terça-feira, 13 de março de 2012

Análise Crítica de "CONFRONTANDO OS CONTEXTOS URBANOS COM O EVANGELHO"

Hoje eu quero fazer uma análise crítica do capítulo daquele livro sobre o qual eu coloquei o resumo aqui ontem (para ler o artigo, clique aqui). Quando acabei de ler o artigo, fiquei satisfeito por tê-lo feito. Não somente por tratar-se do conteúdo escrito por um autor que admiro muito, que é Roger S. Greenway. O maior aproveitamento que tive da leitura foi o puxão de orelha, ao relembrar-me de que, como ministro do evangelho, não devo ficar trancafiado no escritório e na igreja o tempo todo. Aqui entra o papel fundamental que a visitação pastoral tem para a vitalidade da igreja e do ministério pastoral.

Na parte onde Greenway trata do pluralismo no contexto sócio-religioso da população urbana, tive um aproveitamento maior para minha própria dissertação, uma vez que um dos pontos que estou analisando no pentecostalismo é justamente a tendência pluralista dos pentecostais. Greenway comprova o que tenho hipotetizado em minha pesquisa: mesmo para os religiosos cristãos, a Bíblia tem deixado de ser autoritativa.

Na página 42, o autor apresenta um quadro que faz uma “comparação geral das vidas na cidade e rurais (bem como nas vilas) com implicações para o ministério pastoral). É uma tabela muito útil para o atual pastor sintonizar-se quanto à mentalidade de quem ele está pastoreando. Esteja ele no campo, nas vilas ou na metrópole, estará sempre lidando com pessoas de um mundo globalizado, que interagem com mentalidades dos demais contextos além dos seus próprios. Hoje, a globalização faz com que as pessoas sofram os choques transculturais sem precisar sair de casa.

Quando Greenway escreveu este artigo, há mais de vinte anos, ele dizia que “uma geração inteira precisa [precisaria] passar antes que os retirantes sintam [sentissem] que podem [poderiam] participar ativamente na vida interna da típica igreja urbana”. Claro, quando Greenway escreveu isso, ele estava vivendo a conclusão da década de maior migração rural-urbana da História. Era quando estavam acontecendo os maiores choques transculturais dos ex-camponeses agora urbanos, o que previa que muitas adaptações deveriam acontecer. Mas isto é passado, e já aconteceu. Uma geração inteira já se passou para que os filhos dos ex-rurais (bem como eles mesmos) tenham seu próprio espaço na igreja metropolitana.

A dificuldade da transição cultural sócio-religiosa de quem era rural e passou a ser urbano, esboçada em três aspectos pelo autor, pode ser vista claramente nas atuais limitações do adventismo. Os pioneiros adventistas eram colonos, mas hoje a maior concentração adventista é metropolitana. A igreja adventista migrou, e ainda sobre o choque da transação cultural.

Primeiro porque o adventismo é expressivamente tradicional. Este apego a muitas tradições parece fazer com que os adventistas queiram viver numa redoma alienada do mundo. É o exclusivismo. “Mas o pluralismo da cidade não os deixará sozinhos pra sempre, e, mais cedo ou mais tarde, eles terão que fazer escolhas que poderão contrariar a opinião da maioria”, adverte Greenway.

Segundo porque a cosmovisão da vida cristã holística que o adventismo muito bem a tem, entra em choque com as novas realidades de usos e costumes da atual vida metropolitana. Para o adventista, não basta ter a religião no coração: ela tem que expressar-se em todas as áreas da vida. É aí que, se os adventistas não conseguem transpor os princípios e valores do mundo dos pais na fé para o atual mundo, entra o choque. 

Que responsabilidades sociais a igreja deve assumir? Novamente, diante do trauma, muitos são levados a cair num comportamento extremista. E então, “sua habilidade para refletira mensagem cristã e aplicá-la aos problemas e desafios da vida urbana, o que é função essencial do discipulado urbano, pode ficar minimizada por muito tempo”.

E é aí onde entra o terceiro perigo, de que a religião tenda a “apresentar o evangelho em termos que deixem várias áreas da vida humana sem serem transformadas ou ao menos tocadas”. Veja como a seguinte descrição, que não foi feita para os adventistas, se parece com muitos comportamentos de determinados contextos da igreja adventista. “Estranho como possa parecer, estas fraquezas têm sido reforçadas por incontáveis púlpitos urbanos, especialmente nos círculos das igrejas conservadores onde atitudes rurais continuam a dominar congregações urbanas e pregadores populares mantêm seus membros socialmente tranqüilizados através de um tipo de pregação e ensino orientados pela mentalidade rural. Como conseqüência, uma das grandes fraquezas de algumas grandes igrejas urbanas é que, tão longe quanto sua conscientização está, elas ainda estão vivendo no seu passado rural”.

Nisso aí o autor profetizou bonitinho! Apesar de que seu artigo tenha muitas desatualizações (como por exemplo, em dizer que 80 por cento dos jovens que são protestantes quando entram na universidade abandonam a fé durante a graduação). Naquela época, diante de tais dificuldades que o autor ia descrevendo, ele imaginava que grandes mudanças aconteceriam no jeito de fazer igreja. Infelizmente ele errou. A igreja conseguiu sim, adaptar seus métodos evangelísticos, em algumas coisas. Mas não em tudo o que precisava. Infelizmente, o que mais tem acontecido é que, com medo de encarar as constantes transformações do mundo, a igreja tem se encolhido no exclusivismo doentio. É Roger, o mundo mudou, e a única certeza estável é a de que ele continuará mudando. É interessante “dialogar” com alguém que, do outro lado da linha, está há mais de duas décadas atrás.

O mais interessante de Roger S. Greenway é a sua teoria da necessária “compreensiva visão do discipulado urbano”, que nós poderíamos traduzir para os adventistas como o indispensável evangelismo integrado não somente de palavra, mas, inclusive, de fato. Evangelização sem contextualização é hipocretização.

Um abraço,

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