Hoje eu quero fazer uma análise crítica do capítulo daquele livro sobre o qual eu coloquei o resumo aqui ontem (para ler o artigo, clique aqui). Quando acabei de ler o artigo, fiquei satisfeito por tê-lo
feito. Não somente por tratar-se do conteúdo escrito por um autor que admiro
muito, que é Roger S. Greenway. O maior aproveitamento que tive da leitura foi
o puxão de orelha, ao relembrar-me de que, como ministro do evangelho, não devo
ficar trancafiado no escritório e na igreja o tempo todo. Aqui entra o papel
fundamental que a visitação pastoral tem para a vitalidade da igreja e do
ministério pastoral.
Na parte onde Greenway trata do pluralismo no contexto
sócio-religioso da população urbana, tive um aproveitamento maior para minha
própria dissertação, uma vez que um dos pontos que estou analisando no
pentecostalismo é justamente a tendência pluralista dos pentecostais. Greenway
comprova o que tenho hipotetizado em minha pesquisa: mesmo para os religiosos
cristãos, a Bíblia tem deixado de ser autoritativa.
Na página 42, o autor apresenta um quadro que faz uma
“comparação geral das vidas na cidade e rurais (bem como nas vilas) com
implicações para o ministério pastoral). É uma tabela muito útil para o atual
pastor sintonizar-se quanto à mentalidade de quem ele está pastoreando. Esteja
ele no campo, nas vilas ou na metrópole, estará sempre lidando com pessoas de
um mundo globalizado, que interagem com mentalidades dos demais contextos além
dos seus próprios. Hoje, a globalização faz com que as pessoas sofram os
choques transculturais sem precisar sair de casa.
Quando Greenway escreveu este artigo, há mais de vinte anos,
ele dizia que “uma geração inteira precisa [precisaria] passar antes que os
retirantes sintam [sentissem] que podem [poderiam] participar ativamente na
vida interna da típica igreja urbana”. Claro, quando Greenway escreveu isso,
ele estava vivendo a conclusão da década de maior migração rural-urbana da
História. Era quando estavam acontecendo os maiores choques transculturais dos
ex-camponeses agora urbanos, o que previa que muitas adaptações deveriam
acontecer. Mas isto é passado, e já aconteceu. Uma geração inteira já se passou
para que os filhos dos ex-rurais (bem como eles mesmos) tenham seu próprio
espaço na igreja metropolitana.
A dificuldade da transição cultural sócio-religiosa de quem
era rural e passou a ser urbano, esboçada em três aspectos pelo autor, pode ser
vista claramente nas atuais limitações do adventismo. Os pioneiros adventistas
eram colonos, mas hoje a maior concentração adventista é metropolitana. A
igreja adventista migrou, e ainda sobre o choque da transação cultural.
Primeiro porque o adventismo é expressivamente tradicional.
Este apego a muitas tradições parece fazer com que os adventistas queiram viver
numa redoma alienada do mundo. É o exclusivismo. “Mas o pluralismo da cidade
não os deixará sozinhos pra sempre, e, mais cedo ou mais tarde, eles terão que
fazer escolhas que poderão contrariar a opinião da maioria”, adverte Greenway.
Segundo porque a cosmovisão da vida cristã holística que o
adventismo muito bem a tem, entra em choque com as novas realidades de usos e
costumes da atual vida metropolitana. Para o adventista, não basta ter a
religião no coração: ela tem que expressar-se em todas as áreas da vida. É aí
que, se os adventistas não conseguem transpor os princípios e valores do mundo
dos pais na fé para o atual mundo, entra o choque.
Que responsabilidades sociais
a igreja deve assumir? Novamente, diante do trauma, muitos são levados a cair
num comportamento extremista. E então, “sua habilidade para refletira mensagem
cristã e aplicá-la aos problemas e desafios da vida urbana, o que é função
essencial do discipulado urbano, pode ficar minimizada por muito tempo”.
E é aí onde entra o terceiro perigo, de que a religião tenda
a “apresentar o evangelho em termos que deixem várias áreas da vida humana sem
serem transformadas ou ao menos tocadas”. Veja como a seguinte descrição, que
não foi feita para os adventistas, se parece com muitos comportamentos de
determinados contextos da igreja adventista. “Estranho como possa parecer,
estas fraquezas têm sido reforçadas por incontáveis púlpitos urbanos,
especialmente nos círculos das igrejas conservadores onde atitudes rurais
continuam a dominar congregações urbanas e pregadores populares mantêm seus
membros socialmente tranqüilizados através de um tipo de pregação e ensino
orientados pela mentalidade rural. Como conseqüência, uma das grandes fraquezas
de algumas grandes igrejas urbanas é que, tão longe quanto sua conscientização
está, elas ainda estão vivendo no seu passado rural”.
Nisso aí o autor profetizou bonitinho! Apesar de que seu
artigo tenha muitas desatualizações (como por exemplo, em dizer que 80 por
cento dos jovens que são protestantes quando entram na universidade abandonam a
fé durante a graduação). Naquela época, diante de tais dificuldades que o autor
ia descrevendo, ele imaginava que grandes mudanças aconteceriam no jeito de
fazer igreja. Infelizmente ele errou. A igreja conseguiu sim, adaptar seus
métodos evangelísticos, em algumas coisas. Mas não em tudo o que precisava. Infelizmente,
o que mais tem acontecido é que, com medo de encarar as constantes transformações
do mundo, a igreja tem se encolhido no exclusivismo doentio. É Roger, o mundo
mudou, e a única certeza estável é a de que ele continuará mudando. É
interessante “dialogar” com alguém que, do outro lado da linha, está há mais de
duas décadas atrás.
Um abraço,
Twitter: @Valdeci_Junior
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