Vou introduzir este assunto contando-lhe uma anedota. Quando vou dar alguma palestra sobre a parábola do Rico e o Lázaro, introduzo assim a palestra:
Certa vez, morreram, na mesma hora, em lugares diferentes mas não muito distante um do outro, dois homens. O primeiro era um senhor simples, sem estudos, motorista de ônibus na pequena região onde morava. Era conhecido de todos, principalmente pela má execução de sua tarefa profissional. Era muito, mas muito barbeiro. Foi assim a vida toda, até que morreu em acidente de transito. O segundo homem era o pastor da cidadela.
Pois bem, chegaram na porta do céu praticamente juntos. São Pedro atendeu primeiro o motorista. No questionário de admissão para entrar no céu, quando São Pedro queria saber quem ele era, aquele homem começou a explicar: eu sou aquele conhecido motorista de ônibus, da empresa tal, de tal cidade, e tal e tal... Ah, ta! Disse São Pedro. Você é o motorista barbeiro! “Justamente, respondeu o homem”! Pois bem! Disse São Pedro. Entre! O céu é todo seu!!
O pastor, que estava assistindo a entrevista enquanto esperava para ser também atendido, pensava: “Se este homenzinho foi admitido ao céu, imagine eu, o pregador”.
São Pedro se virou para o pastor: “Você é o próximo?”
“Sim”, respondeu o pastor, todo empolgado, “sou o pastor, da mesma cidade deste barbeiro que acabou de entrar...”
São Pedro cortou: “Olha, eu sei quem você é. Infelizmente, você não tem entrada livre ao céu. Não poderá ficar aqui”.
“Mas como?”, contestou o pastor, “este homenzinho ignorante, iletrado, que fazia seu trabalho mal feito, que não pregava, que vivia dando prejuízo pra empresa, que sempre deixava todos os seus passageiros tensos e temerosos, vai entrar no céu, e eu, o pregador, que vivia na igreja, que falava da palavra de Deus, que procurava deixar todos em paz, não poderei entrar?”
“É justamente nesta diferença que está a razão da rejeição de sua entrada em face da admissão do motorista”, respondeu São Pedro,
Não entendi, “disse o pregador”.
O apóstolo porteiro do céu explicou: “É que enquanto você estava na igreja, com seus sermões sem vida, colocando todos os seus fiéis para dormir, o motorista estava colocando todos os seus passageiros para rezar”.
Depois que conto a piada, antes ainda de revelar ao auditório qual será o assunto do dia, começo a perguntar às pessoas quais são as lições que tiramos desta historiazinha.
É interessante notar alguns pontos da reação do auditório:
1) Assim que termino a história, os ouvintes sorriem.
2) Eles vão fazendo a lista das lições aprendidas:
“Nem todo o que me diz Senhor, Senhor entrará no reino dos céus.”
“Os simples também têm entrada no céu”
“É melhor a devoção do que o formalismo”
“Ser pastor não garante a salvação”
“O pregador deve fazer bons sermões”
“O céu não admite só pela aparência”
“As aparências enganam”
“Devemos vigiar e orar”
E por aí vai...
3) Interessante é que ninguém, praticamente, (até hoje ainda não apareceu) diz que viu nesta piada lições assim:
“O senhor estava querendo ensinar que:” (o auditório referindo-se a mim).
“São Pedro está lá na porta do céu esperando por nós”
“Antes de entrarmos no céu teremos que passar por uma entrevista”
“Assim que morremos chegamos ao céu”
“Pode ser que cheguemos à porta do céu e não sejamos admitidos”
4) Ninguém se escandaliza por ou ridiculariza a história.
5) Esperam então que eu introduza o assunto da palestra baseado em alguma das lições que conseguiram tirar da historia. Começam a imaginar qual será o tema da noite. Jamais pensam que irei falar da parábola do rico e do lázaro.
Mas porque conto esta piada? Para ajudar-lhes a entender a resposta ao mesmo questionamento que você me fez:
“Mas, assim como não prova a imortalidade da alma, também não prova a mortalidade [o que esta parábola ensina, então?]”
Eu me aproveitei de uma crendice popular, não me preocupando que seja ela verdadeira ou não, apenas para, com uma historia inventada, ensinar algumas lições. Porque faço isto?
§ O meu auditório sabe que esta não é uma historia verdadeira
§ Eles conhecem a crendice popular de que quem morre vai pro céu, e na entrada encontra com São Pedro.
§ Eles não crêem nesta crendice como doutrina. Sabem que isto não é verdade (sou seguro disto, porque já conheço o auditório e sem que eles crêem como eu creio, sobre o destino do homem após a morte).
§ Eles vão conseguir captar as lições que quero ensinar com mais facilidade, pois, através de uma metáfora, estou figurando o ensino. Isto é didática. (a primeira vez que ouvi esta historia, ela foi contada por um palestrante que não cria na imortalidade da alma, para um publico que também não cria – era um seminário sobre pregação expositiva e o palestrante queria enfatizar a necessidade de não deixar os membros dispersos por ocasião do sermão. Na ocasião, todos entenderam a mensagem. A questão de mortalidade ou imortalidade nem foi cogitada por ninguém. Não era este o assunto).
Mas eu também corro alguns riscos.
1) Alguns podem se escandalizar por eu contar esta piada
2) Uma minoria pode pensar que estou ensinando as lições:
“São Pedro está lá na porta do céu esperando por nós”
“Antes de entrarmos no céu teremos que passar por uma entrevista”
“Assim que morremos chegamos ao céu”
“Pode ser que cheguemos à porta do céu e não sejamos admitidos”
Isto foi o que Jesus fez.
3) A crença da imortalidade da alma era muito popular, através de lendas e mitos, entre os gregos. O mundo civilizado de então estava globalizando-se, intelectualmente, com as influências helenísticas
4) O auditório de Jesus era judeu. Judeus não crêem na imortalidade da alma (até hoje, os que conservam suas crenças fundamentais - por um outro lado, na época já haviam alguns judeus influenciados pelo helenismo). Eles jamais concebem esta idéia.
5) O judeu conhecia a crendice popular da época, sobre céu e inferno, espalhada entre o povo.
6) Jesus se aproveitou destes contos sobre situações de ir pra céu e inferno e inventou sua historia.
7) Jesus sabia, que o auditório sabia, que esta não era uma historia verdadeira.
8) Jesus sabia que os judeus não criam naquela crendice popular como doutrina
9) O Mestre pretendia que eles conseguissem captar as lições que queria ensinar, com mais facilidade, pois, através de uma metáfora, estava figurando o ensino. Estava sendo pedagógico.
10) Jesus correu o risco de alguém ridicularizá-lo por seus ensinos (o que ocorreu na própria época).
11) Jesus correu o risco de alguém interpretá-lo mal, pensando que ele estava ensinando a doutrina da imortalidade da alma (como acontece hoje).
12) O ensino de Jesus naquela ocasião não tinha nada que ver com mortalidade ou imortalidade. Ele não queria provar nem um dos lados deste nosso questionamento.
Então o que Jesus queria ensinar?
“Está claro que nesta parábola Jesus continua apresentando a lição iniciada com a parábola do mordomo infiel, de Lucas 16;1-12, e [que] a tônica se Seu ensino é que o “destino eterno” de uma pessoa é determinado pelo uso que ela faz das oportunidades que se apresentam HOJE” (Lourenço Gonzalez, Assim Diz o Senhor, Niterói, RJ: Editora Ados, s/d, capitulo 17. Neste capítulo o autor faz uma longa exposição sobre as inúmeras lições que Jesus ensinou na parábola em estudo), pois após a morte “não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” Eclesiastes 9:10. É um ensino exatamente oposto ao que querem ensinar com a “doutrina” da imortalidade da alma.
Veja o que uma comentarista bíblica escreveu sobre esta parábola:
Aplicação à Nação Judaica
Quando Cristo deu a parábola do rico e Lázaro, havia muitos na nação judaica na condição lastimosa do rico, usando os bens do Senhor para a própria satisfação egoísta, preparando-se para ouvir a sentença: "Pesado foste na balança e foste achado em falta." Dan. 5:27. O rico foi favorecido com todas as bênçãos temporais e espirituais, mas recusou cooperar com Deus no uso destas bênçãos. Isto se dava com a nação judaica. O Senhor fizera dos judeus depositários da verdade sagrada. Nomeou-os mordomos de Sua graça. Deu-lhes todas as vantagens temporais e espirituais, encarregou-os de partilhar estas bênçãos. Uma instrução especial fora-lhes dada a respeito do tratamento de irmãos empobrecidos, dos estrangeiros dentro de suas portas e dos pobres entre estes. Não deveriam procurar ganhar tudo para o proveito próprio, antes deveriam lembrar-se dos necessitados e repartir com eles. E Deus prometeu abençoá-los de acordo com as suas obras de amor e misericórdia. Como o rico, porém, não estendiam a mão auxiliadora para aliviar as necessidades temporais e espirituais da humanidade sofredora. Cheios de orgulho, consideravam-se o povo escolhido e favorecido de Deus; contudo não serviam nem adoravam a Deus. Depositavam confiança na circunstância de serem filhos de Abraão. "Somos descendência de Abraão", diziam, com altivez. João 8:33. Ao chegar a crise foi revelado que se tinham divorciado de Deus, e confiado em Abraão como se fosse Deus (E.G.W., Parábolas de Jesus, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, s/d, 267, 268).
Amigo(a), você vai ver, quando terminar este estudo sobre a mortalidade da alma, sua esperança no plano redentivo e sua compreensão sobre o amor de Deus serão ampliadas. Estou compartilhando isto com você por ser uma alegria e uma benção na minha vida!
Um abraço do seu amigo e irmão em Cristo,
Pergunta Que Será Respondida Amanhã:
Ao receber mensalmente minha aposentadoria, devo dizimá-la?
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