Por que tenho que esperar tanto,
para que, então, Deus me responda?
Introdução
“E será que, antes que clamem, eu responderei; estando eles
ainda falando, eu os ouvirei” (Isaías 65:24).
Essa passagem bíblica mostra que Deus está atento a cada
necessidade dos Seus filhos, antes mesmo que estes lhe peçam algo. Ela também
indica que Ele está desejoso em abençoar os Seus filhos, e atendê-los. Então,
por que temos que suplicar tanto, por anos, por uma bênção? Deus depende das
nossas orações para operar milagres? Esse questionamento começa com um
clichezinho básico: “por quê?” Nós temos a tendência de ficar querendo saber o
porquê das coisas. Você percebe? É! A gente parece criança:
- “Por que eu não posso chegar perto do fogo? Porque o fogo
queima. E por que o fogo queima? E por que ele é quente?”
- “Tá, ta, ta! Já basta!”
Bastam três “por quês” que uma criança venha a usar indagando-nos
sobre algo... já é o suficiente pra gente não agüentar mais.Entretanto, nós
agimos exatamente assim diante de Deus:
- “Por que o fogo da provação tem que ser quente?”
- “Senhor, se você já sabe que eu preciso, por que tenho que
ficar pedindo?”
Meu caro amigo leitor, o porquê, sinceramente, eu não sei. E
aliás, é exatamente para os “por quês” que são mais “por quês”, que nos nunca
teremos o “porquê”; nunca teremos uma resposta. Todavia, apesar de não trazer
aqui para você um porquê exato, uma resposta, uma razão, posso lhe apresentar
algumas lições, alguns proveitos, que podemos tirar dessa história de termos
que, muitas vezes, ficar pedindo uma coisa várias vezes para que, então, Deus
nos responda.
Tem gente que acha que é porque nós precisamos importunar (“amolar”,
como diz o goiano, ou “abusar”, como diz o nordestino) a Deus até amolecer Seu
coração, para que então, Ele venha a conceder o que estamos pedindo. Nada a
ver! Deus não é uma mãe desesperada que não sabe educar bem os filhos que vai
pondo no mundo. Não! Quando a gente tem que pedir... pedir... e pedir, isso não
tem a ver com Deus, porque Ele pode, e ponto final. Isso tem a ver conosco. Deus
pode, mas ele quer? E se, quando a gente fica pedindo e achando que Ele está
demorando em responder, Ele, na
realidade, já esteja dando-nos um “não”? Você se lembra de Jesus, que não teve
a oração “Pai, se possível, passe de mim este cálice” atendida (Mateus 26:39 e
42; 27)? Lembra-se de Paulo, que recebeu um baita de um “não” quando pediu para
que Deus lhe tirasse o espinho da carne? “A minha graça te basta”, foi a
resposta (2Coríntios 12:7-9). Então, este negócio de termos que ficar pedindo,
para então receber, não tem que ver com Deus; tem que ver com a gente, porque,
provavelmente, Deus esteja querendo que haja um tempo de espera.
O Tempo Que eu Gasto
Acompanhe comigo, algumas lições
que eu tiro com respeito ao tempo que se leva, quando tenho que suplicar tanto
para então receber uma bênção.
1) O desenvolvimento da paciência
O tempo que eu gasto tendo que pedir... pedir... e, de novo,
pedir a Deus, serve para desenvolver em mim a paciência, a mansidão. Sim! Tira
de mim aquela imaturidade egoísta de querer receber tudo aqui e agora para mim,
do jeito que eu quero. E ajuda-me a adquirir paciência, que é uma das maiores
virtudes do cristão, não é verdade? “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão
a terra” (Mateus 5:5). Os que se salvarão precisarão ter desenvolvido, em seu
caráter, a perseverança (Apocalipse 14:12).
2) A noção da realidade cósmica
Também não posso esquecer que nem tudo no mundo e no
Universo está relacionado somente a Deus e a mim. Satanás e seus anjos estão à
solta, aprontando por aí. Lembra-se da história de Jó? Então! Imagine Jó orando,
fazendo seus pedidos a Deus, sem saber nada de tudo aquilo que estava rolando
nos bastidores.
Como Jó nunca pôde ver o que estava acontecendo por trás das
cortinas, provavelmente nunca tenha se apercebido de que aquela suposta demora
de Deus em atendê-lo não tinha nada a ver com ele, nem com o próprio Deus, mas
sim, com Satanás.
Assim, quando, aparentemente, Deus demora em conceder-nos
algo, e temos que ficar pedindo, não podemos nos esquecer de que há um grande
conflito, no qual o Diabo também, muitas vezes, tem parte ativa. Infelizmente,
ele está atuando aqui e ali (1Pedro 5:8-12). Apesar de que não possamos ver, existe
um grande conflito cósmico, entre Cristo e Satanás, acontecendo em nosso mundo.
E precisamos estar conscientes disto.
3) A postura de Deus
A esta altura você pode perguntar-se: “Uê, mas Deus não é
poderoso o suficiente para intervir nas ações do inimigo?”.
Opa! Antes de questionar demais, não deixe de considerar o
fator “conseqüências”. Deus trabalha, também e até certo ponto, com os efeitos
e suas causas. Um exemplo de muitos: pode ser que se eu fizer uma coisa muito
má e depois pedir perdão, se eu estiver realmente arrependido, Deus me perdoe;
mas, mesmo assim, apesar de tirar de mim a culpa, deixará comigo as
conseqüências, para que seja demonstrado quão terrível é o pecado.
Então, quando estou pedindo algo para Deus, tenho que pensar
nisso também: “será que eu não estou tentando reverter uma situação conseqüencial
que Deus queira deixar assim mesmo?” Porque Deus não vai querer ser conivente
com o erro, concorda?
4) A minha obrigação
E quando peço que Deus faça algo que seria de minha
obrigação fazê-lo? Sim, meu querido, Deus espera que você faça sua parte.
Milagre é a atuação divina quando já se esgotaram todos os recursos
humanos. Mas Deus não fará nada que
possamos e tenhamos a obrigação de fazer. Ele não é um Deus de preguiça. Este é
outro “simancol” que preciso tomar quando estou apresentando algum pedido a
Deus.
5) O valor da sintonia
Outra coisa que precisamos é de um tempo para nos
sintonizarmos na compreensão de como Deus provavelmente pensa sobre aquele
assunto que estamos Lhe apresentando. Pode ser que Ele pense muito
diferentemente de nós, sobre determinada necessidade. “Porque os meus pensamentos
não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o
Senhor” (Isaías 55:6-9).
Logo, se é Ele quem nos dará a bênção que esperamos, não é
lógico que, no mínimo, nos entendamos com Ele sobre tal bênção? E como é que se
entende? Conversando. E como posso conversar com Deus? Orando? Talvez não, porque quando oro posso estar
fazendo um monólogo, e não um diálogo.
6) A oportunidade de se relacionar
Aí vem uma parte muito importante. Durante o tempo em que eu
fico esperando por aquela bênção – por dias... semanas... meses.. ou até anos...
– pode ser que Ele me fale alguma coisa sobre aquele assunto através de uma
leitura bíblica, uma pregação, um comentário de outra pessoa, etc. E se isso
acontecer, na realidade, o que estará acontecendo é que Ele estará fazendo
conosco o que mais deseja fazer: relacionar-se. E isso é lindo!
Pense comigo: se, a cada vez que você pedisse algo para
Deus, o pedido fosse imediatamente atendido, você deixaria de ter fé, porque
você teria, nas mãos, uma ferramenta (que seria a oração) de automação do seu
“robô” Deus. Mas Ele não é um robô! Certo? Ele é o nosso Ser Criador e Superior
Máximo, que, ao mesmo tempo, lhe ama e quer relacionar-se com você. Ehhhh, meu
amigo, aquele tempo de espeeeeera, enquanto acontecem os pedidos, é a
oportunidade que eu tenho para ter, com Deus, um diálogo sobre o assunto; o que
será um fator contribuinte para a continuidade e para o fortalecimento do meu
relacionamento com Ele.
O problema é que temos a tendência de não usar o diálogo,
que seria o tempo de oração somado ao tempo de leitura da Bíblia. Tendemos a
usar maiormente apenas o monólogo, que trata-se daquela oração pendurada num
muro de lamentações onde permanecemos apenas pedindo, pedindo, pedindo e
pedindo. Nisto, reside um grande problema. Diante disto é que chego a pensar
que então, como somos mesmo mesquinhos e só procuramos a Deus nos tempos de
dificuldades para resolver os nossos próprios problemas, até que faz-nos bem
Ele não responder tão prontamente. Pois, neste “durante”, estará acontecendo o
relacionamento, que é o que Deus quer tanto ter com a gente. Claro! Porque
depois que recebermos a bênção vamos nos esquecer dele mesmo! Então, se Ele
usa, também, esse método, está é mais do que certo.
7) A provação e a aprovação
O tempo que é gasto enquanto seguimos apresentando um pedido
a Deus, pode também ser usado por Ele para provar-nos e purificar-nos (Jeremias
9:7). E, diante disso tudo, mesmo que o seu tempo de espera faça-lhe sofrer um
pouquinho, quero apresentar-lhe a promessa de que, “Ora, o Deus de toda a
graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido
por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”
(1Pedro 5:10).
Não confunda a provação temida com “apavoração” sofrida,
pois toda provação vencida resulta em aprovação definida.
8) A união dos crentes
Quando, semana após semana, em
cada culto de oração, nos levantamos e pedimos aos outros crentes que orem por
determinado problema que estamos enfrentando, estamos dando a estes irmãos a
oportunidade da comunhão.
Em primeiro lugar, da comunhão
fraternal, no nível horizontal, humano. Porque estamos demonstrando que
confiamos nas pessoas, e porque estamos dando a elas a oportunidade de nos
serem empáticas. É daí que, muitas vezes, surgem relacionamentos e aprimoram-se
interações, através dos diálogos e das prestações de favor que possam surgir.
Mas estimulamos também a comunhão
vertical, com Deus. Ao colocarmos mais um item na agenda de oração dos nossos irmãos,
estamos fazendo com que ele gaste um pouquinho a mais de tempo em oração.
Leia Tiago 5:14-20. É um trecho
que começa assim: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da
igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor.
E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará...”
9) O testemunho ao mundo
E (a passagem supracitada)
termina assim: “...sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado
salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecado”.
Se, a cada vez que um fiel
tivesse uma necessidade, ele clamasse e, em seu recôndito, fosse imediatamente
atendido, correr-se-ia o risco de que ninguém ficasse sabendo. Isto diminuiria
a demonstração do poder de Deus e da interação dEle com aqueles que o buscam. A
experiência citada no item anterior (8) também atinge os descrentes.
Em primeira instância, eles podem
até escarnecer e zombar do justo, que precisa, sofre, pede e sofre o aparente
abandono. Mas isto é só uma questão de tempo. Quando a oração é então atendida,
eles não têm como negar a realidade da história, que, pela mão divina, terminou
em vitória.
10) A honra a e a glória a Deus
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o
bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”
(Romanos 8:28). Diante de tantas evidências de que Deus sempre faz o Seu melhor
para dar aos Seus filhos o melhor que eles possam receber (Mateus 7:7-12), não
há como não louvar o Seu nome (Salmo 19)! “Exultai, ó justos, no Senhor! Aos
retos fica bem louvá-lo” (33:1), porque “grande é o Senhor, e mui digno de ser
louvado; a sua grandeza é inescrutável” (145:3) e a Sua sabedoria é
inquestionável e infinita (Isaías 40:25-31).
Conclusão
A citação bíblica acima cumpre o bom proveito que tiramos do
tempo de espera quando ficamos pedindo uma coisa para Deus, e Ele,
aparentemente, não nos responde. O que pode acontecer? a)Pode desenvolver em
mim a paciência; b) Pode ser que eu perceba que nem tudo está num plano entre
Ele e mim (lembrando da experiência de Jó); c) Quando estou pedindo, preciso
lembrar-me das conseqüências: elas existem, são reais e servem para mostrar a
gravidade do pecado; d)Enquanto estou esperando uma bênção de Deus, eu também
deveria perceber qual é a minha parte de ação na busca de tal bênção. E quando
eu peço que Deus faça algo que eu é quem deveria fazer?; e) O tempo de espera
pode ser o tempo que servirá para sintonizar-me com Deus, uma vez que Seus
pensamentos não são como os nossos; f) Se, a cada vez que pedíssemos uma coisa
para Deus, Ele nos desse, imediata e exatamente, tal coisa, nós perderíamos a
fé; g) E esse tempo pode ser usado por Deus para nos purificar e, justamente,
para aumentar a nossa fé; h) Pode ser
usado também para unir os crentes; i) pode ser usado também, para chamar a
atenção do mundo, para, depois, testemunhar; e, por fim j) atribuir toda honra
e glória a Deus!
O meu desejo para você é que Deus use o seu tempo de espera
de resposta às suas orações a fim de aperfeiçoar, firmar, fortificar e
fundamentar a sua pessoa na grande fé que Ele espera que você tenha nesse
caminho cristão.
Que Deus lhe abençoe e lhe guarde,
@Valdeci_Junior
“Mas os que esperam
no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se
cansam, caminham e não se fatigam”
(Isaías 40:31)