Quem disse que o pastor tem que ser líder? Este é o primeiro
nó que Eugene Peterson consegue levantar na cabeça do leitor, logo em suas
primeiras palavras cunhadas em A Vocação
Espiritual do Pastor. Por aí, já dá pra ver que o livro é bom. Trata-se de
uma busca profunda pelos verdadeiros motivos ministeriais escondidos nos mais
profundos cantos obscuros do coração, recônditos da alma e baús do inconsciente
de cada profeta contemporâneo. Entenda por profeta, qualquer pessoa que tenha
um ministério.
A preocupação por redescobrir o chamado ministerial se faz
relevante, porque os equívocos quanto ao que é um ministério e alguém que tem
um ministério são absurdamente aberrantes. Perdoe-me por tanto adjetivizar, mas
aqui não dá pra deixar por menos. E como aconteceu com o contexto da história
de Jonas, os equívocos não se oriundam na cabeça dos expectadores que fazem
seus julgamentos, mas sim no que está escondido nos verdadeiros motivos de quem
peca ao fazer o bem.
Os palcos onde o pecado pode ser mais seguramente
santificado são o púlpito, a ministração, a igreja, o lugares de adoração e
unção, a religião. Por quê? Porque é muito fácil fazer a coisa boa pelos
motivos errados: auto-promoção, busca de aceitação, justificação por obras,
exibicionismo, sucesso profissional, carreirismo, etc. E estas coisas nunca são
reveladas, pois sempre ficam veladas pelos discursos da piedade e da missão. O
resultado são os pseudo-ministérios, como por exemplo o ministério da promoção
de programas e agendas e o ministério da messianidade humana.
Como isso acontece? Como escapar disso? Está tudo no livro
de Jonas. Só que a gente parece não entender, ou não querer entender, o puxão
de orelha. E se o problema for linguagem e contextualização, eis que aparece
Peterson - Under the unpredctable plant:
an exploration in vocational holiness – debaixo da planta
imprevisível,explorando a santidade da vocação (este é o título original).
Trocando em miúdos, o livro é uma análise do ministério de Jonas configurando
um verdadeiro raio-X que desnuda nossas
atuais razões pastorais.
Há saída para isto? Sim! Várias! Por exemplo, quando comenta
sobre a tendência que o perfil da atual religiosidade evangélica está a tomar,
rumo à trivialização, à comercialização eclesiástica, ao entretenimento
litúrgico, à acomodação cultural e ao sacrifício da verdade, Eugene Peterson
sugere solução para a igreja é que esta passe investir sua atenção e esforços à
pregação escatológica e apocalíptica, numa iniciativa, primariamente, pastoral
(128-139). Mas a principal solução estaria na coragem que os ministros teriam
que ter em despirem-se, completamente, para, constrangidos, permitirem-se ser
revestidos pelo que realmente importasse e fosse relevante aos olhos de Cristo,
e não da instituição das expectativas de liderança pós-moderna.
Recomendo este livro à esmagadora maioria dos pastores que
hoje temem serem pegos de bermudas no vasto triângulo onde se encontram tempestuosamente
perdidos entre a instituição, a congregação e seu próprio coração. Ninguém
sabe. Mas ninguém precisa saber também quem leu, ou não, Eugene Peterson.
Deus salve o ministério pastoral!
Um abraço,
Pr. Valdeci Jr.
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