados: auto-promoção, busca de aceitação, justificação por obras, exibicionismo, sucesso profissional, carreirismo, etc. E estas coisas nunca são reveladas, pois sempre ficam veladas pelos discursos da piedade e da missão. O resultado são os pseudo-ministérios, como por exemplo o ministério da promoção de programas e agendas e o ministério da messianidade humana.

Como isso acontece? Como escapar disso? Está tudo no livro de Jonas. Só que a gente parece não entender, ou não querer entender, o puxão de orelha. E se o problema for linguagem e contextualização, eis que aparece Peterson - Under the unpredctable plant: an exploration in vocational holiness – debaixo da planta imprevisível,explorando a santidade da vocação (este é o título original). Trocando em miúdos, o livro é uma análise do ministério de Jonas configurando um verdadeiro raio-X  que desnuda nossas atuais razões pastorais.



Há saída para isto? Sim! Várias! Por exemplo, quando comenta sobre a tendência que o perfil da atual religiosidade evangélica está a tomar, rumo à trivialização, à comercialização eclesiástica, ao entretenimento litúrgico, à acomodação cultural e ao sacrifício da verdade, Eugene Peterson sugere solução para a igreja é que esta passe investir sua atenção e esforços à pregação escatológica e apocalíptica, numa iniciativa, primariamente, pastoral (128-139). Mas a principal solução estaria na coragem que os ministros teriam que ter em despirem-se, completamente, para, constrangidos, permitirem-se ser revestidos pelo que realmente importasse e fosse relevante aos olhos de Cristo, e não da instituição das expectativas de liderança pós-moderna.




Recomendo este livro à esmagadora maioria dos pastores que hoje temem serem pegos de bermudas no vasto triângulo onde se encontram tempestuosamente perdidos entre a instituição, a congregação e seu próprio coração. Ninguém sabe. Mas ninguém precisa saber também quem leu, ou não, Eugene Peterson.




Deus salve o ministério pastoral!

Um abraço,

Pr. Valdeci Jr.

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