sábado, 18 de setembro de 2010

O Cristão Como Subproduto da Informação

Ultimamente tenho me sentido mal em assistir a noticiários na TV. Parece que fico meio depressiva depois de ver tanta desgraça. A vida é assim mesmo? Será que, como cristã, tenho a obrigação de estar 'informada" de tanta desgraça? Será que, como cristã, eu poderia deixar de estar tão "informada"?

“Você gosta de assistir aos noticiários da TV”? Estou lhe perguntando isto porque sou meio estranho, neste aspecto. E vou lhe explicar a razão.


Há anos, perdi completamente o hábito de assistir aos telejornais ou revistas eletrônicas dos principais canais de TV. O máximo que faço hoje é ler alguma coluna de reflexão ou matéria de turismo em alguma fonte impressa, mas muito esporadicamente. Pensei que passaria a ser uma pessoa, como dizem, desinformada.

Para minha surpresa, além de não perder nada, foi nessa atitude que passei a ter uma percepção mais aguçada para muitas coisas. E se você duvida, para argumentar o contrário, experimente primeiro passar, pelo menos, um semestre sem se abeberar dessas fontes. Vai descobrir o mesmo.

Quando dizemos que precisamos de todas as informações transmitidas pela mídia para sermos pessoas bem informadas, estamos estreitando a dimensão universal de tudo o que existe. Como seria possível colocar a totalidade de todos os fatos, ocorridos em todos os horários e locais, de todos os procedimentos, contextos, idéias e pessoas, em espaços tão limitados de veiculação informativa? É óbvio que o divulgador, diante da incapacidade de colocar o universo em seu pequenino foco, opta por divulgar, pra você, o que ele quer divulgar. Como quer ser visto, usa como critério para este filtro, o que o seu contemplador vai gostar de ver. Como Satanás nos aguça a gostar mais sempre do que não presta, aí entra o sensacionalismo.

Quase em sua totalidade, a prática do jornal é um sensacionalismo não assumido (e por isto, muitos discordam), exatamente por distorcer diante do seu consumidor final o universalismo da realidade.

Se você gastar as doze horas claras do dia na movimentação urbana, o que você vai ver? Provavelmente muita coisa normal, e até boa, acontecer. Mas quando chegar em casa e ligar sua TV, vai ver um quadro de desgraças repintando a mesma realidade da normalidade que você vira com seus olhos. Antes, viu inúmeras esquinas e cruzamentos apertadíssimos, com intensa complexidade semafórica, onde milhares de automóveis e pedestres se cruzaram durante o dia, a distância de centímetros e segundos, sem se colidir. Mas quando mirar o telejornal, vai contemplar, como se fosse um todo da realidade urbana, os isoladíssimos acidentes de trânsito que aconteceram; foram farejados, chafurdados e exibidos. Por que o mesmo jornalista não gastou o seu tempo mostrando como o trânsito é complexo e funciona relativamente tão bem? Por que o mesmo jornalista não empregou seus esforços em fazer uma matéria que ensinasse como ter mais destrezas, percepção e cuidados em determinados pontos específicos, que são críticos, do tráfego da cidade? Por quê? Porque, na linguagem técnica, não é matéria quente. Quer a tradução? É notícia que não vende, que não conquista audiência.

Uma das características do sensacionalismo é a de não se preocupar com o que a pessoa precisa ver, mas somente com o que ela quer ver. A partir desta bitolação, a prioridade de formar, educar, ajudar e redimir, é sacrificada. No que me ajuda, assistir pela televisão, a notificação de um acidente de trânsito? E digo de passagem, que “trânsito” aqui, é um pequeno exemplo tomado.

Sentar no sofá, abrir os meus sentidos de audição e visão, para que uma programação cuja edição daquele dia eu desconheça como será, mas que, ao mesmo tempo sei que será pessimista e exibidora de realidades destorcidamente mascaradas pela roupagem da desgraça, seja despejada no meu cérebro, com a desculpa de que estarei sendo bem informado, é, ironicamente, um atentado à cultura da saúde mental. Esse tempo já foi. Os inúmeros meios de comunicação existentes em nossa geração permitem que os fatos que precisam ser informados ao cidadão geralmente já sejam divulgados a partir de suas fontes, sem precisar de intermediação. Por exemplo, se quero saber como está o tráfego em determinado percurso que farei, o preço do dólar ou se irá chover à tarde, tenho números de telefones, sintonias específicas, espaços na internet e em jornais impressos, pessoas a quem perguntar, e tantos outros meios exclusivos, onde encontrarei somente esta informação que quero. É como não usar relógio: você nunca ficará sem saber as horas, sempre haverá esta informação perto de você.

Ou, quem disse que preciso saber as horas a toda hora? Ironicamente, é perda de tempo.

E aí está o princípio de um outro grande engano nosso. Nossas necessidades são deformadas pela artificialidade que criamos. Quem disse que preciso saber tudo o que dizem que preciso saber? Será que não estarei ocupando tempo e espaço inúteis com informação inútil, em detrimento dos esforços de desenvolver meu intelecto de forma mais sábia? Já percebeu a enorme quantidade de pessoas que consomem as informações (mas penso que nem as absorvem), todavia não conseguem formar opiniões?

Em escala considerável, somos subprodutos daquilo que consumimos. Passar tanto tempo “comendo” (mentalmente falando, através dos meus sentidos) tantos crimes, corrupções, mentiras e destruições, fará de mim, que tipo de pessoa? Será que a indiferença maior, quanto às desgraças alheias, está em nem suportar vê-las ou em contemplá-las e agir como se nada acontecesse? Filtrar o que vemos e ouvimos, para que nossas dimensões holísticas não sejam influenciadas, é um ato que foge ao nosso próprio domínio. Imagine alguém degustando um alimento muito gostoso, mas prejudicial. Então ele decide gozar de todos os prazeres do ato de comer. Decide contemplar, cheirar, mastigar, salivar e engolir… Mas, para não ter o organismo prejudicado, decide também dar um nó no esôfago e não deixar que o alimento chegue-lhe ao estômago. Este é o princípio da atitude de alguém que decide consumir um produto áudio-visual, mas decide também que não se deixará ser influenciado pelo que vai ver ou ouvir: ilusão. As deteriorações morais dos caracteres, conseqüentes desta exibição e contemplação negativas, são tantas que, demorar-se na chafurdação dos mesmos, simplesmente por comentar, seria redundar no mesmo vício de carniçaria dos hábitos que os conceberam.

Foi consciente desta nossa sensível fragilidade, quanto ao que ouvimos e vemos que, o salmista escreveu: “Não porei coisa injusta diante dos meus olhos”(Salmo 101:3 – RA). E acho que foi também por isso que Jesus advertiu quanto ao fato de que do interior do homem ou, em Suas palavras, “do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias (Mateus 15:19 – RA)”.

Ouso em dizer que, infelizmente, a prática do jornalismo tem sido, também, uma atual ferramenta de Satanás para anular, na vida dos cristãos, o poder que poderiam gozar dos efeitos do que seria um dos principais meios para a redenção: a contemplação. Como E. G. White escreveu, “o inimigo é responsável por muitas coisas que aparecem nos jornais. Todo mal que pode ser encontrado é descoberto e desnudado perante o mundo (Notebook Leaflets, Education, nº 1)”. Se eu parar para assistir a um telejornal, terei mais náuseas de sua prática do que das desgraças exibidas. Este sentimento é justamente decorrente da consciência que tenho, da natureza pura que os princípios ideais da filosofia da comunicação social têm em sua originalidade. É claro que existem as raríssimas exceções, de comunicadores que prezam e praticam tais fundamentos. Mas é lamentável que o correto seja a exceção.

Amigo, é pela contemplação que somos transformados (2 Coríntios 3:18 – RA). Precisamos agir conscientemente em prol da nossa saúde mental. O meu desafio a você, seja você um comunicador ou alguém que se beneficia da comunicação social, é que você tenha coragem para ser a exceção. Se você pratica jornalismo, honre esta profissão com a dignidade que ela merece, dando a ela uma roupagem, ainda que unilateral, redentora, fugindo da mediocridade de praticar o que a mesmice convencional do ofício requer. Se você é um leitor, ouvinte ou telespectador, seja crítico na escolha de “o quê” consumir, antes de tentar filtrar “o que há” no que se consome, sem uma eleição inteligente.

Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele (Romanos 12:2 – NTLH).

Sejamos a honrosa exceção!


Fonte: Advir

Pergunta Que Será Respondida Amanhã:
“Eu gostaria de saber o sentido da palavra “cães”, em Apocalipse 22:15”

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