Fim de tarde. O papai chegou
cansado em casa, depois de um exaustivo dia de trabalho. Em sua face, carrega a
estampa do peso dos dias, semanas e meses, que vão acumulando-se sobre os
ombros de um senhor de responsabilidades. Apesar do cansaço que o pai traz
consigo, as crianças maiores anunciam a chegada do “velho” às menores, e estas saem
ao seu encontro, cortejando a chegada. Mas logo, todas percebem que neste dia o
reencontro familiar não será tão festivo. O que terá acontecido lá fora, longe
do lar, com papai?
O patriarca desculpa-se por não
trazer tanta alegria como de costume. Senta-se solene, e pede que todos também
reúnam-se em torno da mesa. E, introdutoriamente, deixa claro que lá fora não
há nada de errado, mas que ali mesmo, dentro de casa, eles precisavam lavar
algumas roupas sujas. Todos entendiam bem esta expressão. Não significava que
iriam fazer o trabalho da máquina lavadora, e nem mesmo queria dizer que havia
alguma indumentária precisando ser higienizada. Não. Mas com certeza, eles
tinham alguns assuntos pendentes a serem resolvidos, em conversa franca e
séria.
Alguns abaixam a cabeça, mas o
homem dirigente daquela unidade familiar exige que todos olhem para ele, olho
no olho. Ele vai dirigir-se a todos e também a cada um. Quer a verdade. Não
quer gracejos, sorrisos, distração, ou qualquer outra coisa que torne a
conversa menos séria do que o devido. Chegará o momento da conversa em que será
exigido que alguém também fale. Pode ser qualquer um, e terá que falar com
propriedade. Nada deverá ser escondido. Não há como esconder-se debaixo da
mesa, correr, ou tornar-se invisível. O jeito é soltar o peso na cadeira,
cruzar bem os pés, respirar fundo, segurar firme na beirada da mesa e agüentar
o tranco.
O deve haver de errado? Quem será
o impostor? Haverá punição? O que mais pode haver de errado em situações assim
não é o problema em si, mas a falta em tratar do mesmo. E o que pode haver de
melhor em ocasiões como esta é o tratamento correto dado ao problema.
Provavelmente, tal busca pela resolução seja dolorido, mas é o “mal
necessário”. O menos pior é ter a hombridade, a coragem, o caráter, de falar
tudo o que é preciso, de forma sincera, educada e aberta, num diálogo que
busque a solução. Depois disso, no final, mesmo que restem conseqüências, todos
conseguem dar um suspiro de alívio e sentir uma doce paz no coração.
É isso que você vai encontrar na
leitura de hoje. Uma reunião ao redor da mesa, pra colocar tudo em prato limpo.
Valdeci
Júnior
Fátima
Silva
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