Aprendi isso quando morei lá, no alto sertão: Delmiro
Gouveia, a última cidade do sertão alagoano. O problema lá não é exatamente a
falta de água; o problema é a seca. Duas coisas parecidas, mas que não são exatamente
a mesma coisa. Em Delmiro Gouveia, nunca vi faltar água. Mas a seca é intensa. Não
precisa ser biólogo pra entender isso.
Vou lhe dar uns exemplos práticos. Eu plantei uma horta no
fundo do quintal. Com todas as técnicas e fertilizantes possíveis, e muita
água. Não me importava se a conta de água viria cara. Eu molhava a horta sem
dó. E sabe o que aconteceu depois de muitos meses? Colhi um prato cheio de
pequeninas folhas, que lutaram ao máximo para crescer mirradamente uns poucos
centímetros, senão milímetros. Por causa da seca, e não da falta d´água. Pra
você ter uma ideia, para dormir era assim. Eu ligava o ar condicionado do
quarto às 20h, e deixava pra ir dormir entre as 23h e 0h, que era mais
suportável. Na hora de dormir, encharcava uma toalha, torcia a mesma sobre o chão do
quarto (cerâmica impermeável) afora , e pendurava a mesma molhada na cabeceira
da cama. Ia ao chuveiro, me molhava, e vinha molhado (atravessando a lagoa
feita no quarto) e me deitava molhado, sobre o lençol, que terminava ficando um
pouco molhado também. Pra aguentar o tranco, lá pelo meio da madrugada eu
levantava, tomava outra ducha, vinha e me deitava molhado de novo. Quando o dia
amanhecia, o quarto estava seco e a toalha dura (de seca) na cabeceira da cama.
Isso é a seca mesmo tendo água.
Isto tem que ver com toda a natureza, todo o bio sistema, e não
apenas com o reservatório ou o canal de água. Lá, se você fura um poço
artesiano longe de um córrego, ele não dá água porque não tem lençol freático. E
se você fura no lençol freático de um “córrego” (aqueles canais secos cheios de
pedra onde era pra ter um córrego), em cinco anos você acaba com o mirrado
lençol freático e dali em diante não tem nem mais córrego nem mais poço. Não tem
pra onde correr. Uma das cidades que eu cuidava, em meu trabalho era Inhapi, que pode ser vista na foto abaixo, na época mais fértil e verde do ano.
Lá, o povo sempre tinha água, trazida pelos caminhões pipa que buscavam a mesma há mais de cem quilômetros, no rio São Francisco. É interessante. Eles têm água, mas não plantam nada. Não é por preguiça. São trabalhadores. Mas é porque a planta não depende apenas de uma irrigação (ainda mais artificial). Quando vivi por lá, em todo o município tinha 23 poços. Cinco tinham sido cavados até o limite máximo e não tinham dado uma gota dágua. Vinte e três tinham água insalubre, agressiva à natureza e, por não ser tratada, imprestável.
Lá, o povo sempre tinha água, trazida pelos caminhões pipa que buscavam a mesma há mais de cem quilômetros, no rio São Francisco. É interessante. Eles têm água, mas não plantam nada. Não é por preguiça. São trabalhadores. Mas é porque a planta não depende apenas de uma irrigação (ainda mais artificial). Quando vivi por lá, em todo o município tinha 23 poços. Cinco tinham sido cavados até o limite máximo e não tinham dado uma gota dágua. Vinte e três tinham água insalubre, agressiva à natureza e, por não ser tratada, imprestável.
Interessante, que se você observa a região, vê que a
sequidão está nas planícies e baixadas, onde às vezes até se acha um fio dágua.
E nos topos dos montes e das serras é tudo verdinho. Lá, onde a possibilidade
de se achar um córrego e muitíssimo menor, estão os agricultores que ainda restam. Eles
têm pasto, roça, hortas e frutas (ainda que de forma bem acanhada). Porquê?
Porque por ser mais alto há mais umidade do ar, e com isso todo o biosistema é
diferenciado.
Quando você estiver viajando de carro, observe como é a
natureza próximo a um rio ou um córrego. Quando estiver num avião, observe o pavilhão
que se forma, vale abaixo, às margens de um rio, de uma natureza diferenciada.
Você vê uma flora diferente. Mas em função dela, saiba que há também uma fauna
e um reino mineral, diferenciados. Volto a dizer, não é preciso ser biólogo
para entender isso: um rio não é apenas um canal de água. Ele tem lençol
freático, fauna, flora, reino mineral e até mesmo condições atmosféricas, todos
diferenciados, em torno e função de si. Você me entende?
O Governo quer dar ao povo um canal de cimento cheio d’água.
Mas nunca conseguirá dar àquele lugar o restante dos componentes da natureza
que criariam um ambiente ideal para o pasto, o plantio, a produção. Cavar
poços, fazer a canalização de saneamento tradicional, ter uma frota pipa que
leve e traga a água, ter cisternas captadoras, ensinar o povo a usar tudo isso
e muitos outros recursos, é muito mais barato do que desviar o curso de um rio.
Mas, apesar de ser mais barato, é mais trabalhoso e dá mais retorno ao povo do
que à máquina política. Além de tudo, é lugar comum. E o político precisa de uma
aparente obra faraônica, para então parecer ser uma pessoa fenomenal
(angariadora de votos, e depois também de tudo o que os votos lhe proporcionam). Tudo bem
que muitos sertanejos percebem isso. Mas não é com o voto de quem vai beber a
água que o político está preocupado, porque eles são poucos, uma vez que a
densidade demográfica lá é muito pequena. O que os políticos querem é
impressionar o resto do Brasil, que por não conhecer a realidade de lá fica
impressionado com a tal da possível transposição, achando que isso seria algo
fantástico.
Portanto, começar uma obra dessas foi estratégico, porque
fez do idealizador um deus todo ciente o suficiente de que ele agarraria o retorno
de sua farsa antes do tempo suficiente de se terminar a obra e sairia como
santo, deixando a bomba nas mãos dos próximos. E agora os próximos querem tirar
o mesmo tipo de vantagem. Porque, no dia em que eles entregarem a falsária
obra, a água vai correr sim, milhares de quilômetros a fora. Mas se for só
isso, o Brasil continuará vendo um povo que terá água mas estará sedento de
todos os demais recursos dignos ao ser humano que hoje lhes falta.
Isso será mais trágico ainda: ver um suposto rio impotente de matar a fome,
denunciador da burrice ou negligência daqueles que tinham o poder nas mãos de
terem feito o bem e o certo (e não o bonito ou intencional) e não o fizeram.
Escrevo estas palavras com um nó na garganta porque tenho um
carinho muito grande por aquele povo que aprendi a amar. Eles merecem que o bem
seja feito por eles, e não o mal. E o que estes políticos fazem é pior do que a
negligência. Se eles esquecessem aquilo lá seria melhor, sabia? Porque pior que não dar esperança, é dar falsas
esperanças. É muita maldade! O que o sertanejo realmente precisa não está na
preocupação do Governo. O que o brasileiro precisa não é preocupação do político. Nosso Brasil
encontra-se numa situação que é de dar dó. Precisamos, acima de estratégias,
falatórios e buscas de trocas de poder, buscar intensamente a Deus, para que
nos visite, e salve os seus filhos deste mundo tão sofredor. Interceda, ore pelo nosso povo, pela nossa nação!
Um abraço,
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