Uma
abordagem sobre o caráter de Deus
Alguns
adventistas que pretendem exaltar o caráter amorável de Deus argumentam que é contrário
a Sua natureza executar juízos ou castigos. No entanto, o apóstolo Paulo diz
claramente na epístola aos Hebreus que como o pai castiga o seu filho que ama,
Deus também castiga aos que ama (Hb 12:4–11 ). Isto significa que Ele castiga.
No entanto, o castigo de Deus é uma conseqüência de nosso pecado. Não se origina
em Deus (Tg 1:13). A necessidade de castigo se origina em nós. Em nosso pecado, em
nossa desobediência, em nossa dificuldade para atender as coisas de Deus.
Deus é amor e
misericórdia (1 Jo 4:8), mas também é justiça (Sl 89:14), e a Sua justiça pode
por vezes manifestar-se em juízo punitivo contra o pecado e a transgressão (Rm
1 e 2). A Bíblia fala a respeito das manifestações de juízo como sendo atos de
Deus, isto é, Deus agindo (Gn. 6:13 e 17; Gn. 19:24; Ex. 12:12 e 29; etc.).
Juízos
no passado
A destruição de
Mídiã e de Jericó são dois bons exemplos dessa realidade. Números 31 descreve a
destruição total dos midianitas que haviam conspirado a fim de seduzir os
israelitas e induzi-los à fornicação e idolatria, no incidente em Baal-Peor
(Num. 25:1-9). O resultado foi uma praga contra os israelitas, que lhes custou
24 mil mortos, além do afastamento de Deus. A hediondez do pecado deles contra
o povo eleito junto com a ameaça de sedução à apostasia sujeitaram os midianitas
ao julgamento divino, de modo que se formou um exercito de 12 mil guerreiros;
mil de cada tribo, sob a liderança de Finéias, neto de Arão (v. 6).
O ataque foi
tão bem-sucedido que, sem uma baixa sequer (v.49), os israelitas derrotaram e
mataram os cinco reis dos midianitas bem como todos os seus soldados. Balaão,
que fora o instigador da apostasia em Baal-Peor, morreu nessa batalha. Todas as
mulheres e as jovens que haviam sido sexualmente ativas foram sentenciadas à
morte (vs. 15-18), depois de Moisés haver ordenado nesse sentido. Somente foram
poupadas as virgens, as quais foram tomadas como servas nas casas dos
israelitas.
Teria sido
moralmente justificada essa ação militar? Os que desejam argumentar que foi uma
atitude cruel e desnecessária devem discutir com o próprio Deus que comandou a
operação. Entretanto, parece que, à luz de todas as circunstâncias e do
contexto da crise, a integridade da nação toda estava em perigo. Se a terrível
ameaça que pesava contra a existência de Israel, como povo da aliança, houvesse
sido tratada de forma menos rigorosa, é muitíssimo duvidoso que os Israelitas
tivessem conseguido conquistar Canaã, ou exigido a devolução da Terra Prometida
como herança sagrada de Deus.
Sobre a
destruição de Jericó, Josué declara: “Tudo quanto na cidade havia destruíram totalmente
a fio de espada, tanto homens como mulheres, tanto meninos como velhos, também
bois, ovelhas e jumentos” (Js 6:21).
“A destruição
total do povo de Jericó não era senão um cumprimento das ordens previamente
dadas por intermédio de Moisés, concernentes aos habitantes de Canaã:
‘Quando... o Senhor Deus as tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente
as destruirás. Das cidades destas nações... nenhuma coisa que tem fôlego
deixarás com vida.’ Deut. 7:2; 20:16. Para muitos estas ordens parecem ser
contrárias ao espírito de amor e misericórdia estipulado em outras partes da
Bíblia; mas eram na verdade os ditames da sabedoria e bondade infinitas. Deus
estava para estabelecer Israel em Canaã, desenvolver entre eles uma nação e
governo que fossem uma manifestação de Seu reino na Terra. Não somente deveriam
ser os herdeiros da verdadeira religião, mas deveriam disseminar seus
princípios por todo o mundo. Os cananeus haviam-se entregado ao mais detestável
e aviltante paganismo; e era necessário que a Terra fosse limpa daquilo que de
maneira tão certa impediria o cumprimento dos graciosos propósitos de Deus. Aos
habitantes de Canaã havia sido concedida ampla oportunidade para o
arrependimento. ... Semelhantes aos homens antediluvianos, os cananeus apenas viviam
para blasfemar o céu e contaminar a Terra. E tanto o amor quanto a justiça
exigiam a imediata execução destes rebeldes a Deus, e adversários do homem.” – Patriarcas
e Profetas, p. 492.
Juízos no
presente
O Espírito de
Profecia declara: “A medida que transcorre o tempo, torna-se mais e mais
evidente que os juízos divinos estão no mundo. Por meio de incêndios,
inundações, e terremotos, Deus está advertindo da Sua próxima vinda os
habitantes deste mundo. Aproxima-se o tempo da grande crise da história do
mundo, em que cada ato do governo de Deus será observado com interesse intenso
e apreensão indizível. Os juízos seguir-se-ão em sucessão rápida: incêndios,
inundações e terremotos, com guerra e efusão de sangue. Oh! Se o mundo ao menos
conhecesse o tempo da Sua visitação!” (Testemunhos Seletos, vol. 3, p. 333).
E acrescenta: “Nosso
Deus é um Deus de misericórdia. Com longanimidade e terna compaixão Ele trata
com o transgressor da Sua lei. E, contudo, nestes nossos dias, quando homens e
mulheres têm tantas oportunidades para se familiarizarem com a divina lei como
revelada no Santo Escrito, O grande Governador do universo não pode olhar com
qualquer satisfação a ímpia cidade, onde reina a violência e o crime. O fim da
tolerância de Deus com os que persistem na desobediência está se aproximando
rapidamente.
Devem os homens ficar
surpreendidos com uma súbita e inesperada mudança no trato do Supremo
Governador com os habitantes do mundo caído? Devem eles ficar surpreendidos
quando a punição segue a transgressão e a crescente criminalidade? Devem-se
surpreender de que Deus leve a destruição e a morte sobre aqueles cujo ganho
ilícito tem sido obtido através do engano e fraude? Muito embora o fato de que
crescente luz com respeito aos reclamos de Deus tem estado a brilhar em seu
caminho, muitos se têm recusado a reconhecer a soberania de Jeová, e têm
escolhido permanecer sob a bandeira negra do originador de toda rebelião contra
o governo do Céu.
A longanimidade de Deus tem sido muito grande
– tão grande que quando consideramos o contínuo insulto a Seus santos
mandamentos, ficamos maravilhados. O Onipotente tem estado a exercer um poder
restringidor sobre Seus próprios atributos. Mas certamente, Ele se levantará
para punir o ímpio, que tão ousadamente tem resistido aos justos reclamos do
Decálogo.
Deus concede ao homem um período de graça; mas
há um ponto além do qual a divina paciência se esgota, e os juízos de Deus se
seguem seguramente. O Senhor trata pacientemente com os homens, e com cidades,
misericordiosamente dando advertências para salvá-los da ira divina; mas virá o
tempo quando não mais se ouvirão súplicas por misericórdia, e o elemento
rebelde que continua a rejeitar a luz da verdade será riscado, em misericórdia
para com eles mesmos, e para com aqueles que de outro modo seriam influenciados
por seu exemplo.
É chegado o tempo em que haverá no mundo
tristeza que nenhum bálsamo humano pode curar. O Espírito de Deus está sendo
retirado. Catástrofes por mar e por terra seguem-se umas às outras em rápida
sucessão. Quão frequentemente ouvimos de terremotos e furacões, de destruição
pelo fogo e inundações, com grande perda de vidas e propriedade! Aparentemente,
essas calamidades são caprichosos desencadeamentos de forças da Natureza,
desorganizadas e desgovernadas, inteiramente fora do controle do homem; mas em
todas elas podem ler-se o propósito de Deus. Elas estão entre os instrumentos
pelos quais Ele busca despertar homens e mulheres para que sintam o perigo.” (Profetas e Reis, pp. 270-272).
O Espírito de
Profecia declara também que os anjos são os mensageiros e emissários de Deus
para executarem Seus juízos. “Já os anjos de Deus estão a trabalhar no juízo, e
o Espírito de Deus está gradualmente abandonando o mundo.... A Seus anjos dá
Ele a incumbência de executar Seus juízos.” (Testemunhos Para Ministros, p.
431).
Juízos
no futuro
As últimas
pragas, como a morte, são atos que, segundo o profeta, são a estranha obra de
Deus (Is 28:21). Atos de juízo. Novamente o juízo é um castigo. Mas não originado
em Deus. É uma conseqüência de nossas faltas. O castigo e o juízo se originam em nós. Se nós não
cometêssemos nenhuma falta, se nunca tivéssemos pecado, Deus também nunca teria
castigado. A morte do pecador não existiria. Mas a realidade é que o pecado
existe em nós, somos desobedientes, somos tardos para aceitar os ensinos de
Deus. Por esta razão, existe o castigo sobre o pecador, existe a morte do
pecador e existem as sete últimas pragas como castigo sobre a sociedade humana.
As sete últimas
pragas são descritas como “a ira de Deus” (Ap. 15:1). Depois de derramar a
terceira praga, diz o anjo de Deus: “Tu és justo, tu que és e que eras, o
Santo, pois; porquanto derramaram sangue de santos e de profetas, também sangue
lhes tem dado a beber; são dignos disso”. Em resposta a estas palavras o
profeta ouve outra voz dizer: “Certamente, ó Senhor Deus, Todo-Poderoso,
verdadeiros e justos são os teus juízos” (Ap. 16: 5-7).
A Morte do
Ímpio
Algumas pessoas
crêem que o pecado é auto destrutivo uma vez que traz em si mesmo conseqüências
e resultados específicos que destroem o pecador. Esse é, geralmente, o caso.
Mas a extinção final do pecado, do pecador e dos poderes do mal é algo
diferente. Neste caso, Deus é descrito como estando direta e pessoalmente envolvido.
Na morte de
Jesus o Pai estava envolvido diretamente também. Jesus bebeu da taça do
julgamento de Deus (Mt 23:39). O Pai não O poupou (Rm. 8:32), mas O feriu (Is 53:4), “fez cair sobre ele a iniqüidade
de nós todos” (Is 53:6), “agradou moêlo”(Is 53:10) e O entregou para morrer
(Rm. 4:25).
Em apoio desse
ponto Ellen White comentou: “A espada da justiça foi desembainhada, e a ira de
Deus contra a iniqüidade recaiu sobre o substituto do homem, Jesus Cristo, o
unigênito do Pai” (SDABC, vol. 5, p. 1.103).
Foi necessário
que Jesus morresse como portador do pecado. Aceitou a justiça e a justa vontade
do Pai para Ele. Na cruz, Ele sofreu até que, voluntariamente, entregou a vida
a Seu Pai. Uma vez que Sua morte era parte do plano da salvação.
Ellen White
disse que “alguns têm visão limitada quanto à expiação. Pensam que Cristo
sofreu apenas pequena parte da pena da Lei de Deus; julgam que, ao passo que a
ira de Deus foi experimentada por Seu querido filho, Este tinha, através de
todos os Seus dolorosos sofrimentos, a demonstração do amor de Seu Pai e de Sua
aceitação; que as portas do sepulcro se achavam iluminadas diante dEle por
vívida esperança, e que Ele tinha a constante evidência de Sua futura glória.
Eis um grande engano. A mais intensa angustia de Cristo era o senso de
desagrado do Pai. Sua agonia mental por causa disso foi tão intensa, que o
homem pode ter apenas uma pálida concepção a esse respeito.” (Testemunhos
para a Igreja, vol. 2, p. 19).
Na verdade
Jesus experimentou o abandono divino como nenhum ser humano jamais experimentou
(Mt. 27:46). Levou sobre Si o pecado do mundo todo e experimentou a segunda
morte (Ap. 20:14).
As palavras de
Ellen White são esclarecedoras: “Cristo sentiu a angústia que há de
experimentar o pecador quando não mais a misericórdia interceder pela raça
culpada. Foi o sentimento do pecado, trazendo a ira divina sobre Ele, como
substituto do homem, que tão amargo tornou o cálice que sorveu, e quebrantou o
coração do Filho de Deus” (O Desejado de
Todas as Nações, p. 561).
No caso dos
ímpios, eles receberão a recompensa de acordo com suas obras (Ap. 20:13). Essa
não será uma dor auto-infligida ou provocada por Satanás. Deus, pessoalmente,
dará a eles o que escolheram como seu destino final: morte eterna.
O fogo de
Apocalipse 21 será literal. É um fogo que consome tudo e todos (Ap 20:9). É um
fogo que purifica a Terra. Não se trata simplesmente da glória de Deus. É um
fogo que se expande, pois abrange toda a Terra. Como se originará esse fogo?
Nós não o sabemos. A Bíblia não explica os detalhes. Geralmente quando
acendemos um fogo temos algo que dá origem a esse fogo. Por exemplo, um
fósforo. O que Deus utilizará para iniciar esse fogo não sabemos. De qualquer
maneira, será um fogo poderoso que destruirá eternamente tudo o que existe
sobre a Terra, incluindo os ímpios (Ml 4:1-3). Na epístola de São Judas 7 lemos
que como exemplo desse fogo destruidor, Deus nos deu o caso da destruição de
Sodoma e Gomorra. Nada restou dessas cidades. Foram totalmente destruídas e
queimadas pelo fogo literal.
Conclusão
O amor de Deus
é santo, não indulgente ou sentimental. O salmista diz: “Justiça e direito são
o fundamento do Teu trono; graça e verdade Te precedem” Sl. 89:14. Amor e
justiça são dois lados da mesma moeda e precisam ser colocado no devido
equilíbrio.
Conquanto a
destruição dos ímpios seja mencionada como o “estranho ato” de Deus (Is.
28:21), a verdadeira justiça requer punição e execução apropriadas. “[Deus]
recompensará cada um segundo as suas obras.” (Rm. 2:6). Tormento infindável não
é justiça. Mas a justiça requer castigo adequado pelos pecados e crimes que o
impenitente tenha cometido. Amor e justiça são dois aspectos do caráter divino.
É o santo amor que finalmente torna o Universo seguro.
Unicamente
Deus, a Fonte de vida, tem o direito e autoridade de privar um ser vivente de
sua vida. Aos que escolheram permanecer rebeldes e impenitentes, Ele terá que
punir de acordo com seus atos e privá-los da própria vida. Isto é simplesmente justiça
e misericórdia.
Érico Tadeu Xavier
Docente da Faculdade de Teologia da Bolívia