quarta-feira, 28 de março de 2012

Teologia de Missão Integral

Acabo de ler um livro fantástico! Na realidade, quando comecei a lê-lo foi motivado por minhas obrigações acadêmicas de mestrado. Mas, quando fui degustando suas páginas, percebi o prejuízo que teria se não o tivesse lido. Além de ser pastor, estou cursando "Missão Urbana", e deparei-me com este livro de alguém que também é pastor e é estudioso em assuntos afins.

Érico Tadeu Xavier é pastor. Ele escreveu este livro enquanto trabalhava em Londrina, Paraná. Ele estudou em Londrina, onde fez um doutorado em ministério. Mais tarde, fez outro doutorado (PhD) em missiologia, em Costa Rica, pelo PRODOLA (Programa Doutoral Latino Americano). Hoje, está na Bolívia, como professor de teologia no SALT (Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia ) e editor da Revista Doxa. Ele também dá aulas no programa de mestrado do SALT campus IAENE (Bahia).




Informação Bibliográfica

Érico Tadeu Xavier, Teologia de Missão Integral nas práxis evangélicas na América Latina, Londrina, Paraná: Editora Descoberta, 2011, 289 páginas.

Descrição do Conteúdo

O livro faz uma descrição histórica das eclesiologias latino-americanas e dá ênfase às quatro dimensões de crescimento integral da igreja sugeridas pelo teólogo Orlando Costas. Considerado como o primeiro missiólogo latino-americano a ter destaque no campo da missiologia (88), Costas tinha como preocupação a contextualização da evangelização (105-106). Logo, para Costas, o crescimento de uma igreja só pode ser considerado saudável se for integral, abrangendo:

a) O crescimento numérico, no qual é possível verificar-se que a quantidade de pessoas está aumentando em determinada comunidade de crentes;

b) O crescimento orgânico de uma igreja é o seu desenvolvimento organizacional, em seu governo, nas participações financeiras, na capacidade da liderança, na aplicação dos recursos e na celebração litúrgica;

c) O crescimento conceitual são as constantes ênfases no aprendizado e na reciclagem cognitiva dos fiéis, visando-os a estarem cada vez mais conscientes do conteúdo que envolve suas crenças e fundamentos;

d) O crescimento diaconal é o serviço sócio-humanitário da igreja, não somente no atendimento aos membros, mas, principalmente, na preocupação de ser um agente social na comunidade onde está inserida.

Depois de expor o pensamento de Orlando Costas, Xavier então passa a compará-lo com a práxis teológica adventista. A busca consiste em verificar se o crescimento da IASD teria a integralidade visada por Costas. Num aspecto demonstrativo, Xavier então estuda o crescimento da IASD em Londrina, Paraná, cidade onde vive e estuda. O autor chega então à conclusão de que, com poucas diferenças, a IASD tem uma prática eclesiástica que reflete o pensamento eclesiológico de Costas.

Análise Crítica

O estudo de caso nas igrejas de Londrina serve para se ter uma vaga idéia do todo. Mas eu não ousaria usar o estudo da IASD/Londrina como demonstrativo da IASD/Brasil. Não creio que seria coerente, pois as realidades são muito diferentes. Depois que entrei na obra, já passei pelo território de pelo menos 5 Uniões, e posso verificar que embora a IASD tenha uma só teoria, as práxis missiológicas variam muito.

Não concordo com o autor quando fala que “a ênfase nas atividades ministeriais demonstra que o empenho dos pastores tem sido maior (...) também na questão do discipulado (236)”. Segundo a “Tabela 4 – Atividades enfatizadas pelos pastores das igrejas de Londrina”, o item “discipulado” foi o menos marcado (231). Apenas uma igreja teve este item assinalado.

A frase de Luís Gonçalves “Não basta ser adventista, tem que ser evangelista” (234) precisa ser confrontada com Efésios 4:11, ou, pelo menos, ser melhor explicada à luz de tal passagem bíblica. Uma coisa é dizer que todos os cristãos devem estar envolvidos com a comissão evangélica, conforme White o faz (Apud White, 1976a, p. 28), e outra coisa diferente é desrespeitar a distribuição diversificada dos dons espirituais que o Espírito Santo faz, esperando que todos tenham que ter o dom de serem evangelistas.

Esta obra, pelo valor que tem, carece de uma melhor revisão textual. O trabalho editorial de um revisor de língua portuguesa não somente corrigiria alguns usos inadequados de ortografia, gramática, acentuações e de maiúsculas e minúsculas, bem como ajudaria o autor a expressar melhor algumas coisas que pretende comunicar. Por exemplos:

a) “A igreja Central menciona que o site da IASD de Londrina foi o mais acessado no período de outubro de 2009, acima do Unasp” (235).  Pergunto: o mais acessado entre quais outros sites? Todos do Brasil? Todos da Igreja Adventista? Todos do Paraná?

b) “No aspecto do crescimento orgânico, segundo a visão de Costas (1998), a IASD tem procurado alcançar os propósitos relacionados à forma de governo, à estrutura física e financeira, à capacitação e preparo da liderança (...)” (241). Aqui, o uso de uma vírgula desnecessária criou um aposto que faz o leitor entender o que não é real. Pois, se Orlando Costas, em 1998, já fizera sua própria análise do crescimento integral da IASD, então de que valeria esta obra de Xavier? Logo, é lógico chegar à conclusão de que o que Xavier queria dizer seria: “No aspecto do crescimento orgânico segundo a visão de Costas (1998), a IASD tem procurado alcançar os propósitos relacionados á forma de governo, à estrutura física e financeira, à capacitação e preparo da liderança (...)”.

c) O autor denomina “ADRA” como “Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais”. Mas o significado correto da sigla é “Agência de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais”, embora até mesmo alguns departamentos oficiais superiores da IASD façam também este uso equivocado da descrição da sigla. Aliás, seria proveitoso se, numa próxima edição, o autor trabalhasse com uma tabela de siglas e abreviaturas nas seções iniciais da obra.

A obra “Teologia de Missão Integral”, embora tão recentemente lançada, pode ser considerada um clássico trabalho de orientação evangelística. Além dar ao leitor a consciência das raízes histórica, antropológica, social, cultural e teológica do mundo religioso e da sociedade que o cercam, lhe sugere as melhores dicas possíveis de como permear este meio com uma prática de evangelização segundo os passos do mestre do cristianismo, Jesus.

O bom mesmo deste livro, é que ele sacia a sede de qualquer missionário, seja ele acadêmico ou leigo. Na realidade, Teologia de Missão Integral é praticamente uma tese doutoral. Mas Xavier conseguiu fazer a arte de publicá-la em um caráter ao mesmo tempo popular e erudito. Isso é incrível, pois a maioria dos autores e editores ou  não consegue sair do academicismo ou estraga seu próprio conteúdo ao popularizá-lo. Mas com esta obra isso não aconteceu (e aqui abro um parêntese para recomendar os trabalhos de edição da minha esposa, formada em jornalismo científico, rsrsrs: revisorafatimasilva@gmail ). Ela alcança o nível dos estudiosos e do grande público.

Sua leitura é indispensável a qualquer discípulo comprometido com a comissão deixada por Cristo.

Um abraço,

Twitter: @Valdeci_Junior

Um comentário:

  1. Bom dia, gostaria de receber mais informações a respeito de missão integral e missão urbana.
    pode me enviar algum conteudo sobre o assunto.
    meu email amarantefilho@hotmail.com

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