As coisas ruins também vêm de Deus? Foi o que entendi lendo Lamentações 3:38.
Na Nova Versão Internacional da Bíblia, este verso está editado assim: “Não é da boca do Altíssimo que vêem tanto as desgraças como as bênçãos?”. No entendimento hebraico, Deus não intenciona fabricar o mal, mas permite a fabricação do mesmo. É o respeito que ele tem para com o livre arbítrio dos seres que criou. Mas vamos estudar este verso mais detalhadamente. Para isto, não vamos olhar para dentro do verso, mas para os seus arredores.
Para entendermos este questionamento de Lamentações 3:38, que parece estar afirmando que Deus cria o mal, temos que entender este trecho de texto inteiro, que vai do verso vinte e dois, até no verso trinta e nove. Veja que o assunto aí não é sobre “as maldades de Deus”, pois em Deus não há maldade, mas sim sobre as misericórdias de Deus. O “Novo Comentário da Bíblia” chama a atenção para o fato de que tão linda segurança e certeza nas infalíveis misericórdias de Deus sejam encontradas no livro de Lamentações e em tal contexto é, verdadeiramente, notável, e traz suas próprias ricas consolações. Veja também o verso 57.
Mas, voltando à introdução contida no verso 22 – “suas misericórdias não têm fim” – é preciso lembrar que o Targum e o Siríaco dizem: "As misericórdias do Senhor, verdadeiramente não cessam...", mas na realidade são adaptadas às necessidades de cada dia (cf. Dt 33.25-26).
Olhando para o todo, neste comentário supracitado, Francis Davidson, junto com os demais teólogos, nos fazem olhar a universalização que o poeta faz da sua própria experiência, do verso 23 em diante. Neste mesmo bloco, Jeremias inculca os deveres de vigilante expectativa e alegre submissão. "Que ele se sente solitário e mantenha silêncio" (28; dizem algumas versões), que ele encoste sua boca no pó, como um escravo espancado (29); pois a rejeição acabará por terminar (31), visto que isso não representa a vontade final de Deus para homem algum (32-33). Se Deus é tão justo que não pode tolerar os maus tratos a que são sujeitados os cativos, nem a perversão nos tribunais de lei, nem as práticas desonestas nos negócios (34-36), então qualquer sofredor pode conseguir ser paciente (26). O próprio mal (isto é, a tribulação, e não a perversão moral) igualmente, está sujeita ao controle de Deus e não tem existência independente dEle (38). Deus é supremo (37), e pode empregar a tribulação para fins benéficos. Nenhum homem vivo pode afirmar que seus sofrimentos são inteiramente desmerecidos (39). Enfrentar tais sofrimentos da maneira que é sugerida significa transformá-los em meios de bênção. Cf. Sl 119.71.
É como dizia o grande evangelista Moody: “Nada pode acontecer sem a permissão do Altíssimo. Então por que deveria um homem se queixar quando castigado pelos seus pecados? Não o sofrimento, mas o pecado devia ser lamentado. Não murmuremos contra Deus por causa do que nós mesmos provocamos”.
Quando o teólogo Matthew Henry medita sobre este trecho bíblico, ele nos orienta sobre o fato de que enquanto há vida, há esperança; ao invés de nos queixarmos porque as coisas não vão bem, devemos nos estimular uns aos outros com a esperança de que ficarão melhores. Somos pecadores, e as coisas pelas quais nos queixamos são menores do que os nossos pecados merecem. Devemos nos queixar a Deus, e não dEle. Em tempos de calamidades somos propensos a refletir nos caminhos de outras pessoas e lançar-lhes a culpa; porém, o nosso dever é investigar e examinar os nossos caminhos, para tornar-nos do mal a Deus. Nosso coração deve estar posto em nossas orações. Se as impressões internas não concordarem com as externas, não estaremos enganando a Deus, mas a nós mesmos, pois Deus não pronuncia o mal.
Um abraço,
Twitter: @Valdeci_Junior
Quando Deus está conversando com Jó (38:31-32), ao se referir aos signos do Zodíaco, ele está aprovando simbologia mística dos signos?
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