terça-feira, 14 de agosto de 2012

Para Que Serve Deus?

Foi numa noite chuvosa, depois de um cansativo dia de reuniões, que, de uma maneira inusitada, comprei este livro “Para Que Serve Deus”. Eu cheguei ao hotel e contei os detalhes do meu desvio de percurso ao cruzar Maceió (AL) a um colega, e terminamos concordando que, dentre as tantas dificuldades que aquela trajetória deveria ter proporcionado, Deus realmente havia me ajudado a fazer tudo tão rápido e com tanta precisão. Eu estava feliz, pois já fizera dezenas de tentativas de comprar tal livro e não conseguira. Mas, cansado, fui dormir cedo.


Foi apenas no dia seguinte que comecei a entender porque a compra se dera daquela forma. Internado na Clínica Santa Mônica, na Bahia, eu tive tempo de sobra para meditar sobre “Onde está Deus quando chega a dor?”. O conteúdo deste primeiro capítulo parecia-me um consolo a conta-gotas, ou melhor, a conta-páginas. Deus tinha um momento certo para que eu conhecesse a luta de Yancey entre a vida e a morte. Ou melhor, Ele preparou o consolo certo que um filho seu estava precisando no leito de um hospital. Antes de ler o capítulo eu estava banhado de lágrimas enfermas; e no mesmo dia, após lê-lo, eu tinha lágrimas de gratidão por ver o quanto Deus se importa com detalhes da minha vida, e de compaixão em meditar sobre o quando os universitários de Virgínia Tech sofreram em Abril de 2007.

Sempre sonhei em ser missionário. E Deus tem me dado o privilégio de realizar este sonho em uma das regiões mais subdesenvolvidas do Brasil. Aliás, a sensação é a de estar em outro país, que ainda se diz terra brasileira. As alegrias são muitas, mas os desafios também são enormes. E o maior desafio de um missionário é conseguir sintonizar sua cosmovisão com a visão de mundo dos nativos da terra onde está servindo. Na China, a afloração desta dualidade serve como um mostruário extremo de vitrine, protótipo instrutor de quem, como eu, em escala menor, enfrenta a transculturação por amor à grande comissão. Neste capítulo da história, Deus, mais uma vez, restaurou meu senso de missão.

Sexo. Como o faz com todo homem, Satanás também já me levou a querer iludir-me com o mito da grama mais verde. É claro que a gente tenta cortar a tentação pela raiz, mas a falsa ilusão sempre faz o pecado parecer gostoso. Incomodar-se na cadeira, fazer careta, sentir raiva, indignação, nojo, dó e compaixão pelas vidas torturadas ao extremo pelo sexo errado, cria no leitor a completa repulsa pela sedução proibida. Que Deus abençoe a todas as prostitutas com quem Philip se encontrou em Green Lake em 2004.

Posso ser tentado a pensar que ficar trancafiado trabalhando numa dissertação de mestrado seja algo errado. Mas é de seus escritórios que homens como Yancey e seu mentor Lewis ajudam a equilibrar a fé de milhões de pessoas. É preciso ser um pouco cético para ser um crente equilibrado. O ceticismo moderado é a proteção contra o obscurantismo. Além de vir aprendendo isso com Philip Yancey ao longo dos livros (anos), passei a ver o Céu sob outro prisma, pelo modo com que ele meio biografa C. S. Lewis. “Escreveu a um amigo que ele mais desejava a própria morte nos momentos de alegria, não quando a vida parecesse mais difícil. Para ele, os prazeres deste mundo sempre apontavam para outro mundo, e as coisas boas eram provas indiretas de um bom Deus” (página 98). Através de Lewis, Deus me fez perceber que as alegrias neste mundo enfatizam sobre o quanto devem ser boas as alegrias do porvir. Obrigado Senhor, pelo lado intelectual da fé.

Mas é importante também sair da bolha. A cada vez que leio, num livro de Yancey, seus comentários sobre a “Faculdade Bíblica”, eu o entendo muito bem, pois eu também fui aluno interno de colégios cristãos, por oito anos. Nesta identificação, em muitas leituras, dou risadas sobre cultura à parte que vivemos. Exclusivismo é a tentação farisaica de todo cristão que começa a gostar demais da instituição que o abraça. Se em nosso culto racional não tivermos a humildade intelectual suficiente para ter empatia pelo mundo, nosso Deus não serve para nada.

No semestre passado, os professores Emílio Abdala e Érico Xavier, em suas respectivas matérias, fizeram com que nós alunos refletíssemos sobre o quanto a igreja precisa crescer no cumprimento da missão integral. Como somos pequenos nisso! Como temos que aprender com os de fora! Voltei-me destas classes para a realidade do campo ministerial quebrando a cabeça sobre como eu poderia fazer algo neste sentido. E foi exatamente aí que Deus me fez ler sobre a missão integral que a igreja faz acontecer na África do Sul e perceber que, em matéria de missão integral, o melhor não é seguir métodos elaborados por outros, mas sim aproveitar-se do contexto para servir ao próprio contexto.

Política. Atualmente estou morando numa das regiões mais corruptas do Brasil. A corrupção aqui é grande ao ponto de que pessoas boas fazem coisas absurdas pensando, sinceramente, serem atitudes moralmente normais. Estamos em época de eleições municipais. É quando a corrupção afeta o cidadão da maneira mais intensa possível. Eu estava planejando sobre como instruir as igrejas que lidero sobre a conduta e a ética recomendáveis a um cristão neste contexto. Yancey e Deus me deram de presente o capítulo sete de “Para Que Serve Deus”. Na hora certa. No mesmo dia, pude postar vários textos sobre o cristianismo e a política na internet. No dia seguinte, lá estava eu cumprindo o compromisso de agenda de encontrar-me com pastores evangélicos e políticos regionais, munido da nutrição dos textos do dia anterior.

Deus nos guia a cada dia. De volta da dita reunião, no dia seguinte, diante de tantos poderes maiores que tentam dominar a sociedade, eu me sentia um nada. Já se sentiu assim? Leia o capítulo “Dunas de Areia e Arranha Céus” e encontre-se com os cristãos missionários que mais se sentem assim neste mundo. Mas “Jesus comparou o reino a coisas pequenas – sal na carne, fermento no pão, uma pequena semente na horta – como se quisesse enfatizar que não devemos julgar o impacto do evangelho pelos números” (página 278).

O título da palestra que Yancey fez em agosto de 2003 em Chicago foi: “Por que eu gostaria de ser um alcoólico”. Pensando em tudo que ele disse, eu redigiria um desabafo intitulado: “Como eu gostaria que minha igreja fosse [como] um bar”. Mas oro a Deus para que eu consiga torná-la pelo menos como uma associação do Alcoólicos Anônimos. Embriagados da graça que o evangelho proporciona, podemos exalar ao menos àqueles que podem ser afetados por nossa influência. Que comédia, que tragédia, que capítulo, este!

Para o próximo fim de semana, a temática do meu calendário de pregações indica-me pregar sobre a graça. Ainda estou naquela fase pré-preparatória do sermão, de procurar por idéias. E então começo a semana lendo a palestra que fecha o livro com chave de ouro: “A graça sob o fogo cruzado”. Dizem que a repartição da minha igreja na Índia ameaça ser em breve o ponto mundial mais forte dessa denominação cristã. Deve ser por causa do que Yancey comenta: “Não conheço nenhum laboratório melhor para testar a graça do que este país, a Índia, a mais volátil mistura de castas, línguas, raças e religiões do mundo”. Mas e quanto à igreja? “Sabemos como seria a graça aqui neste lugar?” (pátina 264).

Lendo a biblioteca escrita por Yancey noto que, ao longo destas três décadas, este escritor tem ficado cada vez mais crente. E nesta última quinzena, ele serviu para mostrar-me que Deus se preocupa tanto com a minha vida a ponto de providenciar-me, em cada momento dela, exatamente o que eu preciso. Ele – Deus – me ama! Portanto, eu devo servir para amá-Lo também!

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