Acabo de ler um livro fantástico! Na realidade, quando comecei a lê-lo foi motivado por minhas obrigações acadêmicas de mestrado. Mas, quando fui degustando suas páginas, percebi o prejuízo que teria se não o tivesse lido. Além de ser pastor, estou cursando "Missão Urbana", e deparei-me com este livro de alguém que também é pastor e é estudioso em assuntos afins.
Érico Tadeu Xavier é pastor. Ele escreveu este livro enquanto
trabalhava em Londrina, Paraná. Ele estudou em Londrina, onde fez um doutorado
em ministério. Mais tarde, fez outro doutorado (PhD) em missiologia, em Costa
Rica, pelo PRODOLA (Programa Doutoral Latino Americano). Hoje, está na Bolívia,
como professor de teologia no SALT (Seminário Adventista Latino-Americano de
Teologia ) e editor da
Revista Doxa.
Ele também dá aulas no programa de mestrado do SALT campus IAENE (Bahia).
Informação Bibliográfica
Érico
Tadeu Xavier, Teologia de Missão Integral nas práxis evangélicas na América
Latina, Londrina, Paraná: Editora Descoberta, 2011, 289 páginas.
Descrição do
Conteúdo
O livro
faz uma descrição histórica das eclesiologias latino-americanas e dá ênfase às
quatro dimensões de crescimento integral da igreja sugeridas pelo teólogo
Orlando Costas. Considerado como o primeiro missiólogo latino-americano a ter
destaque no campo da missiologia (88), Costas tinha como preocupação a
contextualização da evangelização (105-106). Logo, para Costas, o crescimento
de uma igreja só pode ser considerado saudável se for integral, abrangendo:
a) O
crescimento numérico, no qual é possível verificar-se que a quantidade de
pessoas está aumentando em determinada comunidade de crentes;
b) O crescimento
orgânico de uma igreja é o seu desenvolvimento organizacional, em seu governo,
nas participações financeiras, na capacidade da liderança, na aplicação dos
recursos e na celebração litúrgica;
c) O crescimento conceitual são as
constantes ênfases no aprendizado e na reciclagem cognitiva dos fiéis,
visando-os a estarem cada vez mais conscientes do conteúdo que envolve suas
crenças e fundamentos;
d) O crescimento diaconal é o serviço sócio-humanitário
da igreja, não somente no atendimento aos membros, mas, principalmente, na
preocupação de ser um agente social na comunidade onde está inserida.
Depois
de expor o pensamento de Orlando Costas, Xavier então passa a compará-lo com a
práxis teológica adventista. A busca consiste em verificar se o crescimento da
IASD teria a integralidade visada por Costas. Num aspecto demonstrativo, Xavier
então estuda o crescimento da IASD em Londrina, Paraná, cidade onde vive e
estuda. O autor chega então à conclusão de que, com poucas diferenças, a IASD
tem uma prática eclesiástica que reflete o pensamento eclesiológico de Costas.
Análise Crítica
O estudo
de caso nas igrejas de Londrina serve para se ter uma vaga idéia do todo. Mas
eu não ousaria usar o estudo da IASD/Londrina como demonstrativo da
IASD/Brasil. Não creio que seria coerente, pois as realidades são muito
diferentes. Depois que entrei na obra, já
passei pelo território de pelo menos 5 Uniões, e posso verificar que embora a
IASD tenha uma só teoria, as práxis missiológicas variam muito.
Não
concordo com o autor quando fala que “a ênfase nas atividades ministeriais
demonstra que o empenho dos pastores tem sido maior (...) também na questão do
discipulado (236)”. Segundo a “Tabela 4 – Atividades enfatizadas pelos pastores
das igrejas de Londrina”, o item “discipulado” foi o menos marcado (231).
Apenas uma igreja teve este item assinalado.
A frase
de Luís Gonçalves “Não basta ser adventista, tem que ser evangelista” (234) precisa
ser confrontada com Efésios 4:11, ou, pelo menos, ser melhor explicada à luz de
tal passagem bíblica. Uma coisa é dizer que todos os cristãos devem estar
envolvidos com a comissão evangélica, conforme White o faz (Apud White, 1976a,
p. 28), e outra coisa diferente é desrespeitar a distribuição diversificada dos
dons espirituais que o Espírito Santo faz, esperando que todos tenham que ter o
dom de serem evangelistas.
Esta
obra, pelo valor que tem, carece de uma melhor revisão textual. O trabalho
editorial de um revisor de língua portuguesa não somente corrigiria alguns usos
inadequados de ortografia, gramática, acentuações e de maiúsculas e minúsculas,
bem como ajudaria o autor a expressar melhor algumas coisas que pretende
comunicar. Por exemplos:
a)
“A igreja Central menciona que o site da IASD de Londrina foi o mais acessado
no período de outubro de 2009, acima do Unasp” (235). Pergunto: o mais acessado entre quais outros
sites? Todos do Brasil? Todos da Igreja Adventista? Todos do Paraná?
b)
“No aspecto do crescimento orgânico, segundo a visão de Costas (1998), a IASD
tem procurado alcançar os propósitos relacionados à forma de governo, à
estrutura física e financeira, à capacitação e preparo da liderança (...)”
(241). Aqui, o uso de uma vírgula desnecessária criou um aposto que faz o
leitor entender o que não é real. Pois, se Orlando Costas, em 1998, já fizera
sua própria análise do crescimento integral da IASD, então de que valeria esta
obra de Xavier? Logo, é lógico chegar à conclusão de que o que Xavier queria
dizer seria: “No aspecto do crescimento orgânico segundo a visão de Costas
(1998), a IASD tem procurado alcançar os propósitos relacionados á forma de
governo, à estrutura física e financeira, à capacitação e preparo da liderança
(...)”.
c)
O autor denomina “ADRA” como “Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos
Assistenciais”. Mas o significado correto da sigla é “Agência de
Desenvolvimento e Recursos Assistenciais”, embora até mesmo alguns
departamentos oficiais superiores da IASD façam também este uso equivocado da
descrição da sigla. Aliás, seria proveitoso se, numa próxima edição, o autor
trabalhasse com uma tabela de siglas e abreviaturas nas seções iniciais da
obra.
A obra
“Teologia de Missão Integral”, embora tão recentemente lançada, pode ser
considerada um clássico trabalho de orientação evangelística. Além dar ao
leitor a consciência das raízes histórica, antropológica, social, cultural e
teológica do mundo religioso e da sociedade que o cercam, lhe sugere as
melhores dicas possíveis de como permear este meio com uma prática de
evangelização segundo os passos do mestre do cristianismo, Jesus.
O bom mesmo deste livro, é que ele sacia a sede de qualquer missionário, seja ele acadêmico ou leigo. Na realidade, Teologia de Missão Integral é praticamente uma tese doutoral. Mas Xavier conseguiu fazer a arte de publicá-la em um caráter ao mesmo tempo popular e erudito. Isso é incrível, pois a maioria dos autores e editores ou não consegue sair do academicismo ou estraga seu próprio conteúdo ao popularizá-lo. Mas com esta obra isso não aconteceu (e aqui abro um parêntese para recomendar os trabalhos de edição da minha esposa, formada em jornalismo científico, rsrsrs: revisorafatimasilva@gmail ). Ela alcança o nível dos estudiosos e do grande público.
Sua
leitura é indispensável a qualquer discípulo comprometido com a comissão
deixada por Cristo.
Um abraço,