Pastor, na sua postagem de ontem (para ver, clique aqui) você parece partir de um pressuposto de que pentecostalismo e carismatismo seriam uma coisa só. Você não está misturando as coisas? Você está falando de pentecostais ou de carismáticos?
Para responder a esta pergunta, vou usar o conteúdo de um livro que li. Falo do livro Pentecostais ou Carismáticos? do autor: Bill Burkett, editora CPAD.
Objetivo do Autor
A proposta deste livro é esclarecer ao leitor que pentecostais e carismáticos, definitivamente, não são o mesmo grupo. A vontade do autor é levar o leitor a ver os dois grupos como duas coisas totalmente distintas e que não podem ser confundidas e nem deveriam misturar-se.
Parcialidade
Nesta tentativa, Burkett não deixa o leitor pensar por si, mas, desde a introdução já transmite uma imagem rotulada, segundo suas próprias particularidades, dos pentecostais como os santos na Terra e do grupo carismático como um verdadeiro anticrístico. Para isto, é claro, usa uma linguagem apaixonada, adjetivada, parcial e não documentada. A carência de usar referências pode ser exemplificada nas afirmações da página 24, quando ele tenta contrastar supostos pentecostais de supostos carismáticos, afirmando que
Eles [os carismáticos] dizem: “Se uma prática não atrai a multidão e enche a igreja, se realmente funcional, então vamos adotá-la”. Eles não são ortodoxos em seus métodos de evangelização porque admitem certos expedientes para atrair as pessoas à igreja. Diferente dos pentecostais, cujo propósito é levar as pessoas a uma conversão profunda e a deixar o pecado e a rebelião contra Deus. O Pentecostes conserva a preciosa mensagem da transformação moral através do novo nascimento...
A declaração à qual o autor faz citação neste parágrafo não tem referência alguma. É notório o seu estilo de colocar as falas entre aspas e nem sequer citar quem as disse, muito menos documentá-las. Nos grifos que acrescentei acima, como leitor, fico no ar, a me perguntar: “que mensagem?”; “que expedientes?”
Irônico é o que Burkett redige num tópico intitulado “Perigosas substituições” (páginas 28 e 29). Ele menciona supostos fatos históricos da década de 1970, não documenta nada, e escreve que “um dos autores que escrevia sobre o assunto divorciou-se da esposa, casou-se com a secretária e desapareceu”. Você deve estar se perguntando: “quem?, onde?, quando?, como?, por quê?, onde está registrado?, qual é a fonte?, etc.”. E eu lhe respondo: “boas perguntas!”. Não há mais nada de informação, o que faz Pentecostais e Carismáticos, parecer-se mais com um livro de fofocas do que uma boa fonte de informações confiáveis e/ou pesquisa.
Reafirmando esta sua prática, já quase no final do livro, ele chega a apologetizar que
a Igreja Católica jamais foi evangélica. De acordo com documentos em posse deste escritor, a igreja de Roma é uma entidade política e como tal foi reconhecida na América protestante, por intermédio do embaixador da Cidade do Vaticano em Washington, durante o governo de Ronald Reagan (página 55).
e conclui a citação, o assunto, o tópico, o livro... e não coloca uma referência, uma citação, uma nota bibliográfica, nada, que documente o apontamento descrito. Como é que ele diz que tem o documento e não faz registros da dita referência. Como leitor, sinto que ou ele está querendo que eu me sinta o ignorante que irá acreditar em tudo o que ele diz, ou que ele está mentindo. Só pode.
Na introdução do livro, ele se posiciona: “E aqui vai um alerta ao leitor: se você ficar perturbado com esta crítica, é sinal de que toquei num ponto importante” (página 14). Será? Eu fico perturbado com a literatura pornográfica que se espalha como praga destruidora, tão abertamente. Será que os editores de tal linha também estão tocando em pontos importantes? E Burkett continua: “Se a verdade o desagradar, e você recusá-la, essa decisão ser-lhe-á cobrada no Juízo. E você será condenado por sua atitude em relação a ela”. Além de se colocar como o suposto dono da verdade, inibe com ameaças a quem não quiser concordar com tal absurdo.
Esta tendenciosidade do autor torna a leitura cansativa, pois, pela falta de documentação ou fatos, ele força-se a ser repetitivo demais. As duas primeiras dezenas de páginas já são suficientes para mostrar tamanha redundância evasiva. Ele não se cansa em repetir a acusação contra os crentes (“carismatizados”) de que uma suposta doutrina (ou doutrinas) foi abandonada, mas não mostra que doutrina. Mas Bill também não mostra os fatos, épocas, ações, atores, etc., que comprovariam tal abandono. A acusação é contundente, mas ao mesmo tempo vaga e genérica. O capítulo quatro, por exemplo, é retórico e prolixo.
A parcialidade do autor fica evidente ao notar-se que o livro não tem seção bibliográfica, não tem referências, não tem notas de rodapé ou de fim de texto, e não tem uma citação de outro autor, sequer. Apenas algumas vagas referências bíblicas.
Contradições
Logo, através de um olhar mais atentivo, não fica difícil de perceber que argumento forçado é argumento que poderá correr o risco de contradizer-se. E Bill se desliza nesta rampa.
Exemplo disto pode ser visto se compararmos esta declaração: "A geração carismática jamais experimentou um avivamento verdadeiro" (pág. 24) com a explicação do mesmo autor de que o movimento carismático experimentara uma “visitação celestial” que “se estendia para além das igrejas pentecostais, existia a evidência de uma visitação genuína de Deus que, sabíamos, tinha o propósito de renovar e revestir de poder o Corpo de Cristo” (pág. 11-12).
Uma outra contradição interessante está no tópico “filosofia em vez de doutrina”. O próprio título já é contraditório, pois filosofia correta pode e deve ser uma soma à doutrina e não uma oposição à mesma. Mas no segundo parágrafo (página 34) ele escreve que “há uma relação de proximidade entre a doutrina cristã e a filosofia humana. Elas são semelhantes porque buscam o bem maior do homem”. Ora, se ele diz que deveria ser uma ou outra, como, ao mesmo tempo, ousa harmonizá-las?
Tiro no Pé
O mais interessante do livro é que nele o autor tenta separar pentecostais e carismáticos, mas acaba entregando de bandeja o fato de que pentecostais e carismáticos uniram-se e fundiram-se.
O passo seguinte no processo de migração do Pentecostes original para o carismático foi o apoio das denominações pentecostais às personalidades do novo movimento. Confraternizando com elas e identificando-se com suas lideranças em convenções para as quais eram convidados preletores carismáticos, inauguraram uma nova era no pentecostalismo denominacional. Em nome da unidade, abandonou-se a posição que preservara e defendia a doutrina dos apóstolos, adotando-se a filosofia liberal carismática de tolerância às falsas doutrinas (página 20).
Esta descrição tão fiel que o autor faz é a melhor demonstração do grande problema de Pentecostais ou Carismáticos? . Um livro que é um tiro no pé, saído pela culatra. Isto quer dizer que o autor se enrasca em situações contraditórias? Sim! Como exemplo disso, observe este parágrafo:
A filosofia carismática prega que a doutrina causa divisão entre irmãos. Mas a verdade é bem outra: a aceitação de falsas doutrinas, contrárias aos ensinamentos dos apóstolos, é que separa os verdadeiros irmãos. Quando os carismáticos abandonarem os erros que ensinam, então haverá verdadeira unidade na família cristã. O desapego à doutrina levará inevitavelmente as denominações pentecostais a um movimento ecumênico com os carismáticos (página 21).
Muito confuso! A doutrina une e ao mesmo tempo o “desapego à doutrina” promoverá a união (ecumenismo)? Afinal a doutrina une ou separa?
Erros Bíblicos
Ao longo da obra, Bill reivindica que o modelo para a igreja certa da atualidade seria delineado pela Bíblia. Entretanto, em momento algum, ele separa uma parte do livro para descrever o pensamento bíblico sobre a estrutura de tal igreja. Na realidade, ele faz pouco uso da Bíblia, e no pouco uso que faz, por vezes, ainda equivoca-se ou incorre em eisegeses.
O ato de torcer o texto bíblico numa interpretação que apóie o que está se querendo dizer pode ser visto quando ele tenta comparar o pentecostalismo e o carismatismo sob a visão das seguintes passagens bíblicas: Dt. 13:-15; At. 2:42; Rm. 16:17; Ef. 4:14; 1Tm. 1:9-11; 4:6, 13, 16; 6:3-5; 2Tm. 3:16-17; 4:2-4; Tt. 1:9; 2:1, 7; 2Jo. 1:9-11 (página 21). Estas passagens bíblicas não têm o propósito hermenêutico de descrever a suposta igreja apostólica em comparação com a igreja de um suposto anticristo.
Um exemplo de equívoco ao citar a Bíblia está na página 22: “Salomão e Israel prosperaram, mas não estavam caminhando em retidão e finalmente o juízo veio sobre eles”. Errado! Os crescimentos, tanto do reinado de Salomão, quanto do reino de Israel, se deram em seus respectivos tempos de pureza e fidelidade a Deus!
Para Burkett, “louvor” e “adoração” parecem ser antagônicos. Ele escreve sobre “louvor em vez de adoração” (página 33), quando deveria escrever sobre louvor mais adoração, uma vez que as duas coisas se somam, e não são contrárias uma à outra. Mas ainda neste mesmo tópico e página, esse autor afirma que “a Bíblia ensina que a mais elevada forma de oração é aquela em segredo, na intimidade com o Pai” (grifo acrescentado). Eu gostaria de conhecer a passagem bíblica que ensina isso, mas ele não diz. E ainda acrescenta que “a oração inclui intercessão, jejum e segredo”; e eu pergunto: sempre? Porque isso também ele não explica.
Ao falar sobre louvor, Burkett especula que
as danças jamais aconteciam dentro da Casa de Deus. Davi dançou diante da arca quando voltava a Jerusalém, mas sua dança era de entusiasmo diante do Senhor, e não uma produção orquestrada. A dança dos carismáticos nada tem a ver com a mencionada no Antigo Testamento. Se o costume de dançar fosse adotado [e já foi, Burkett, acorda!] pela Igreja iríamos encontrar em Atos dos Apóstolos ou nos outros escritos do Novo Testamento. Os costume hebreu de dançar é citado na Bíblia, mas não é ensinado à igreja. [sic] (página 37).
Nesta declaração há três erros crassos, de interpretação teológica. Primeiro, quando ele diz que a dança bíblica não era acompanhada de uma produção orquestrada. Ele parece nunca ter lido os cinco últimos Salmos do livro dos Salmos, que, ao instruírem sobre a dança, ao mesmo tempo fazem parte das melhores descrições bíblicas de junção sinfônica de instrumentos. Em segundo lugar, Burkett aí diz que as danças “jamais aconteciam dentro da Casa de Deus” e ignora os mesmos Salmos que são um convite para dançar na “assembléia dos fiéis” (Salmo 149) e “no seu santuário” (Salmo 150). E por fim, ele diz que sobre a dança não é ensinado à igreja, ignorando que estes Salmos são imperativos e instrutivos, em sua própria linguagem, dirigida, dos dirigentes de música, para o povo de Deus.
Desarmonia com o Próprio Pensamento Pentecostal
Bill diz que “o fato de alguém falar em línguas e crer no batismo com o Espírito Santo não faz dele um crente pentecostal”. Isso pode até ser um critério dele próprio, há quinze anos, mas, absolutamente, não representa a visão dos atuais pentecostais.
Para Burkett, “a diversidade de Bíblias... dá aos crentes modernistas razões para desprezarem a autoridade absoluta da Palavra de Deus”. Ele condena este uso de diferentes versões bíblicas, chegando a afirmar que isso faria parte de um “liberalismo e mundanismo”, e não do pentecostalismo (páginas 27 e 28). Se os pentecostais já pensaram assim, isso ficou no passado; e no ato de não pensarem mais assim evidenciam que hoje são iguais aos carismáticos. A desarmonia de Pentecostais e Carismáticos, neste ponto, com o próprio pensamento pentecostal está no fato de que a própria CPAD - que editou o livro de Burkett - também edita e/ou vente diferentes tipos de Bíblias. Aliás, que ato é mais incoerente, a redação passada de Burkett ou a venda atual de seu livro pela CPAD?
É válido notar que este livro foi escrito há mais de quinze anos. Bill Burkett, já lá na primeira metade da década de 1990, ao redigir tal manuscrito já mostrava-se antiquado e ultrapassado, numa linha que mais ainda se distanciou da realidade. Por exemplo, neste mesmo capítulo, ele contrasta “carisma” com “unção”, como duas coisas antagônicas, escrevendo “carisma em vez de unção”, o que deveria ser “carisma mais unção”, e não uma oposição (página 32). Pois hoje, os carismáticos (neopentecostais) falam muito mais em unção do que em carisma, pois são duas coisas que se harmonizam, e não que se antagonizam.
Burkett diz que “os pentecostais não aceitam a mensagem simplista de que ‘o Espírito Santo faz o resto’ [os pentecostais clássico,s realmente não aceitavam, mas os de hoje, com certeza, aceitam sim], pois trata-se de uma expressão sem o menor amparo bíblico” (página 50). Com certeza, não há amparo bíblico para isso.
Burkett diz que os carismáticos fazem isso, fazem aquilo, e aquilo outro, mas não documenta nada. Apenas transcorre o livro inteiro fazendo as acusações de que o movimento carismático seria um separatismo pseudo pentecostal que teria abandonado determinadas doutrinas pentecostais.
O que Bill chama de doutrina é, na realidade, um conjunto de fatores culturais. Ele cita um conjunto de usos e costumes que a igreja pentecostal não praticava e mais tarde adotou, e não de dois patrimônios culturais (ou doutrinários, como ele queira) que conviveram paralelamente. Ao citar tais práticas, ele declara que o movimento carismático tem sua identidade distinta porque os adeptos deste fariam uso do rock gospel, da minissaia, da educação sexual no currículo educacional, do apoio a cursos de psicologia (página 26) [Silas Malafaia, um dos ícones da Assembléia de Deus, é graduado em psicologia], de cosméticos, do apoio a atletas profissionais, atores e atrizes (página 27), de uma suposta subcultura musical, de penteados punk (página 29), da profissionalização dos eclesiásticos, do ajuntamento de multidões, dos “programas elaborados por profissionais treinados em colégios e universidades seculares” (página 40), da “tolerância ao divórcio e novo casamento [não explica em que casos, se bíblicos ou não], da busca do bem-estar, dos entretenimentos, da televisão, dos esportes profissionais e das praias públicas” (página 41), dos escritos do autor Kierkegaard (página 42), etc.
Mas o fato é que estas práticas condenadas por Burkett (e ele não usa a Bíblia para condená-las) são normalmente aceitáveis dentro das comunidades atuais dos crentes pentecostais, com leves variações culturais de um lugar para outro, é claro. Estas coisas que o autor achava que seriam abomináveis ao pentecostalismo e normais no carismatismo, mas que hoje são normais no pentecostalismo são a prova de que os dois movimentos se fundiram.
Acertos Inconscientes
Já foi possível notar que, sem querer, Bill Burkett diz uma série de verdades, sem ter consciência do que está fazendo. Ou seja, paradoxalmente, muitas vezes ele quer dizer uma coisa que julga ser verdade mas que não o é, e por isso, termina dizendo outra coisa que julgaria não ser verdade mas que na realidade o seja. Confuso, não? Pois é. Este é o maior problema deste autor.
“Líderes pentecostais estão adotando o desprezo à sã doutrina (página 22)”. Corretíssimo! Inclusive o próprio autor! Porque o pentecostalismo em si já é uma relativização da religião, dadas suas bases essenciais de pensamento pragmáticas e existencialistas. Sob a ótica pentecostal, ele afirma que “há uma relação de proximidade entre a doutrina cristã e a filosofia humana. Elas são semelhantes porque buscam o bem maior do homem” (página 34). Estas são as características de “magia, prosperidade e messianismo” do neopentecostalismo! (para saber mais sobre este assunto, leia “Magia, Prosperidade e Messianismo”, de Wander de Lara Proença, Instituto Memória; muito desta visão crítica que estou colocando nesta resenha, devo à visão que adquiri com a leitura deste livro). “O crente [isso, e não somente os carismáticos] de hoje não possui intimidade com Jesus” (página 40).
Falando sobre a prática da “gargalhada no Espírito Santo”, Bill menciona que “chamar de alegria santa o riso provocado por piadas apenas revela a distância que separa os carismáticos do Pentecostes”. Este é um ponto positivo do livro, ao mostrar que o pentecostalismo/carismatismo é uma transição da religiosidade que se distancia da originalidade da igreja primitiva do primeiro século da era cristã.
O capítulo “Verdades Pentecostais Substituídas” tenta colocar, diante do autor, um quadro que estabeleceria a diferença entre um pentecostal e um carismático (ver página 33). Entretanto, esse quadro, bem como esse capítulo, na realidade descrevem a transição do que Paul Freston chamaria de “segunda onda” (de 1950 a 1970) da história do pentecostalismo para a “terceira onda” (de 1970 até hoje) do mesmo movimento (O termo "terceira onda" foi cunhado pelo teólogo norte-americano Charles Peter Wagner; ver Érico Tadeu Xavir, Teologia de Missão Integral, Editora Descoberta).
Ou seja, indo mais a fundo, querendo contrastar dois movimentos supostamente paralelos no tempo, Burkett na realidade faz uma descrição das mudanças de um mesmo movimento no tempo, desde o pentecostalismo “clássico” (cf. Stanley Burgess) do início do século XX até as transformações do mesmo para o que Antônio Gouvêa Mendonça viria a chamar de “neopentecostalismo”, que é a igreja pentecostal de hoje (cada um com seu patrimônio cultural).
Não ignorando, é claro, a realidade de que as ondas nem sempre substituem-se completamente extinguindo a anterior, mas muitas vezes sobrepõem-se, fundindo-se numa nova convivência com características de ambas. Ou seja, muitas vezes, no surgimento de novas ondas de um movimento, as eras se sobrepõem, co-vivendo contenporâneamente, a antiga a e a nova. Mas neste caso há muito mais transição (quase que na totalidade) do que sobreposição.
Em quase todo o livro, se o leitor substituir o termo “carismáticos” por “neopentecostais”, verá que a comparação destes com os “pentecostais” (antigos clássicos, da primeira parte do século XX) ficará perfeita. Por exemplo, Burkett mostra que os pentecostais não sabem fazer a distinção entre filosofia e doutrina; e que já os carismáticos substituem a doutrina pela filosofia (página 34). Veja que isto é, na realidade (e nesta ordem) uma descrição dos antigos obscurantistas pentecostais e dos atuais neopentecostais.
Veja que descrição perfeita do neopentecostalismo (atual pentecostalismo) é feita por Bill ao tentar descrever seus supostos pentecostais:
O sacrilégio que se exibe nos palcos das igrejas modernas, como se fossem ministérios ungidos, não é pentecostal [nos termos bíblicos, não é mesmo]. Pentecostais [cristãos conforme o eram os apóstolos] não convida[vam] celebridades para o púlpito. De lutadores de caratê [e, no Brasil, capoeira] a estrelas de opereta [e, no Brasil, axé], todos ocupam o púlpito das igrejas carismáticas [pentecostais, de uma forma geral], que são como clubes noturnos, apresentando música roqueira, danças e atletas mercenários para atrair multidões, desviando “seu pé do sábado” (Is 58:13) e sendo aplaudidos como cristãos. Judas tem razão: essa espécie de cristianismo é lascívia e imoralidade (página 35).
Acrescentei os comentários entre colchetes para ajudar o leitor a situar-se no acerto inconsciente de Burkett. Aliás, este tópico inteiro, “entretenimento em vez de adoração” (páginas 35 a 37), tirando as análises críticas pejorativas adjetivadas do autor, é uma descrição dos usos e costumes da atual prática da própria Assembléia de Deus, editora desta obra crítica (Pentecostais ou Carismáticos?). Ou seja, é uma auto-crítica.
O melhor acerto inconsciente que Burkett colocou em Pentecostais ou Carismáticos, apesar de estar em um parágrafo longo, merece ser transcrito na íntegra:
Os carismáticos [e eu incluo: todos os pentecostais] ensinam que a lei de Deus e o seu amor são excludentes. Quer dizer, se você observa um, não pode submeter-se ao outro, pois representam duas diferentes dispensações da revelação. [Os pentecostais] Ensinam também que estamos vivendo a dispensação do amor e que observar a lei moral de Deus é estar sob um tipo de servidão. Os carismáticos estão sempre se derramando a respeito do amor de Deus, e não dão qualquer valor à sua lei. Mas, segundo a Bíblia, lei e amor são a mesma coisa. A lei é simplesmente o amor de Deus na forma escrita. É impossível separá-los, conforme demonstrará a leitura cuidadosa de Romanos 13:8-10 e 1João 5:3 (página 34).
Esta é uma ótima defesa que a CPAD está fazendo ao adventismo, e, nisto, nós adventistas devemos ser gratos a essa editora. Na realidade, esse parágrafo que transcrevi acima é uma apologia “adventista” de Burkett, que dá um tiro no pentecostalismo. “Não é agradando as pessoas que iremos salvá-las, e sim inquietando-as” (página 42).
Querendo manter uma suposta identidade pentecostal que ficaria longe do ecumenismo, Burkett explica que
a doutrina romana ensina que para ser salvo é necessário pertencer à Igreja Católica. Eis aqui mais uma séria contradição dos carismáticos. Ligam-se á Igreja Católica, que não é evangélica, e confraternizam-se com sacerdotes que pregam tal doutrina. O passo seguinte nessa união espúria é aceitar a dominação católica, até que, numa concessão especial, a igreja de Roma aceite carismáticos e protestantes como ramificações do catolicismo
ou melhor, como filhas da meretriz, de acordo com o que João escreveu. O autor parece que já leu o livro O Grande Conflito¸ de Ellen G. White, e está profetizando o que realmente irá acontecer. Na realidade, ele parece não querer que isso aconteça. Mas nisso ignora que este é o destino profético-escatológico de todas as denominações evangélicas guardadoras do domingo, de acordo com os ensinos apocalíptico-bíblicos.
Conclusão
Eu sugeriria que a CPAD mudasse o título de Pentecostais ou Carismáticos? para Pentecostais Carismáticos. Porque o livro não é de todo de se jogar fora. Há o que aprender no mesmo, como demonstrando nesta resenha, nem que seja no método da aprendizagem por contraste. Uma boa suma disto tudo é que “tanto os pentecostais quanto os carismáticos precisam voltar aos padrões estabelecidos para a igreja. A IGREJA DE ATOS DOS APÓSTOLOS!”. Isto é verdade.
O texto que Bill Burket escreve nas páginas 45 a 49, sobre o fato de que a igreja deve ser vitoriosa e não bem sucedida, é muito bom. Positivamente, ele nos faz abrir os olhos para o fato de que, no cumprimento da missão, o que Deus quer nos conceder é a vitória, e não o sucesso. Embora, neste trecho, mais uma vez Bill equivoque-se comparando as os dois supostos movimentos enquanto na realidade ele está comparando as “ondas”, ele leva o leitor a olhar para Jesus, na reflexão de que “o Calvário não foi um sucesso, foi uma vitória!” (página 46). Este trecho é tão positivo que, quase que cada frase vem a ser algo fantástico. Vale a pena ler pelo menos esse pedaço do livro.
Mas respondendo à pergunta à qual se propõe o livro, usando as palavras do próprio autor, temos que ser honestos em admitir que “os carismáticos se confundiram tanto com os pentecostais, que no pensamento de muitos o Movimento Carismático transformou-se em igreja pentecostal” (página 26). “As denominações pentecostais ficaram tão parecidas com as carismáticas, que hoje em dia quase não há diferença entre os dois grupos de igrejas” (página 21). “Embora muitos desses pentecostais neguem e critique [sic] esta afirmação, suas igrejas em nada diferem das carismáticas” (página 25).
E qualquer pessoa, em qualquer denominação ou ministério representado por este(s) movimento(s), é alvo do amor de Deus, para salvá-la do pecado, guiá-la no serviço, e redimi-la para o Céu.
Que Deus abençoe aos nossos irmãos carismáticos-pentecostais.
Pergunta Que Será Respondida Amanhã:
Amanhã, continuarei com este assunto.