Foi apenas no dia seguinte que comecei a entender porque a compra se dera daquela forma. Internado na Clínica Santa Mônica, na Bahia, eu tive tempo de sobra para meditar sobre “Onde está Deus quando chega a dor?”. O conteúdo deste primeiro capítulo parecia-me um consolo a conta-gotas, ou melhor, a conta-páginas. Deus tinha um momento certo para que eu conhecesse a luta de Yancey entre a vida e a morte. Ou melhor, Ele preparou o consolo certo que um filho seu estava precisando no leito de um hospital. Antes de ler o capítulo eu estava banhado de lágrimas enfermas; e no mesmo dia, após lê-lo, eu tinha lágrimas de gratidão por ver o quanto Deus se importa com detalhes da minha vida, e de compaixão em meditar sobre o quando os universitários de Virgínia Tech sofreram em Abril de 2007.
Sempre sonhei em ser missionário. E Deus tem me dado o privilégio de realizar este sonho em uma das regiões mais subdesenvolvidas do Brasil. Aliás, a sensação é a de estar em outro país, que ainda se diz terra brasileira. As alegrias são muitas, mas os desafios também são enormes. E o maior desafio de um missionário é conseguir sintonizar sua cosmovisão com a visão de mundo dos nativos da terra onde está servindo. Na China, a afloração desta dualidade serve como um mostruário extremo de vitrine, protótipo instrutor de quem, como eu, em escala menor, enfrenta a transculturação por amor à grande comissão. Neste capítulo da história, Deus, mais uma vez, restaurou meu senso de missão.
Sexo. Como o faz com todo homem, Satanás também já me levou a querer iludir-me com o mito da grama mais verde. É claro que a gente tenta cortar a tentação pela raiz, mas a falsa ilusão sempre faz o pecado parecer gostoso. Incomodar-se na cadeira, fazer careta, sentir raiva, indignação, nojo, dó e compaixão pelas vidas torturadas ao extremo pelo sexo errado, cria no leitor a completa repulsa pela sedução proibida. Que Deus abençoe a todas as prostitutas com quem Philip se encontrou em Green Lake em 2004.
Posso ser tentado a pensar que ficar trancafiado trabalhando numa dissertação de mestrado seja algo errado. Mas é de seus escritórios que homens como Yancey e seu mentor Lewis ajudam a equilibrar a fé de milhões de pessoas. É preciso ser um pouco cético para ser um crente equilibrado. O ceticismo moderado é a proteção contra o obscurantismo. Além de vir aprendendo isso com Philip Yancey ao longo dos livros (anos), passei a ver o Céu sob outro prisma, pelo modo com que ele meio biografa C. S. Lewis. “Escreveu a um amigo que ele mais desejava a própria morte nos momentos de alegria, não quando a vida parecesse mais difícil. Para ele, os prazeres deste mundo sempre apontavam para outro mundo, e as coisas boas eram provas indiretas de um bom Deus” (página 98). Através de Lewis, Deus me fez perceber que as alegrias neste mundo enfatizam sobre o quanto devem ser boas as alegrias do porvir. Obrigado Senhor, pelo lado intelectual da fé.
Mas é importante também sair da bolha. A cada vez que leio, num livro de Yancey, seus comentários sobre a “Faculdade Bíblica”, eu o entendo muito bem, pois eu também fui aluno interno de colégios cristãos, por oito anos. Nesta identificação, em muitas leituras, dou risadas sobre cultura à parte que vivemos. Exclusivismo é a tentação farisaica de todo cristão que começa a gostar demais da instituição que o abraça. Se em nosso culto racional não tivermos a humildade intelectual suficiente para ter empatia pelo mundo, nosso Deus não serve para nada.
No semestre passado, os professores Emílio Abdala e Érico Xavier, em suas respectivas matérias, fizeram com que nós alunos refletíssemos sobre o quanto a igreja precisa crescer no cumprimento da missão integral. Como somos pequenos nisso! Como temos que aprender com os de fora! Voltei-me destas classes para a realidade do campo ministerial quebrando a cabeça sobre como eu poderia fazer algo neste sentido. E foi exatamente aí que Deus me fez ler sobre a missão integral que a igreja faz acontecer na África do Sul e perceber que, em matéria de missão integral, o melhor não é seguir métodos elaborados por outros, mas sim aproveitar-se do contexto para servir ao próprio contexto.
Política. Atualmente estou morando numa das regiões mais corruptas do Brasil. A corrupção aqui é grande ao ponto de que pessoas boas fazem coisas absurdas pensando, sinceramente, serem atitudes moralmente normais. Estamos em época de eleições municipais. É quando a corrupção afeta o cidadão da maneira mais intensa possível. Eu estava planejando sobre como instruir as igrejas que lidero sobre a conduta e a ética recomendáveis a um cristão neste contexto. Yancey e Deus me deram de presente o capítulo sete de “Para Que Serve Deus”. Na hora certa. No mesmo dia, pude postar vários textos sobre o cristianismo e a política na internet. No dia seguinte, lá estava eu cumprindo o compromisso de agenda de encontrar-me com pastores evangélicos e políticos regionais, munido da nutrição dos textos do dia anterior.
Deus nos guia a cada dia. De volta da dita reunião, no dia seguinte, diante de tantos poderes maiores que tentam dominar a sociedade, eu me sentia um nada. Já se sentiu assim? Leia o capítulo “Dunas de Areia e Arranha Céus” e encontre-se com os cristãos missionários que mais se sentem assim neste mundo. Mas “Jesus comparou o reino a coisas pequenas – sal na carne, fermento no pão, uma pequena semente na horta – como se quisesse enfatizar que não devemos julgar o impacto do evangelho pelos números” (página 278).
O título da palestra que Yancey fez em agosto de 2003 em Chicago foi: “Por que eu gostaria de ser um alcoólico”. Pensando em tudo que ele disse, eu redigiria um desabafo intitulado: “Como eu gostaria que minha igreja fosse [como] um bar”. Mas oro a Deus para que eu consiga torná-la pelo menos como uma associação do Alcoólicos Anônimos. Embriagados da graça que o evangelho proporciona, podemos exalar ao menos àqueles que podem ser afetados por nossa influência. Que comédia, que tragédia, que capítulo, este!
Para o próximo fim de semana, a temática do meu calendário de pregações indica-me pregar sobre a graça. Ainda estou naquela fase pré-preparatória do sermão, de procurar por idéias. E então começo a semana lendo a palestra que fecha o livro com chave de ouro: “A graça sob o fogo cruzado”. Dizem que a repartição da minha igreja na Índia ameaça ser em breve o ponto mundial mais forte dessa denominação cristã. Deve ser por causa do que Yancey comenta: “Não conheço nenhum laboratório melhor para testar a graça do que este país, a Índia, a mais volátil mistura de castas, línguas, raças e religiões do mundo”. Mas e quanto à igreja? “Sabemos como seria a graça aqui neste lugar?” (pátina 264).
Lendo a biblioteca escrita por Yancey noto que, ao longo destas três décadas, este escritor tem ficado cada vez mais crente. E nesta última quinzena, ele serviu para mostrar-me que Deus se preocupa tanto com a minha vida a ponto de providenciar-me, em cada momento dela, exatamente o que eu preciso. Ele – Deus – me ama! Portanto, eu devo servir para amá-Lo também!
Um abraço,
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